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TELEVISÃO
Com supervisão do cineasta Hector Babenco, programa está sendo filmado em presídio fechado em 2002
Série da Globo ativa pavilhão do Carandiru
DANIEL CASTRO
COLUNISTA DA FOLHA
Desativado em 2002, o pavilhão
5 da Casa de Detenção de São
Paulo virou casa cheia de novo.
Nos últimos meses, operários reformaram suas celas. Desde 22 de
janeiro, tem gente circulando pelos corredores e olhando pelas
grades das janelas, que voltaram a
ser varal de roupas. Só falta o cheiro acre, mistura de suor com tempero de comida e maconha, que
impregnava aquele que foi o
maior presídio da América Latina, com 7.800 detentos.
É no pavilhão 5, um dos quatro
que sobraram de pé no complexo
prisional, que está sendo filmada
a série "Carandiru - Outras Histórias", subproduto do bem-sucedido longa-metragem de 2003. A série será apresentada pela Globo
em dez episódios de pouco mais
de meia hora, às sextas, por volta
das 23h, a partir de junho ou julho. Será precedida pela exibição
do longa em "Tela Quente".
Até o início de abril, passarão
diariamente pelo pavilhão 5 centenas de pessoas, entre elenco, figurantes, equipe técnica e de produção -que está "hospedada"
no andar térreo, a poucos metros
do lugar onde havia um campo de
futebol, cenário de muitas brigas
que acabariam em morte.
A série inicialmente seria rodada nos estúdios da Vera Cruz, onde foram filmadas as cenas internas de "Carandiru". Quando o filme foi produzido, a Casa de Detenção ainda estava ativa.
Mas, com o apoio do governo
estadual, optou-se por realizar
"Carandiru - Outras Histórias" no
que sobrou do presídio. "Não tem
estúdio que substitua uma tomada de um preso olhando pela janela com outro pavilhão ao fundo", justifica Fabiano Gulanne,
produtor-executivo da série.
Filmar naquilo que foi o cenário
original da história enriquece a
série, mas tem um inconveniente:
o ruído externo.
Eventualmente, as filmagens de
"Carandiru - Outras Histórias"
são interrompidas por tiros da
mesma Polícia Militar que tanto
assombrava os moradores do
presídio ou por pequenas aeronaves (a Casa de Detenção fica próxima do aeroporto Campo de
Marte, na zona norte).
Na última sexta, quando a produção da série abriu o set de filmagens à imprensa, homens da
tropa de choque faziam treinamento de invasão de presídio em
um outro pavilhão da Casa de Detenção, com tiros e explosões que
chamavam a atenção. Isso interfere no cronograma. "A gente está
compondo com a agenda de todo
mundo", diz Gulanne, sobre os
treinamentos da PM.
A produção recebeu o pavilhão
5 semidestruído. Não havia mais
fiações de luz e as celas e corredores estavam sem portas e grades
de ferro. Havia muito entulho.
Três andares foram recuperados. Um deles abriga o refeitório,
a lavanderia, a maquiagem, celas
que viraram camarins e o figurino, que ocupa todo um longo corredor. Em outro andar, todas as
celas foram reformadas e viraram
cenários das filmagens.
Personagens
"Carandiru - Outras Histórias"
não será uma continuação do filme, segundo o cineasta Hector
Babenco, diretor-geral da série.
Também não é uma filmagem fiel
das histórias relatadas pelo médico Drauzio Varella no livro "Estação Carandiru", de 1999, que originou o longa-metragem.
"As histórias não partem do livro, mas do que sobrou do que foi
escrito para o filme. Nós reinventamos o universo que o Drauzio
Varella foi capaz de captar. Os
personagens são os que sobreviveram no longa", diz Babenco.
O massacre de 111 presos, em
1992, não será reencenado, mas
será lembrado. "Demos aos personagens uma nova vida pregressa ou posterior ao massacre. São
histórias que não querem legitimar nada", diz o cineasta.
Os dez episódios da série narram histórias com começo e fim.
Não há continuação e poucos personagens aparecem em mais de
um capítulo, como o médico
(Luiz Carlos Vasconcelos, que representa Varella, o narrador).
Seu Chico (Milton Gonçalves) e
Majestade (Ailton Graça), que se
destacam no filme, voltam a protagonizar episódios da série. Ezequiel (Lázaro Ramos), que morreu no filme, será "ressuscitado".
O encontro de uma prancha de
surfe que fora dele será o gancho
para contar a trajetória do surfista
que as drogas tragaram em "Ezequiel, O Azarado".
Além deste, os episódios têm títulos (ainda provisórios) de "Love
Story", "Ao Mestre com Carinho", "Além da Imaginação" e
"Indulto de Natal". Para "O Julgamento", a produção reconstruiu a
cozinha do pavilhão 5. Nela, será
mostrado como os presos selavam o destino de quem cometia
crimes contra o código de ética da
cadeia.
Os roteiros de todos os episódios são assinados pelo próprio
Babenco, Fernando Bonassi e
Victor Navas -os mesmos do filme. Drauzio Varella, segundo Babenco, desenvolveu o argumento
de uma história que não está no livro e que será transformada no
episódio "Vila Prudente".
O elenco praticamente repete o
do filme, com algumas ausências
e novos atores. Estarão na série
Maria Luisa Mendonça (Dalva),
Floriano Peixoto (Antonio Carlos), Caio Blat (Deusdete) e Aída
Leiner (Rosirene), além de Xuxa
Lopes e Otávio Augusto, entre
muitos outros.
Rodrigo Santoro (que no longa
interpretou o travesti Lady Di) e
Gero Camilo (Sem Chance) são as
ausências mais notadas. Segundo
Babenco, que em dezembro afirmou que não havia mais história
dos dois a ser contada, o problema foi a agenda de Santoro.
Mas a temática do homossexualismo não ficará fora de "Carandiru - Outras Histórias". Uma das
tramas será a do preso que, após
cumprir a pena, tenta reconstituir
sua vida, à espera do companheiro, um travesti, que continua detido e com quem troca cartas de
amor. Mas não agüenta a distância e arma um plano para voltar à
Casa de Detenção.
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