São Paulo, terça-feira, 28 de fevereiro de 2006

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CONSUMO CULTURAL

Com mais luxo, comodidade e preços altos, espaços conquistam classe A; nova casa será aberta em abril

Teatros de hotéis atraem com regalias

JANAINA FIDALGO
DA REPORTAGEM LOCAL

Teatros do chamado "circuito alternativo" paulistano, localizados nos arredores da rua da Consolação (região central), terão a partir de abril um novo vizinho: o teatro do Novotel Jaraguá.
Ainda não batizado e sem espetáculo de estréia definido, o espaço hospedado no número 71 da rua Martins Fontes se aproxima apenas geograficamente de seus vizinhos -o Espaço dos Satyros, o N.Ex.T e a galeria Oll Dog, entre outros. No que concerne à programação, primará por montagens mais comerciais que tenham no elenco nomes de peso, atores globais.
"Teremos um espaço aberto para o novo, mas vamos dar preferência a atores mais consagrados. Como temos uma platéia grande, com 280 lugares, vamos buscar peças com apelo maior para atrair público", diz o produtor Carlos Mamberti, 38, responsável pela programação do novo teatro.
O público-alvo do futuro espaço são freqüentadores que buscam montagens com figurões -em geral, peças mais convencionais sem inovações ou experimentalismos. Mas não só. Querem também facilidades e comodidades que não são achadas em geral em teatros de rua.

Regalias x preços
A bandeira do conforto é encampada há alguns anos pelos teatros dos hotéis Renaissance e Crowne Plaza e compreende desde itens cada vez mais comuns, como a venda antecipada de ingressos por telefone e estacionamento com serviço de manobrista na porta, até a possibilidade de tomar um drinque ou jantar sem ter colocar os pés fora do hotel. Há até opção para os que pretendem passar a noite no hotel.
A diretora de vendas do Renaissance, Veridiana Pacheco, 31, afirma que "o objetivo é trazer as pessoas da cidade para dentro do hotel. Fazer com que elas conheçam e tenham contato com o restaurante e o bar".
Ter acesso a todos esses mimos tem um preço. No Renaissance, o pacote cultural, que inclui drinque de boas-vindas, ingresso para peça, jantar, hospedagem, café da manhã e estacionamento, sai por R$ 616. O ingresso simples para as peças custa R$ 50 (sextas e domingo) e R$ 60 (sábado). No Crowne Plaza, pacote semelhante custa R$ 280 (para duas pessoas), e a entrada, R$ 30.

Proteção e comodidade
A segurança foi o primeiro item apontado pelo público ouvido pela Folha no teatro do hotel Renaissance. Embora atraídos por dois grandes nomes da televisão, as atrizes Beatriz Segall e Nicette Bruno, em cartaz com o espetáculo "Quarta-Feira, sem Falta, Lá em Casa", os freqüentadores levam em consideração os serviços oferecidos e até fatores estéticos, como a beleza e a organização dos ambientes.
"Aqui é mais seguro, tem estacionamento na porta e você pode aproveitar para comer um negócio", diz o industrial José Camhaji, 65. Sua mulher, a comerciante Elizabete Camhaji, 52, destaca outro ponto e compara: "É bonito e bem mais agradável que a Nestor Pestana [rua onde fica o teatro Cultura Artística]. Às vezes, a gente deixa de sair por medo".
O cirurgião-dentista Aldo Santos, 42, foi assistir ao espetáculo seduzido pelo pacote cultural do hotel. Foi esse o presente oferecido à mulher, a colega de profissão Nelman Santos, 41, para comemorar os 19 anos de casamento.
"Da primeira vez, vim pela peça. Agora, estou vindo pelo pacote cultural. Achei a idéia legal porque é confortável. Você faz tudo sem ter que sair do local: assiste ao espetáculo, janta e dorme."

Perfil do espectador
Não por acaso, grande parte do público que freqüenta esses teatros são pessoas de classe média alta, acima dos 40 anos.
"No Jaraguá, provavelmente receberemos pessoas com poder aquisitivo um pouco maior. O que estou buscando é o freqüentador de teatro tradicional. No caso do Crowne, tenho desde o público altamente requintado, classes A e B, até freqüentadores superjovens, com poder aquisitivo menor. Varia de acordo com a peça", diz Mamberti.
Apesar de afirmar que o público do Renaissance se diferencia mais "pelo comportamento e pela atitude", o produtor Mário Martini, 52, responsável pela programação da sala, reconhece não se tratar de um espectador popular. "Eles têm uma faixa etária superior e um perfil socioeconômico diferenciado, mais selecionado."


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