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CONSUMO CULTURAL
Com mais luxo, comodidade e preços altos, espaços conquistam classe A; nova casa será aberta em abril
Teatros de hotéis atraem com regalias
JANAINA FIDALGO
DA REPORTAGEM LOCAL
Teatros do chamado "circuito
alternativo" paulistano, localizados nos arredores da rua da Consolação (região central), terão a
partir de abril um novo vizinho: o
teatro do Novotel Jaraguá.
Ainda não batizado e sem espetáculo de estréia definido, o espaço hospedado no número 71 da
rua Martins Fontes se aproxima
apenas geograficamente de seus
vizinhos -o Espaço dos Satyros,
o N.Ex.T e a galeria Oll Dog, entre
outros. No que concerne à programação, primará por montagens mais comerciais que tenham
no elenco nomes de peso, atores
globais.
"Teremos um espaço aberto para o novo, mas vamos dar preferência a atores mais consagrados.
Como temos uma platéia grande,
com 280 lugares, vamos buscar
peças com apelo maior para atrair
público", diz o produtor Carlos
Mamberti, 38, responsável pela
programação do novo teatro.
O público-alvo do futuro espaço
são freqüentadores que buscam
montagens com figurões -em
geral, peças mais convencionais
sem inovações ou experimentalismos. Mas não só. Querem também facilidades e comodidades
que não são achadas em geral em
teatros de rua.
Regalias x preços
A bandeira do conforto é encampada há alguns anos pelos
teatros dos hotéis Renaissance e
Crowne Plaza e compreende desde itens cada vez mais comuns,
como a venda antecipada de ingressos por telefone e estacionamento com serviço de manobrista na porta, até a possibilidade de
tomar um drinque ou jantar sem
ter colocar os pés fora do hotel.
Há até opção para os que pretendem passar a noite no hotel.
A diretora de vendas do Renaissance, Veridiana Pacheco, 31, afirma que "o objetivo é trazer as pessoas da cidade para dentro do hotel. Fazer com que elas conheçam
e tenham contato com o restaurante e o bar".
Ter acesso a todos esses mimos
tem um preço. No Renaissance, o
pacote cultural, que inclui drinque de boas-vindas, ingresso para
peça, jantar, hospedagem, café da
manhã e estacionamento, sai por
R$ 616. O ingresso simples para as
peças custa R$ 50 (sextas e domingo) e R$ 60 (sábado). No
Crowne Plaza, pacote semelhante
custa R$ 280 (para duas pessoas),
e a entrada, R$ 30.
Proteção e comodidade
A segurança foi o primeiro item
apontado pelo público ouvido pela Folha no teatro do hotel Renaissance. Embora atraídos por
dois grandes nomes da televisão,
as atrizes Beatriz Segall e Nicette
Bruno, em cartaz com o espetáculo "Quarta-Feira, sem Falta, Lá em
Casa", os freqüentadores levam
em consideração os serviços oferecidos e até fatores estéticos, como a beleza e a organização dos
ambientes.
"Aqui é mais seguro, tem estacionamento na porta e você pode
aproveitar para comer um negócio", diz o industrial José Camhaji, 65. Sua mulher, a comerciante
Elizabete Camhaji, 52, destaca outro ponto e compara: "É bonito e
bem mais agradável que a Nestor
Pestana [rua onde fica o teatro
Cultura Artística]. Às vezes, a gente deixa de sair por medo".
O cirurgião-dentista Aldo Santos, 42, foi assistir ao espetáculo
seduzido pelo pacote cultural do
hotel. Foi esse o presente oferecido à mulher, a colega de profissão
Nelman Santos, 41, para comemorar os 19 anos de casamento.
"Da primeira vez, vim pela peça.
Agora, estou vindo pelo pacote
cultural. Achei a idéia legal porque é confortável. Você faz tudo
sem ter que sair do local: assiste ao
espetáculo, janta e dorme."
Perfil do espectador
Não por acaso, grande parte do
público que freqüenta esses teatros são pessoas de classe média
alta, acima dos 40 anos.
"No Jaraguá, provavelmente receberemos pessoas com poder
aquisitivo um pouco maior. O
que estou buscando é o freqüentador de teatro tradicional. No caso do Crowne, tenho desde o público altamente requintado, classes A e B, até freqüentadores superjovens, com poder aquisitivo
menor. Varia de acordo com a peça", diz Mamberti.
Apesar de afirmar que o público
do Renaissance se diferencia mais
"pelo comportamento e pela atitude", o produtor Mário Martini,
52, responsável pela programação
da sala, reconhece não se tratar de
um espectador popular. "Eles têm
uma faixa etária superior e um
perfil socioeconômico diferenciado, mais selecionado."
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