São Paulo, terça-feira, 28 de fevereiro de 2006

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URBANISMO

Em Guaíra, interior de SP, Parque Ecológico Maracá ganhará jardim de esculturas originalmente previsto por seu autor

Desconhecido, parque de Burle Marx será reformado

Joel Silva/Folha Imagem
Moradores de Guaíra passeiam pelo Parque Ecológico Maracá, de autoria de Roberto Burle Marx


MARIO GIOIA
ENVIADO ESPECIAL A GUAÍRA (SP)

Um verdadeiro oásis, quase desconhecido. O Parque Ecológico Maracá, área de quase 50 hectares situada na pequena Guaíra (466 km de São Paulo), assinado em 1984 pelo paisagista Roberto Burle Marx (1909-1994), vai passar por um grande projeto de reforma, para que suas características originais voltem. Entre elas, um jardim de esculturas nunca implantado, que terá cinco obras escolhidas por meio de concurso público.
Praticamente não-documentado em obras de referência sobre o paisagista, o parque, do autor de projetos-chave do paisagismo brasileiro, como o aterro do Flamengo, no Rio, impressiona. Seu lago, que ocupa cerca de metade da área do parque, tem como contorno uma grande área verde, na qual as características dos trabalhos de Burle Marx transparecem.
Assim, buritis, palmeiras e hibiscos, por exemplo, são agrupados e se apresentam em zonas maciças, com grandes espaços gramados entre eles, de forma a destacar as características das espécies. Caminhos de terra batida percorrem sinuosamente toda a extensão do terreno, facilitando a circulação e interligando as áreas de lazer, que contam com campo de futebol, quadras esportivas e uma pista de atletismo.

Descaracterização
Apesar disso, o local foi muito descaracterizado. Além da ausência do jardim das esculturas e de floreiras que a acompanhariam, um estacionamento cerca a Casa de Cultura do município. A área de eventos do parque, separada por uma pequena rua da área de lazer e esportes, concentra multidões em dias de eventos -como uma festa de peão e um encontro de motociclistas, por exemplo- e ameaça "invadir" a área verde.
"A idéia é retomar as principais características projetadas por Burle Marx. Eventos com grande fluxo de pessoas não se adequam com a proposta original do parque, que já faz parte do patrimônio de Guaíra", afirma o prefeito Sérgio de Mello (PT).
O responsável pelo espaço, Ézio Tostes Júnior, mostra à Folha como tais festas prejudicam o espaço. Um teatro de arena de linhas elegantes e simples teve seu espaço para a platéia diminuído drasticamente.
"Quando há a festa do peão, eles cercam o espaço e chegam a aterrar parte do local do público do teatro, alterando completamente suas linhas originais", diz Tostes, formado em gestão ambiental e que comanda dez pessoas que trabalham na manutenção do local.

Niemeyer
Mello pretende reformar esses espaços e quer contratar o escritório de Oscar Niemeyer para criar um centro cultural no espaço de eventos. "É um sonho nosso e deve ser feito em uma etapa posterior." Estão previstas galerias, cinemateca e a nova sede do museu municipal.
Além dos eventos anuais que ajudam a descaracterizar o conjunto, no lado oposto da Casa de Cultura, uma rua separa os prédios da Prefeitura e da Câmara Municipal das margens do lago. Há iluminação precária em todo o espaço. Apenas uma das quatro ilhas projetadas por Burle Marx foi realizada. Uma delas seria uma espécie de santuário de aves, onde haveria cuidados especiais para a reprodução delas. Mesmo sem a ilha, garças, tuiuiús e paturis são freqüentes no parque.
"Acredito que a retomada do jardim das esculturas seja o primeiro passo de revitalização do parque, ainda mais com o caráter contemporâneo das obras que serão escolhidas", afirma o prefeito.

Importância histórica
O arquiteto e paisagista Haruyoshi Ono, 62, que sucedeu Burle Marx na condução do escritório no bairro de Laranjeiras (zona sul do Rio), confirma a importância do parque ecológico e da retomada de suas linhas originais.
"Até sua morte, Burle Marx assinou cerca de 2.200 projetos. Agora esse passa a ser um dos mais importantes trabalhos no Estado [de São Paulo], principalmente no interior, onde há reduzido número de obras dele", diz ele, que desde 1965 trabalhou com Burle Marx e atualmente, em seu escritório, detém o acervo de projetos do paisagista.
No interior de São Paulo, do mesmo nível, há apenas o Parque da Cidade Roberto Burle Marx (antiga Residência Olívio Gomes), em São José dos Campos; e o Parque Ecológico Monsenhor Emílio José Salim, em Campinas, "que sofre com a conservação", segundo Ono.
Na cidade de São Paulo, os projetos mais conhecidos são o Parque Burle Marx, no Morumbi (zona sul), antiga Residência Francisco Pignatari, e uma parte do parque Ibirapuera, que engloba o jardim de esculturas do MAM (Museu de Arte Moderna) paulistano e a Oca.

O jornalista Mario Gioia viajou a convite da Prefeitura de Guaíra

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