MARCOS STRECKER
DA REPORTAGEM LOCAL

O "Entrelinhas" dedica sua emissão de hoje ao colombiano Gabriel García Márquez. O Prêmio Nobel está sendo lembrado pelos 40 anos de publicação de "Cem Anos de Solidão".
Correto e informativo, o programa destaca a influência de García Márquez, sua intimidade com o jornalismo e o apelo popular de "Cem Anos...". Mas derrapa ao mostrar o realismo mágico como uma panacéia criativa, uma fórmula fantástica de fascinar leitores. E, principalmente, não capta o atual desencanto com o gênero, assim como o esgotamento criativo de García Márquez.
O realismo mágico há muito perdeu seu efeito. O termo está vulgarizado e nove entre dez autores latinos fogem do rótulo como se fosse uma maldição. O lamentável apoio do autor à ditadura cubana também ajudou a deixá-lo no limbo.
Nem o apelo popular de seu nome ou a condescendência reverente com a fase criativa são capazes de reviver a glória perdida da época em que a América Latina estava na moda.
García Márquez voltou a ser assunto após o "perdão" de Mario Vargas Llosa. Eles estavam rompidos desde os anos 70, quando trocaram sopapos no México. Não está claro quem bateu em quem, mas o episódio talvez simbolize verdades ainda ocultas sobre a literatura latino-americana. Isso, infelizmente, não está no programa.