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ENTREVISTA
YAN PASCAL TORTELIER
"Por que não pensar alto e planejar uma turnê mundial?"
Maestro francês, que assume Osesp até 2011, diz que orquestra precisa de mais visibilidade internacional
Fotos Divulgação
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Tortelier rege a Osesp, no ano passado; ele afirma que, ao assumir a orquestra, não quer se envolver com "encargos burocráticos"
JOÃO BATISTA NATALI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O maestro francês Yan Pascal Tortelier, que assume a
Osesp (Sinfônica do Estado)
como regente principal, disse à
Folha que um de seus objetivos
nos próximos dois anos será o
de dar à orquestra mais visibilidade internacional. "Por que
não pensar alto e planejar uma
turnê mundial?", sugere.
O substituto de John Neschling, que foi demitido em janeiro, não revela seu salário:
"Em geral, ganho menos do que
deveria", avalia. A seguir, trechos da entrevista, feita na última quarta, por telefone, de
Manchester (Reino Unido).
FOLHA - O sr. já conheceu a Osesp
por tê-la regido seis vezes, em dois
programas diferentes, em 2008. O
que falta para que se torne uma das
grandes sinfônicas mundiais?
YAN PASCAL TORTELIER - No ano
passado, trabalhei com a orquestra um repertório francês,
do qual me sinto bastante próximo. Mas preciso ainda trabalhar outros repertórios, como
Elgar e Rachmaninov, que estarão no primeiro programa desta temporada. E preciso trabalhar peças do repertório brasileiro, o que não me constrange.
A Osesp já possui reputação internacional razoável. Creio que
ela precisa de mais visibilidade
internacional. Essa visibilidade
será facilitada pelo fato de a orquestra merecer comentários
positivos. Mesmo na revista
"Gramophone", que a situou
entre aquelas cujo trabalho
merece ser acompanhado.
FOLHA - A Osesp gravou 32 CDs e
fez mais de uma turnê pela Europa e
pelos EUA. Isso já não é visibilidade?
TORTELIER - Por enquanto, é difícil para mim especificar um
plano de trabalho, já que preciso ainda conversar com a direção da orquestra em SP, a partir
da próxima semana. Mas acredito que o simples fato de eu assumir meu posto na Osesp dará
a ela um ângulo diferente de exposição. Desde janeiro, recebi
cumprimentos inúmeros no
meio musical americano e europeu por ter aceito dirigir a orquestra. Eu e ela poderemos, de
certo modo, nos dar mutuamente visibilidade. Por que não
pensar alto e planejar uma turnê mundial? Quanto às gravações, também tenho meus contatos para permitir aos músicos
continuarem a ser mais conhecidos internacionalmente.
FOLHA - O sr. mencionou o repertório brasileiro, que compreensivelmente não lhe é familiar. Como o sr.
fará para programá-lo e regê-lo?
TORTELIER - Eu não estou entrando a bordo da orquestra de
modo improvisado. Mas é algo
novo, que há poucas semanas
ainda me era impensável. As
coisas são ainda muito novas
para mim. Preciso conversar
com a direção da Osesp, discutir os desafios, inclusive quanto
ao repertório brasileiro. O que
posso dizer humildemente é
que estou estudando esse repertório e espero que me seja
dado o tempo para tomar decisões com relação a ele.
FOLHA - Além das oito semanas
que o sr. ficará em São Paulo nessa
próxima temporada, há de sua parte o plano de permanecer por aqui
mais tempo para cuidar dos problemas de uma centena de músicos?
TORTELIER - A Osesp é uma
grande orquestra. Quando a regi no ano passado, tinha à disposição 14 primeiros-violinos.
Nem todas as grandes orquestras europeias conseguem reunir um naipe tão numeroso. Sobre as minhas atribuições, não
serei um simples "regente convidado". Serei bem mais do que
isso. Serei o regente principal,
pela experiência que tenho.
Mas não me envolverei nos
problemas cotidianos. Meu desejo é reger, sem os encargos
administrativos e burocráticos.
FOLHA - A Osesp se diferenciou das
demais orquestras brasileiras pela
ousadia do repertório. O sr. pretende manter essa especificidade?
TORTELIER - Não fui ainda integralmente informado sobre os
padrões das programações das
temporadas precedentes. Mas,
pessoalmente, apesar de minha
formação centrada na música
francesa ou na excelência do
romantismo alemão, não teria
dificuldades em manter essa
"ousadia", com a programação
de compositores do século 20,
como Witold Lutoslawski, Paul
Hindemith ou Zoltán Kodály,
que eu gravei exaustivamente
com a Filarmônica da BBC. São
nomes importantes. Precisamos fazer peças menos conhecidas de Stravinsky e Chostakovich. Não que eu seja um fanático do repertório esotérico. Bem
pelo contrário, preciso consumir meu pão com manteiga.
FOLHA - O sr. manterá a atual programação de gravações?
TORTELIER - Peço que a pergunta
seja refeita dentro de duas ou
três semanas, quando já tiver
discutido o assunto em SP. Claro que gravaremos, em razão da
visibilidade que mencionei.
FOLHA - Quando é que o sr. foi convidado para assumir a Osesp?
TORTELIER - No ano passado, a
orquestra me convidou para reger dois programas em 2010.
Mas, para minha surpresa, nos
primeiros dias de janeiro, meu
empresário procurou-me e relatou a intenção da Osesp de
me ter como regente principal.
FOLHA - Seu predecessor, o maestro John Neschling, foi criticado por
receber um salário mensal de R$ 100
mil. O sr. acredita que essa quantia é
exagerada?
TORTELIER - [gargalhada] É uma
pergunta bastante engraçada.
É claro que não tenho comentários sobre o salário do maestro, do mesmo modo como não
permitiria comentários sobre o
meu. O que posso afirmar com
tranquilidade é que não sou um
músico movido a dinheiro. Em
geral, ganho menos do que deveria ganhar por minha experiência em meus já completados 61 anos. E sempre ganhei
bem menos que os maestros de
orquestras americanas.
FOLHA - Afora música clássica, de
que tipo de música gosta?
TORTELIER - Eu não tenho muito
tempo para ouvir música e gosto de ir ao cinema e ao teatro.
Mas, quando saio do repertório
clássico, eu gosto de jazz. Nem
o tão moderno, nem o tão antigo. Algo próximo do swing.
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