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análise
Romance tem trama mais rica e suja que filme
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
O humor negro cumpre diversas funções
em "Sua Resposta
Vale um Bilhão", de Vikas
Swarup. É o que permite, por
exemplo, transitar pelo cenário de extrema pobreza
dos meninos de rua indianos
- em Déli, Mumbai (antiga
Bombaim) e Agra - sem perder a batalha para o sentimentalismo.
A autoironia da narração
em primeira pessoa, com ótimo uso de frases curtas e
imagens recorrentes, possibilita também que doses pesadas de crítica sociopolítica
sejam feitas de maneira mais
efetiva do que se o texto discursasse, com ar professoral,
contra as injustiças do país.
O órfão Ram Mohammad
Thomas -cujo nome, sozinho, já embute o colorido
anedótico do romance, ao
fundir raízes hinduístas, muçulmanas e cristãs- aprende
a se fazer de bobo, o que ajuda na sobrevivência, mas às
vezes é mesmo ingênuo, o
que o atira em dificuldades.
A alternância entre esperteza e fragilidade, o olhar
agudo e a verve inquieta do
protagonista criam com o
leitor a cumplicidade necessária para que se associe esse
contumaz contador de histórias à Sherazade de "As Mil e
Uma Noites" e também ao
personagem manipulador de
Kevin Spacey em "Os Suspeitos" (1995).
Todos eles envolvem seus
interlocutores porque precisam sobreviver, mas Ram
Mohammad Thomas o faz
também porque precisa falar. Ao torná-lo porta-voz de
uma geração de indianos excluídos, em trama muito
mais rica, suja e engenhosa
do que sugere o filme "Quem
Quer Ser um Milionário?",
Vikas Swarup o transforma
em um daqueles personagens que não queremos
abandonar ao final do livro.
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