São Paulo, sábado, 28 de fevereiro de 2009

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Réplica

Crítica foi "desrespeitosa e excludente"

RINALDO DE FERNANDES
ESPECIAL PARA A FOLHA

Achei extremamente parcial, ligeira, a resenha do professor Alcir Pécora sobre o meu romance "Rita no Pomar", publicada na Ilustrada no último sábado. Nela parece ficar bem nítido o território demarcado: de um lado, eu, romancista, e o crítico (posfaciador do romance) Silviano Santiago como dois despreparados, que pouco ou nada entendemos do que fazemos; do outro, o professor Pécora como sendo o máximo, o supra-sumo da sabedoria literária.
Sempre desconfiei desse tipo de postura intelectual. É prepotente, desrespeitosa e excludente. Há algumas questões absolutamente imprecisas no texto crítico do professor Pécora: 1. Se o livro só é um romance porque há uma "vocação complacente do gênero", pois nele falta, nos capítulos mais curtos, a "notável expansão diagramática" própria do gênero, é de perguntar: e como ficam aqueles capítulos mínimos, de poucas frases, de "Memórias Póstumas de Brás Cubas"? 2. O crítico afirma que a medula do romance são 22 capítulos -então leu mal, ao que tudo indica, os 12 restantes (anotações na agenda da protagonista e contos autobiográficos), todos também nucleares, montados estruturalmente de forma a reverberar a dimensão psicológica da personagem Rita.
3. Num purismo gramatical fora de moda, acusa, na fala da personagem, um erro de regência, quando houve uma liberdade poética visível, pensada. 4. O mais grave: desmerece, com arrogância indevida e destemperada, o professor Silviano Santiago ao chamar seu texto do livro de "inventivo posfácio" -isso porque a leitura do professor Silviano é diferente (e, diga-se, muito mais pertinente, porque o dado econômico, ou de sobrevivência, da personagem em fuga para a praia nordestina do Pomar não pode ser desprezado, absolutamente, no romance).
Enfim, uma narrativa tão sem "consistência", como dispara o crítico, não podia ter recebido resenha mais superficial -numa palavra, fraca e igualmente inconsistente. Pécora, sendo da escola literária que é, deveria ter aprendido com os mestres Candido e Bosi os meandros da verdadeira e respeitosa crítica.

RINALDO DE FERNANDES , escritor, crítico e professor de literatura na Universidade Federal da Paraíba, é autor de "Rita no Pomar" (7Letras)


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