São Paulo, domingo, 28 de fevereiro de 2010

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Mônica Bergamo

bergamo@folhasp.com.br

Profissão: Ex BBB

Angélica, a primeira lésbica a participar do reality show "Big Brother Brasil", se equilibra entre o sonho de se tornar estrela e as agruras da vida real

Fotos Luciana Whitaker/Folha Imagem
A ex-BBB Angélica em sessão de maquiagem, em um estúdio da TV Globo, no Rio

"Já me ligaram querendo pagar cachê para você participar de uma festa em Uberaba (MG) e de uma outra em BH [Belo Horizonte]. E a "Playboy" também ligou", diz Fabrícia Ramos, 25, para Ana Angélica Martins, 24, a jornalista mineira, homossexual assumida, que foi eliminada do programa "Big Brother Brasil" nesta semana. Em menos de 15 horas fora do reality show, da qual foi expulsa depois de receber mais de 30 milhões de votos que a eliminaram do programa, Angélica tem um sério problema para resolver: precisa definir, com Fabrícia, o valor do cachê que cobrará a partir de agora para aparecer em eventos. A amiga chuta. E alto: "Não faço ideia de quanto seja. Me falaram que ex-BBBs já cobraram R$ 15 mil".

 


Fabrícia, uma jornalista que estava desempregada e que agora virou "empresária e assessora" da ex-BBB, mostra a ela todos os posts em que é citada no Twitter, em um laptop, no quarto de um hotel na Barra da Tijuca, no Rio, onde foi instalada pela Globo. As duas, que se chamam de "fumo" (uma gíria que significa "fumo goiano, de má qualidade", explicam), se conheceram em Uberlândia há cinco anos e ficaram "amigas de boteco". "Tem muita mulher linda deixando comentário nas minhas comunidades, no blog que meu pai fez", diz Morango, apelido de Angélica.

 


Assim que saiu do programa, a mineira deu entrevista a Pedro Bial, apresentador do "BBB". No dia seguinte, já estava de novo no Projac, o complexo de estúdios da TV Globo, para uma maratona de reuniões e participações especiais nas atrações globais. "Eu estava torcendo por você", diz o cabeleireiro Paulinho, que faz cachos nos cabelos de Angélica com o aparelho "baby-liss" e depois arremata com um pouco de laquê. Na sequência, posiciona seu celular Blackberry e tira um retrato de rostinho colado com a nova celebridade.

 


Maquiada, segue num carrinho elétrico da Globo para os auditórios da emissora. No programa "De Olho no BBB", fala de seu suposto flerte com outra "BBB", a Cacau. "É só amizade mesmo. Ela é linda, uma bonequinha." Em outro programa, "A Eliminação", repete as mesmas histórias. Segue para uma reunião de duas horas com a produção do programa do Faustão. Dois dias depois, faria um ensaio sensual para o site Paparazzo, também da Globo -a maioria das BBBs expulsas do reality posam para o veículo. Morango é a personagem da semana. Na próxima, outro participante do "BBB" será eliminado. E tomará o seu lugar.

 


Mas ela sonha. Alto. "Não quero ser apenas uma ex-BBB." Angélica quer ser artista. Fã de Paulo Coelho, pretende escrever um livro de contos. "Quero mostrar meus talentos e ganhar dinheiro." A primeira coisa que deve fazer é posar nua. "Quero comprar um apartamento e pagar as 45 prestações do meu Palio 2009."

 


Além de sonhar, Angélica tenta administrar a realidade depois da superexposição. Na noite de terça, quando foi eliminada do programa, conversou com a avó Felicidade, que soube que a neta era gay pela televisão.

 


Barrada nos estúdios da TV Globo no dia do paredão que eliminou a BBB, Aída, mãe de Angélica, com quem está brigada, declarou que o pai dela era "maníaco sexual" e "tomava banho" com a filha, que, por sua vez, "desenhava os pelos pubianos do pai" na escola. "Quem tentou me assediar foi meu padrasto", diz a jornalista. "Não falo com a minha mãe porque, quando eu e meu irmão éramos crianças, ela se separou do meu pai e fugiu com a gente. Ficamos dois anos sem ver o meu pai", diz. E chora.

 


Angélica tem uma namorada em Uberlândia, onde morava. "Ou tinha, não sei", suspeita, já que a moça não atende a seus telefonemas. A BBB diz que, agora fora do reality, o lugar que mais tem vontade de visitar é um bar gay em Belo Horizonte, o The L. "Lá, tem muita mulher bonita. Quero dar uns beijos na boca." Mas ela não pretende morar em Minas. Quer se instalar no Rio de Janeiro.
São 20h30 da quarta-feira quando deixa o Projac, depois da série de compromissos com a Globo. Na porta, dez fãs gritam seu apelido: "Morango! Morango!". Dois deles são do movimento LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais).

 


"Ela não mostrou o estereótipo homossexual, foi linda lá dentro", diz Pedro, 16. A jornalista tira fotos com todos, dá beijinho e até um selinho em uma das garotas mais atrevidas. Pede licença para ir embora. Entra no carro e faz um coração com a mão.

 


"Mostrei meu bom humor, minha feminilidade no programa", diz. "Nas novelas, os homens gays são falsos, manipuladores ou divertidos. E as lésbicas ou morrem explodidas, ou é aquela confusão da família, de tentar "converter" para virar heterossexual. Nunca tem final feliz. Na vida real, não é assim."

 


Quando chega ao hotel, três meninas a esperam. Uma delas mostra a tatuagem de um moranguinho que fez em homenagem à mineira. "Ela não é qualquer morango, ela é A Morango. Ela é linda demais", diz Gabriela, 16, apelido Caramelo. Angélica tira a sandália de salto para ficar da altura das meninas nas fotos. Distribui beijinhos. E dá seu primeiro autógrafo. O primeiro de muitos? Quem sabe... Das mais de cem pessoas que participaram dos dez "BBBs" da Globo, só Grazi Massafera, hoje na novela das sete, virou estrela nacional.

Reportagem LÍGIA MESQUITA



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