São Paulo, segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

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O drama de Colón

Crise entre sindicatos coloca em risco temporada do Teatro Colón, uma das casas mais importantes da América Latina

LUCAS FERRAZ
DE BUENOS AIRES

Se é verdade que o Teatro Colón é um retrato da opulência política e cultural da Argentina de um século atrás, hoje talvez ele seja a melhor metáfora do país.
Envolvido em uma briga trabalhista que o persegue há mais de uma década, um dos teatros mais importantes da América Latina corre o risco de ter a temporada deste ano cancelada. De novo.
Assim como acontece com a Argentina, que se diz ingovernável sem um acordo com e entre seus mais de 3.000 sindicatos, o Colón balança com a crise aberta com duas organizações sindicais, que ainda brigam entre si.
A reclamação encampada pelos 925 funcionários, entre músicos, artistas, técnicos de cenografia e administração, é por um reajuste salarial de 40%, além de melhoria das condições de trabalho.
A briga, desta vez, chegou aos tribunais. O governo da cidade de Buenos Aires, responsável por manter o local, ajuizou uma ação avaliada em mais de R$ 23 milhões contra oito trabalhadores do teatro pelos danos já causados e pelos prováveis prejuízos que ainda poderão atingi-lo neste ano.
No meio da confusão, o Sutecba (Sindicato Único dos Trabalhadores da Cidade de Buenos Aires), que representa a maior parte dos trabalhadores, fechou acordo com a direção do Colón, aceitando reajuste de 10%. Há promessa de aumentos graduais.
A ATE (Associação dos Trabalhadores do Estado), outro grupo envolvido no caso, reclama não ter participado do acordo, que considera ilegal. Sete dos oito trabalhadores ajuizados na ação são desse sindicato. "Só aceitamos negociar se a ação for suspensa", diz Máximo Parpagnoli, um dos implicados.
"Eles [ATE] querem prestígio", cobra Domingo Rocchio, do sindicato rival. "Temos de ter responsabilidade para mantê-lo aberto."
A atual crise, uma de tantas da história do teatro, que é ponto turístico em Buenos Aires, eclodiu no início do ano, mas sua origem remonta a maio de 2010, quando o Colón reabriu após passar quatro anos em reforma.
A reinauguração do teatro marcou as comemorações do bicentenário da Argentina.
Mas sua reestreia acabou ofuscada pela briga política entre o prefeito da capital, Mauricio Macri, e a presidente Cristina Kirchner, que não foi à festa por causa da disputa com o opositor, pré-candidato à Presidência nas eleições deste ano. A mesma crise que agora ameaça a temporada de 2011 cancelou, em 2010, 25 dos 186 espetáculos.


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