São Paulo, quarta-feira, 28 de março de 2001

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Depois de dois anos fora do mercado, livro de 79 ganha tradução revista e capa nova, com a foto da protagonista da história

"Christiane F.", 22 anos, reabilitada

Divulgação
A atriz Natja Brunkhorst, que faz o papel de Christiane F. no filme baseado no livro, usa droga


CYNARA MENEZES
ESPECIAL PARA A FOLHA

No livro, Christiane F. tinha 13 anos, e quem o leu tinha pouco mais do que isso, em 1982, quando a obra foi lançada pela primeira vez no Brasil e se tornou um best seller instantâneo.
Ao lado de "Feliz Ano Velho", de Marcelo Rubens Paiva, e "A Queda para o Alto", de Sandra Mara Herzer, se tornaria também um dos livros emblemáticos do início da década de 80 em termos de literatura para jovens.
Agora, depois de dois anos fora do mercado, "Eu, Christiane F., 13 Anos, Drogada e Prostituída" está de volta, com tradução revista e capa nova, seu grande diferencial da primeira edição até esta, a 37ª: nela, aparece a foto da menina, um rosto que havia permanecido em segredo no seu lançamento na Alemanha, há 22 anos.
A princípio, Christiane, a protagonista da história, se manteve no anonimato. Buscava encobrir e preservar os familiares de mais dissabores além dos que sua própria vida nas ruas lhes havia causado.

Processo
Quando os jornalistas que tomaram seu depoimento a encontraram, Christiane estava sendo processada pelo Estado alemão por uso e porte de drogas, e da mais pesada delas, a heroína.
O livro começa justamente com o texto do processo, em que "Christiane Vera F., colegial, menor não responsável", é acusada de "ter comprado em Berlim, a partir do dia 20 de maio de 1976 e de maneira contínua, substâncias e misturas proibidas pela lei sobre estupefacientes" e de, durante o inverno do mesmo ano, ter se entregado "à prostituição, a fim de juntar o dinheiro necessário para comprar a droga".
O grande choque que o depoimento causou estava na idade com que Christiane passou a se injetar heroína e a se prostituir para conseguir a droga, mas também em sua condição de garota normal, com pai e mãe, que fazia seus deveres da escola e brincava de bicicleta.
Até que o pai ficou desempregado, começou o inferno das surras por qualquer razão e Christiane achou que estava melhor na rua do que em casa.
Tinha 10 anos quando começou a roubar pequenas coisas nos supermercados. Aos 12, já bebia com os amigos e experimentou haxixe, LSD e comprimidos -como o muito consumido, nos 80, Mandrix- pela primeira vez. Então, uma noite, aconteceu: Christiane provou heroína.
"Nunca me sentira tão bem. Estávamos no dia 18 de abril de 1976; faltava um mês para meus 14 anos. Nunca esquecerei essa data", conta.

Prostituição
No início, a menina apenas aspirava a droga. Logo começaria a se injetar, a se prostituir e a perder os amigos, mortos por overdose ou presos.
O livro intercala o depoimento de Christiane com o de sua mãe, de policiais que tiveram contato com a menina e de psicólogos. Como um personagem sempre presente, a Estação Zôo de Berlim, lugar frequentado pelos jovens viciados que aparece no título original.
Quando teve sua história publicada, Christiane não tinha rosto e tinha largado as drogas. Depois, em 1982, voltaria para a heroína, e, para ganhar dinheiro, mostraria a cara em programas de TV (veja abaixo entrevista com o jornalista que colheu seu depoimento). No final do mesmo ano, revelaria também sua identidade, ao gravar um disco de música punk: o F. do sobrenome que intrigou toda uma geração significava Felscherinow.


Livro: Eu, Christiane F., 13 Anos, Drogada e Prostituída
Autores: Kai Hermann e Horst Rieck
Tradutora: Maria Celeste Marcondes
Editora: Bertrand Brasil
Quanto: a definir (320 págs.)




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