|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TELEVISÃO
Emissoras exibirão documentários, reportagens, debates e até show para recordar o regime instalado em 1964
Programas relembram os anos de chumbo
DA REPORTAGEM LOCAL
Serão poucas, mas boas as opções de programas sobre os 40
anos do golpe militar no Brasil. A
partir de hoje, a televisão relembra o 31 de março de 1964 com
uma série de documentários, reportagens, debates e até show.
A programação mais voltada ao
assunto será a da TV Cultura.
Com uma semana inteira temática, torna-se a principal alternativa
entre as redes abertas.
Os destaques são os documentários "AI-5, o Dia que Não Existiu", do jornalista Paulo Markun,
e "Marighella - Retrato Falado",
do cineasta Silvio Tendler.
O primeiro reconstitui com atores uma sessão histórica da Câmara, de 12 de dezembro de 1968,
na qual parlamentares votaram
contra a licença para cassar o então deputado Márcio Moreira Alves -que havia proferido discurso pregando boicote aos militares.
"AI-5" reproduz célebre discurso de Mário Covas (1930-2001),
que gravou depoimento para o
documentário meses antes de
morrer. Outro ponto forte são áudios com declarações marcantes,
como a do presidente Costa e Silva ao tornar público, em 68, o Ato
Institucional nº 5, dando início à
fase mais violenta da repressão.
O longa sobre Marighella (1911-1969) explora depoimentos de
pessoas próximas ao guerrilheiro,
que lutou contra as ditaduras de
Vargas e militar. As revelações
mais interessantes ficam por conta de sua mulher, Clara Scharf.
Seus relatos misturam forte conteúdo histórico com ar pitoresco.
Ela conta, por exemplo, que na
primeira vez que foi preso, nos
anos 30, o marido adquiriu problema na visão por ter sido torturado com luz nos olhos. Teve de
usar óculos, o que detestava. Certo dia, comprou um livro dos
EUA com dicas de como "se livrar" dos óculos. Devorou a leitura e disse: "É a primeira vez que
concordo com um americano".
A maratona da Cultura começa
nesta noite, às 23h30, com uma
seleção de curtas sobre o período,
no "Zoom" (veja quadro ao lado).
Amanhã, o "Roda Viva" entrevista o dramaturgo José Celso
Martinez Corrêa sobre o período.
Na mesma linha seguirá o "Observatório da Imprensa" (da TVE
do Rio), terça, com depoimento
do cineasta Nelson Pereira dos
Santos, entre outros. Além disso,
a educativa produz o show "Pra
Não Dizer que Eu Não Falei das
Flores", no Rio, na quarta. Estarão
no palco, entre outros, Dudu Nobre, Chico César e Biquíni Cavadão. Vai ao ar em 4 de abril.
Uma visão mineira virá com o
documentário "Crônica de um
Golpe", da Rede Minas. Didático,
traz uma cronologia do regime,
com entrevistas de personagens
perseguidos, como Fernando Gabeira, Frei Beto, Miguel Arraes e
Ignácio de Loyola Brandão.
Até o "Cartão Verde" entra no
pacote, com a ditadura nos esportes. A programação termina com
o "Vitrine", no qual Marcelo Tas
faz uma análise da propaganda
institucional do governo militar.
A Globo não investiu na data.
Fará só cobertura dos eventos relacionados a ela. Haverá uma série de reportagens na Globo
News. A primeira vai ao ar na
quarta, e a última, em 21 de abril,
20º aniversário do comício pelas
Diretas na Candelária. O "Jornal
da Band" trata do assunto de
amanhã a sexta, com entrevistas
de Delfim Neto, Gabeira e dos
"Josés" Serra, Genoino e Dirceu.
(LAURA MATTOS)
Colaborou Marcio Pinheiro,
free-lance para a Folha
Texto Anterior: Periferia na TV: Racionais, enfim, se rendem à Globo Próximo Texto: Filme traz à luz o lado mais negro da ditadura Índice
|