São Paulo, domingo, 28 de março de 2004

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TELEVISÃO

Emissoras exibirão documentários, reportagens, debates e até show para recordar o regime instalado em 1964

Programas relembram os anos de chumbo

DA REPORTAGEM LOCAL

Serão poucas, mas boas as opções de programas sobre os 40 anos do golpe militar no Brasil. A partir de hoje, a televisão relembra o 31 de março de 1964 com uma série de documentários, reportagens, debates e até show.
A programação mais voltada ao assunto será a da TV Cultura. Com uma semana inteira temática, torna-se a principal alternativa entre as redes abertas.
Os destaques são os documentários "AI-5, o Dia que Não Existiu", do jornalista Paulo Markun, e "Marighella - Retrato Falado", do cineasta Silvio Tendler.
O primeiro reconstitui com atores uma sessão histórica da Câmara, de 12 de dezembro de 1968, na qual parlamentares votaram contra a licença para cassar o então deputado Márcio Moreira Alves -que havia proferido discurso pregando boicote aos militares.
"AI-5" reproduz célebre discurso de Mário Covas (1930-2001), que gravou depoimento para o documentário meses antes de morrer. Outro ponto forte são áudios com declarações marcantes, como a do presidente Costa e Silva ao tornar público, em 68, o Ato Institucional nº 5, dando início à fase mais violenta da repressão.
O longa sobre Marighella (1911-1969) explora depoimentos de pessoas próximas ao guerrilheiro, que lutou contra as ditaduras de Vargas e militar. As revelações mais interessantes ficam por conta de sua mulher, Clara Scharf. Seus relatos misturam forte conteúdo histórico com ar pitoresco.
Ela conta, por exemplo, que na primeira vez que foi preso, nos anos 30, o marido adquiriu problema na visão por ter sido torturado com luz nos olhos. Teve de usar óculos, o que detestava. Certo dia, comprou um livro dos EUA com dicas de como "se livrar" dos óculos. Devorou a leitura e disse: "É a primeira vez que concordo com um americano".
A maratona da Cultura começa nesta noite, às 23h30, com uma seleção de curtas sobre o período, no "Zoom" (veja quadro ao lado).
Amanhã, o "Roda Viva" entrevista o dramaturgo José Celso Martinez Corrêa sobre o período. Na mesma linha seguirá o "Observatório da Imprensa" (da TVE do Rio), terça, com depoimento do cineasta Nelson Pereira dos Santos, entre outros. Além disso, a educativa produz o show "Pra Não Dizer que Eu Não Falei das Flores", no Rio, na quarta. Estarão no palco, entre outros, Dudu Nobre, Chico César e Biquíni Cavadão. Vai ao ar em 4 de abril.
Uma visão mineira virá com o documentário "Crônica de um Golpe", da Rede Minas. Didático, traz uma cronologia do regime, com entrevistas de personagens perseguidos, como Fernando Gabeira, Frei Beto, Miguel Arraes e Ignácio de Loyola Brandão.
Até o "Cartão Verde" entra no pacote, com a ditadura nos esportes. A programação termina com o "Vitrine", no qual Marcelo Tas faz uma análise da propaganda institucional do governo militar.
A Globo não investiu na data. Fará só cobertura dos eventos relacionados a ela. Haverá uma série de reportagens na Globo News. A primeira vai ao ar na quarta, e a última, em 21 de abril, 20º aniversário do comício pelas Diretas na Candelária. O "Jornal da Band" trata do assunto de amanhã a sexta, com entrevistas de Delfim Neto, Gabeira e dos "Josés" Serra, Genoino e Dirceu.
(LAURA MATTOS)


Colaborou Marcio Pinheiro, free-lance para a Folha


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