São Paulo, sexta-feira, 28 de março de 2008

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Última Moda - Alcino Leite Neto

Moda dadá

Dupla de estilistas britânicos renova design de acessórios com séries inspiradas nas vanguardas artísticas

Isto não é uma bolsa. Ou talvez seja, mesmo tendo salto e sola. Acessórios óbvios não são mesmo a especialidade da dupla de designers britânicos Azumi Yamashita e David Percival. Na A=N=D, grife que criaram em 1999, quanto mais absurdos os projetos, melhor.
Azumi e David se conheceram em 1995, quando estudavam moda na renomada Central Saint Martins, em Londres.
Durante o curso, participaram de um grupo onde atuavam artistas remanescentes do movimento de vanguarda Fluxus.
Depois dessa experiência, a dupla começou a pesquisar os movimentos dadaísta e surrealista, que serviram de inspiração principal para as coleções da grife. "Nós usamos conceitos propostos por movimentos de vanguarda para retirar os objetos de seus contextos mais óbvios, criando novas possibilidades de uso", afirma a dupla de designers.
Os objetos "mutantes" da A=N=D são chamados por eles de "coisas para vestir". São cachecóis com pontas de cabelo artificial, colares feitos com armações de óculos e mangas que viram gravatas, entre outras experiências fashion.
Mas uma das invenções mais interessantes dos estilistas é uma linha de acessórios autocolantes: são relógios, cintos e gargantilhas estampados em rolos de fita adesiva, ou seja, bastar cortar e colar sobre a roupa ou na pele.
Tanta afinidade não vem só da arte. Azumi e David se casaram em 2000, mas a festa só rolou em 2001, em Nagano (Japão), onde viviam familiares da noiva. Sorte no amor e... sorte também nos negócios. Desde 1999, quando mostraram sua primeira coleção, a A=N=D cresceu bastante.
As peças da grife -que é representada no Japão pelo showroom hype Diptrics- já foram destaques em publicações como "Dazed & Confused", "i-D" e "International Herald Tribune" e são encontradas em 40 pontos-de-venda espalhados por Londres, Nova York, Milão e Paris.

 

FOLHA - Por que chamam suas criações de "coisas para vestir"?
AZUMI YAMASHITA E DAVID PERCIVAL -
Nós não queríamos vincular nossas roupas e acessórios com idéias tradicionais do que pode ou não pode ser vestido. A moda pode se desenvolver e se relacionar com outras áreas. Dialogar com a arte amplia nossos horizontes criativos. Existem elementos do surrealismo e do dadaísmo que fazem referência ao utilitarismo e, ao mesmo tempo, brincam com o processo industrial e apresentam objetos fora de seu contexto original. Assim, transformamos algo comum em peças surpreendentes, dando a elas um uso diferente daquele para o qual foram pensadas.

FOLHA - Quais são as maiores inspirações de seu trabalho?
AZUMI E DAVID -
Artistas como Marcel Duchamp, René Magritte e Meret Oppenheim. Além deles, admiramos muito alguns nomes ligados à arte conceitual e ao minimalismo, como Yoko Ono e Donald Judd.

FOLHA - Qual é a relação de vocês com o movimento Fluxus?
AZUMI E DAVID -
Quando nos conhecemos, andávamos com um grupo de artistas que se auto-intitulava Campo de Estudos. Eles pretendiam dar seqüência às idéias e à tradição criada pelo Fluxus. Chegamos a organizar várias performances em alguns lugares de Londres. Gostamos, especificamente, do aspecto de documentário e da estética em preto-e-branco que o Fluxus usava em suas apresentações. Todo o design do nosso site e de nossas embalagens foi inspirado nessa estética.

FOLHA - Como surgiu a idéia dos acessórios autocolantes?
AZUMI E DAVID -
Estávamos atrás de um truque de styling instantâneo, que pudesse transformar um look básico em algo diferente, de forma divertida. Então, criamos rolos de fitas com gravatas, relógios, colares etc., que podem ser colados sobre a roupa e a pele. É também uma referência disfarçada a algumas práticas fetichistas.


com VIVIAN WHITEMAN

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