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Última Moda - Alcino Leite Neto
Moda dadá
Dupla de estilistas britânicos renova design de acessórios com séries inspiradas nas vanguardas artísticas
Isto não é uma bolsa. Ou talvez seja, mesmo tendo salto e
sola. Acessórios óbvios não são
mesmo a especialidade da dupla de designers britânicos
Azumi Yamashita e David Percival. Na A=N=D, grife que criaram em 1999, quanto mais absurdos os projetos, melhor.
Azumi e David se conheceram em 1995, quando estudavam moda na renomada Central Saint Martins, em Londres.
Durante o curso, participaram
de um grupo onde atuavam artistas remanescentes do movimento de vanguarda Fluxus.
Depois dessa experiência, a
dupla começou a pesquisar os
movimentos dadaísta e surrealista, que serviram de inspiração principal para as coleções
da grife. "Nós usamos conceitos
propostos por movimentos de
vanguarda para retirar os objetos de seus contextos mais óbvios, criando novas possibilidades de uso", afirma a dupla de
designers.
Os objetos "mutantes" da
A=N=D são chamados por eles
de "coisas para vestir". São cachecóis com pontas de cabelo
artificial, colares feitos com armações de óculos e mangas que
viram gravatas, entre outras
experiências fashion.
Mas uma das invenções mais
interessantes dos estilistas é
uma linha de acessórios autocolantes: são relógios, cintos e
gargantilhas estampados em
rolos de fita adesiva, ou seja,
bastar cortar e colar sobre a
roupa ou na pele.
Tanta afinidade não vem só
da arte. Azumi e David se casaram em 2000, mas a festa só rolou em 2001, em Nagano (Japão), onde viviam familiares da
noiva. Sorte no amor e... sorte
também nos negócios. Desde
1999, quando mostraram sua
primeira coleção, a A=N=D
cresceu bastante.
As peças da grife -que é representada no Japão pelo showroom hype Diptrics- já foram destaques em publicações
como "Dazed & Confused", "i-D" e "International Herald Tribune" e são encontradas em 40
pontos-de-venda espalhados
por Londres, Nova York, Milão
e Paris.
FOLHA - Por que chamam suas criações de "coisas para vestir"?
AZUMI YAMASHITA E DAVID PERCIVAL
- Nós não queríamos vincular
nossas roupas e acessórios com
idéias tradicionais do que pode
ou não pode ser vestido. A moda pode se desenvolver e se relacionar com outras áreas. Dialogar com a arte amplia nossos
horizontes criativos. Existem
elementos do surrealismo e do
dadaísmo que fazem referência
ao utilitarismo e, ao mesmo
tempo, brincam com o processo industrial e apresentam objetos fora de seu contexto original. Assim, transformamos algo
comum em peças surpreendentes, dando a elas um uso diferente daquele para o qual foram pensadas.
FOLHA - Quais são as maiores inspirações de seu trabalho?
AZUMI E DAVID - Artistas como
Marcel Duchamp, René Magritte e Meret Oppenheim.
Além deles, admiramos muito
alguns nomes ligados à arte
conceitual e ao minimalismo,
como Yoko Ono e Donald Judd.
FOLHA - Qual é a relação de vocês
com o movimento Fluxus?
AZUMI E DAVID - Quando nos conhecemos, andávamos com um
grupo de artistas que se auto-intitulava Campo de Estudos.
Eles pretendiam dar seqüência
às idéias e à tradição criada pelo
Fluxus. Chegamos a organizar
várias performances em alguns
lugares de Londres. Gostamos,
especificamente, do aspecto de
documentário e da estética em
preto-e-branco que o Fluxus
usava em suas apresentações.
Todo o design do nosso site e de
nossas embalagens foi inspirado nessa estética.
FOLHA - Como surgiu a idéia dos
acessórios autocolantes?
AZUMI E DAVID - Estávamos
atrás de um truque de styling
instantâneo, que pudesse
transformar um look básico em
algo diferente, de forma divertida. Então, criamos rolos de fitas com gravatas, relógios, colares etc., que podem ser colados
sobre a roupa e a pele. É também uma referência disfarçada
a algumas práticas fetichistas.
com VIVIAN WHITEMAN
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