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Crítica
Só se vê o que se deseja em "Os Infiltrados"
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Numa daquelas suas tiradas
cortantes, Nelson Rodrigues
disse que "o videotape é burro".
Não tenho certeza de que a frase tenha sido entendida por todos em toda sua extensão. Com
freqüência é vista apenas como
blague inconseqüente (se é que
isso existe).
Quanto à burrice do videotape, ela pode ser comprovada
nas transmissões esportivas e
depois nas mesas-redondas,
naquelas discussões sem fim
que levam, sempre, à conclusão
de que não houve nem jogo,
pois o único sujeito a decidir o
resultado foi o juiz.
Os ângulos se sucedem: de
frente, de lado, de cima, de perto, de longe. Quanto mais detalhada a imagem, mais duvidosa
ela se torna. Porque a imagem,
em resumo, mente. É pior que
burra: se vende como fonte
confiável, quando não o é.
Digo isso porque, se tivessem
videotape, os protagonistas de
"Os Infiltrados" (HBO Plus,
22h30) veriam a falsidade de
seus parceiros. Mas não a veriam: como no filme, só se vê o
que queremos ver. Todo o resto
escapa.
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