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LIVROS
Crítica/"Ética, Jornalismo e Nova Mídia - Uma Moral Provisória"
Tese sobre ética faz o elogio da controvérsia
OSCAR PILAGALLO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Caio Túlio Costa tem se
dedicado, há pelo menos 20 anos, a pensar a
ética no jornalismo. Primeiro
ombudsman da Folha, de 1989
a 1991, relatou a experiência e
recolheu observações sobre o
tema em "O Relógio de Pascal".
Agora, na condição de professor de ética, volta ao assunto
com mais bagagem, em "Ética,
Jornalismo e Nova Mídia -
Uma Moral Provisória", baseado em sua tese de doutorado.
Se o primeiro livro privilegia
a urgência, ao focar o noticiário
do período, o mais recente
prioriza a reflexão, ao abordar a
ética a partir da história, filosofia, teatro e literatura. A opção
esfria o texto, mantido à distância das polêmicas, sobretudo as deflagradas por blogs,
mas joga luz nos argumentos.
Ao nos conduzir a longas visitas aos clássicos, o jornalista
dribla digressões retornando
em tempo ao objeto central de
seu estudo. Sobre Sócrates, por
exemplo, tenta compreender o
tribunal que o condenou à
morte. Nós nos apaixonamos
pelo filósofo, diz o autor, até
porque os relatos existentes
são de discípulos seus, mas os
acusadores, preocupados com
a ameaça que ele representava
à democracia ateniense, também tinham suas razões. Onde
está verdade? Caio Túlio responde: na controvérsia.
A história construiu uma reputação, a do sábio vítima da
insensibilidade de uma sociedade. Hoje, o jornalismo destrói tantas outras. São extremos que se tocam quando vistos sob o prisma da ética.
Ocultação x mentira
Caio Túlio não quis escrever
um manual de conduta, o que o
levou a fazer mais perguntas do
que dar respostas. Em classe,
constata a divisão dos alunos
sobre o uso de câmeras ocultas
para denunciar corrupção e nota que a aprovação da maioria
diminui quando ele formula a
mesma questão trocando "câmera oculta" por "mentira",
que no caso se equivalem. "O
uso de um conceito moral muda o resultado", diz.
Os fins justificam os meios?
Se não fica clara a posição do
professor -embora se intuam
as ressalvas-, o que importa,
de qualquer maneira, é mais o
processo de refletir que a opinião formada. É nesse espaço
fluido que se insere a ideia de
moral provisória, um hiato de
flexibilidade na rigidez da ética.
Em outras passagens a análise inclui juízo de valor. O autor
não hesita, por exemplo, em
condenar a TV, em especial a
Record, pela cobertura sensacionalista da ação do crime organizado que paralisou São
Paulo por um dia em 2006.
Da mesma maneira, fustiga
os crentes da objetividade jornalística e até seus críticos que,
como a Folha, defendem apenas a objetividade "possível".
Para Caio Túlio, a objetividade
tem existência normativa, não
funcional. Mais para mito, portanto, do que para meta.
O autor também ataca noção
da ética do senso comum, ou do
marceneiro, como dizia Cláudio Abramo (1923-1987) ao argumentar que só há uma ética,
a do cidadão. Caio Túlio acha
insuficiente, para o jornalista, a
ética do dia a dia. As diferenças
apontadas, no entanto, são
mais de grau que de natureza.
O autor fica devendo uma
resposta mais elaborada ao jornalista que foi um dos principais mentores de sua geração,
mas nada tira o mérito do livro,
que, às vésperas de ano eleitoral, é especialmente oportuno.
OSCAR PILAGALLO é jornalista e autor de "Folha Explica Roberto Carlos", entre outros.
ÉTICA, JORNALISMO E NOVA MÍDIA - UMA MORAL PROVISÓRIA
Autor: Caio Túlio Costa
Editora: Jorge Zahar
Quanto: R$ 39, 90 (288 págs.)
Avaliação: bom
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