São Paulo, sábado, 28 de março de 2009

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TELEVISÃO

"Em TV pública, todo mundo mete o bedelho"

Presidente do conselho da Cultura, Cunha Lima revê os 40 anos da emissora

Autor do recém-lançado "Uma História da TV Cultura" defende qualidade e diz que audiência não pode ser obtida a qualquer custo


AUDREY FURLANETO
DA REPORTAGEM LOCAL

"Na TV Cultura, eu pago e não mando." É o que costumava dizer o governador Mario Covas (1995-2001) nos encontros com Jorge da Cunha Lima, nos anos 90, quando ele ainda era presidente da Fundação Padre Anchieta. Com o atual governador, José Serra, a conversa, diz Cunha Lima, deve ser mais "racional", mas "sem a mínima intervenção".
"Em comunicação, não só em TV pública, todo mundo mete o bedelho", avalia ele, agora presidente do conselho da emissora, que lança o livro "Uma História da TV Cultura", em comemoração dos 40 anos da TV. À frente da fundação mantenedora do canal de 1995 a 2004, Cunha Lima, 77, registrou depoimentos de pessoas que trabalharam na emissora, obteve imagens históricas, pontuando tudo com as mudanças de governadores de São Paulo.
"O único período, digamos, de algum constrangimento de natureza intelectual foi na época do [Paulo] Maluf, que evidentemente equipou a TV fortemente com as 180 torres no interior, mas para ter um instrumento político", conta. "Houve um acordo tácito: havia liberdade para fazer cultura, desde que não aborrecesse o Maluf no jornalismo."

Polêmicas
Se o livro de Cunha Lima narra as mudanças e o contexto político da emissora, o prefácio assinado por Eugênio Bucci, ex-presidente da Radiobrás e membro do conselho, é crítico em relação a questões como a presença de comerciais na programação, segundo ele, "um senhor problema".
Cunha Lima concorda: "É um problema e foi criado por mim". Agora, a emissora tenta reduzir gradativamente os comerciais (nos infantis, a ação já foi suspensa). "Hoje, no orçamento [R$ 194,7 milhões, sendo R$ 81 milhões do Estado], publicidade não chega a 20% dos nossos recursos", diz.
Polêmicas mais recentes, como a baixa audiência (a Cultura tem média atual de só 1,4 ponto no Ibope da Grande SP) que provoca discussões "ferrenhas" no conselho, soam, entretanto, menores no livro. "Não vendemos audiência, e sim programação. O que interessa é qualidade." Mesmo assim, os conselheiros ainda discutem a carta enviada, no dia 16, pelo secretário de Relações Institucionais do governador José Serra, José Henrique Reis Lobo, cobrando números melhores. Apesar da queixa do secretário, diz Cunha Lima, "paira o consenso de que não se pode ter audiência a qualquer custo".


UMA HISTÓRIA DA TV CULTURA
Autor: Jorge da Cunha Lima
Editora: Imprensa Oficial
Quanto: R$ 80 (300 págs.)



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