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Atração pela repulsa
Duas exposições em Londres, com nova geração de artistas, causam repulsa e risos ao explorar temas mórbidos
JULIANO ZAPPIA
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DE LONDRES
Um espelho negro coberto por
milhares de moscas mortas. Um
boneco mumificado emitindo
grunhidos, com um pacote de cigarros na cintura. Bem-vindo ao
mundo da Brit-Art, um território
em que a polêmica, o choque e
animais cortados em pedaços têm
presença garantida e freqüentam
as manchetes dos jornais.
Pelo menos é como tem sido
desde o começo dos anos 90,
quando uma geração de artistas
britânicos começou a chamar a
atenção pela capacidade de provocar polêmica com suas obras. A
epítome foi a exibição "Sensation" (97), que reuniu obras como
uma vaca serrada, por Damien
Hirst, e uma Virgem Maria negra,
com estrume de elefante em algumas partes, por Chris Ofili.
Duas exposições atualmente em
Londres retratam a essência dessa
geração apelidada de Young British Artists: "In-A-Gadda-Da-Vida", na Tate Modern, e "New
Blood", na Saatchi Gallery.
"É ótimo que os dois eventos tenham sido programados para a
mesma época", disse à Folha um
porta-voz da Saatchi. "Um não
existiria sem o outro. Foi a capacidade de observação de Charles
Saatchi com a inventividade e força de artistas como Damien Hirst
e Sarah Lucas que colocaram a arte britânica de volta ao mapa."
Sem o dinheiro de Charles Saatchi, que financiava e encomendava obras de artistas iniciantes, a
Brit-Art não seria a mesma. Com
uma grande galeria no coração
turístico e cultural da cidade, ele
está tirando proveito de sua enorme "coleção particular". "New
Blood" é a nova exibição e traz,
em cerca de cem obras, o que de
mais novo é produzido nas artes e
foi adquirido pelo mecenas inglês.
Apesar de complementares, as
mostras são diferentes. "In-A-Gadda-Da-Vida" é a celebração
da amizade e do amadurecimento
de três forças criativas já estabelecidas internacionalmente em torno de um mesmo tema: o Jardim
do Éden. "Trata-se de uma série
de discussões, que duraram cerca
de uma ano e meio, entre Damien
Hirst, Sarah Lucas e Angus Fairhurst", diz a curadora da Tate
Clarrie Wallis. "As peças funcionam bem juntas devido ao processo: enquanto um criava uma
obra, os outros reagiam e começavam uma outra peça."
Durante o tempo em que a reportagem da Folha passou na galeria, o que se viu foi surpresa, indignação e ataques de riso. Foi assim com a estudante de moda Karen Claydon quando viu "The
Pursuit of Oblivion", obra de
Hirst inspirada no quadro "Painting", de Francis Bacon. "Não sei
o porquê, mas os peixes nadando
neste ambiente grotesco me fizeram rir", diz Claydon.
"Todos os três usam o humor",
diz Clarrie. "É uma estratégia subversiva, desconcertante. Mas essa
obra de Hirst é extraordinária. Ele
criou um monumento surrealista
em três dimensões."
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