LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

De motoboy, o protagonista da novela "Cobras & Lagartos" virou motociclista. A mudança ocorreu após Walter Salles ter dito à Globo que o personagem era plagiado de seu próximo longa, "Linha de Passe", com filmagens marcadas para o segundo semestre.
Textos assinados pelo cineasta e Daniela Thomas (sua parceira no projeto), publicados ontem na Folha, narram que João Emanuel Carneiro, autor da novela, trabalhou na primeira versão do roteiro do filme, em 2003. Ele já havia também roteirizado outros dois longas de Salles, "Central do Brasil" (1998) e "O Primeiro Dia" (1999), co-dirigido por Thomas.
Em "Linha de Passe", um motoboy tem uma namorada apaixonada por música clássica, que toca flauta transversa. Na novela, Duda seria um motoboy que toca flauta transversa, ou seja, fundiria características de dois personagens do filme. Além disso, o motoboy de "Cobras" se apaixona por uma violoncelista (Mariana Ximenes).
No início da trama, que estreou na segunda, Duda (Daniel de Oliveira) é motoboy. Demitido, ele abre a Lagartos Voadores, de serviços gerais. A empresa não usará só motos. Os funcionários poderão, por exemplo, andar de patins.
Até a conversa entre Salles e a Globo, Duda era apresentado à imprensa como motoboy. Agora, no site da novela, ele é descrito como "apaixonado por música e motocicletas, que participa de competições de motociclismo". Salles procurou a Globo após ver foto de Daniel de Oliveira tocando flauta transversa, em março, na coluna "Outro Canal", da Ilustrada. A emissora regravou sete cenas e trocou flauta por clarinete.
Ontem, após ser informado pela Folha sobre a troca de motoboy por motociclista, o cineasta enviou, por e-mail, a seguinte nota: "O que está feito está feito. Não tenho nada a acrescentar, até porque é difícil descrever a sensação que se tem quando um trabalho desenvolvido por um grupo de pessoas ao longo de quatro anos é colocado em risco de forma tão irresponsável. A tristeza é ainda maior quando a rasteira é dada por um ex-colaborador. Gostaria de dizer que a Globo, como nós, não sabia da superposição existente entre as duas tramas. A emissora ainda tentou regravar cenas para diminuir as "coincidências", mas a relação entre o universo do motoboy e o da sua namorada apaixonada por música clássica, central ao nosso filme, permaneceu no início da novela. Por isso nos vemos obrigados a repensar o nosso filme".
A Folha tenta falar com Carneiro desde terça-feira, sem sucesso.


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