São Paulo, quinta-feira, 28 de abril de 2011

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Jovem autor carioca ilumina cena teatral

Maior revelação da dramaturgia brasileira recente, Jô Bilac, de 26 anos, é tão obcecado quanto seus personagens

A partir de hoje, o trabalho do dramaturgo pode ser visto em três espetáculos, em cartaz em São Paulo e no Rio


GABRIELA MELLÃO
DE SÃO PAULO

Jô Bilac conta sempre as mesmas histórias aos amigos com o entusiasmo da primeira vez. Apesar de destro, usa mais a mão esquerda que a direita -ouviu dizer que faz bem à memória, tema central de "Savana Glacial", peça em temporada que lhe rendeu o Prêmio Shell de melhor autor em março deste ano.
Revelação dramatúrgica de carreira meteórica, foi durante uma festa que este carioca de 26 anos teve a ideia de escrever sobre perda da memória recente. Não arredou o pé da pista de dança, mesmo temendo esquecer o tema do novo projeto.
Bilac preocupa-se em exercitar o cérebro no dia a dia. Se o assunto é sucesso, entretanto, faz o movimento contrário. Esforça-se para não pensar, manipula a própria memória.
Ao ganhar o Shell, após apenas cinco anos de carreira, preferiu receber o prêmio como uma vitória coletiva: ""Savana" é experimental.
Não tem atores famosos nem uma grande produção.
Quando um espetáculo como este é premiado, todo mundo lava a alma. Representei minha geração", diz, referindo-se aos amigos, também jovens artistas da cena teatral alternativa do Rio.
Jô Bilac se colocou em cena pela primeira vez em "Savana Glacial", emprestando suas questões ao personagem Michel, um escritor. "O escritor não é melhor que ninguém. Nem diferente", diz, na voz de Michel.
Treze luminárias pendem do teto do palco de "Savana Glacial". Iluminam Jô Bilac, mesmo que ele não esteja em cena -apesar da direção segura e das atuações sólidas, a escrita é a grande protagonista da montagem.
Foi assim em "Cachorro", espetáculo de 2007 que o revelou como promessa. Em "Limpe Todo Sangue Antes que Manche o Carpete", peça de 2008 que ganha hoje versão paulista com direção de Eric Lenate, a mesma coisa.
Como também com "Rebu" (indicado ao APCA 2010 de melhor autor), "Matador de Santas" e "A Dona do Fusca Laranja", espetáculo atualmente em cartaz no Rio de Janeiro.

EM TRÊS ATOS
Nos três espetáculos de Jô Bilac que estão nos teatros no momento, em São Paulo e no Rio, o autor demonstra um raro domínio de linguagem, em diálogos ágeis e precisos, além de uma predileção por novos caminhos. "Termino uma peça e vou brincar em outro lugar", diz ele.
Há um ponto em comum na construção dos personagens. São sempre seres ambíguos, que revelam suas verdadeiras identidades apenas no decorrer das histórias.
Bilac é obcecado como eles - a protagonista de "Savana", por exemplo, é obstinada pelo filho que imagina ter tido. Persegue a provocação: "Uma peça tem de provocar ator, diretor, iluminador e cenógrafo para que saiam do lugar comum".
Tímido, Bilac nunca pensou em ser ator. Preferiu fincar o pé na realidade do homem comum. Queria ficar longe dos refletores. Apesar do esforço, não conseguiu.

LIMPE TODO SANGUE ANTES QUE MANCHE O CARPETE
QUANDO qui. e sex., às 21h; estreia hoje, até 27/5
ONDE Sesc Consolação (r. Dr. Vila Nova, 245, tel. 0/xx/11/3234-3000)
QUANTO de R$ 2,50 a R$ 10
CLASSIFICAÇÃO 16 anos

SAVANA GLACIAL
QUANDO de ter. a qui., às 21h30, até 5/5
ONDE Sesc Belenzinho (R. Padre Adelino, 1000, tel. 0/xx/11/2076-9700)
QUANTO de R$ 6 a R$ 24
CLASSIFICAÇÃO 16 anos

A DONA DO FUSCA LARANJA
QUANDO de sex. a dom., às 20h; até 29/5
ONDE Oi Futuro, no Rio (r. Dois de Dezembro 63, tel. 0/xx/21/3131-3060)
QUANTO grátis
CLASSIFICAÇÃO 18 anos


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