São Paulo, quinta-feira, 28 de abril de 2011

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Autor ganha sua primeira remontagem

DE SÃO PAULO

Além do Prêmio Shell de melhor autor, Jô Bilac comemora neste ano sua primeira remontagem. "Limpe Todo o Sangue antes que Manche o Carpete", sua terceira peça, encenada em 2008, ganha nesta quinta-feira uma versão paulista sob direção de Eric Lenate. A peça marca a estreia da Cia. dos Inquietos.
Bilac critica a falta de humanidade dos jovens de hoje. Faz um retrato cruel de sua geração ao apresentar seres obcecados pela conquista do sucesso, mesmo que ela gere consequências terríveis.
Lenate potencializa o clima de estranhamento sugerido pelo texto. Joga uma lente de aumento nas situações e nas feridas dos personagens, apostando no poder de distorção da caricatura, que frequentemente resvala no patético.
"Fui buscar o exagero internamente", diz o ator Ed Moraes. Ele dá vida de modo memorável a seu personagem, Wilson, que disputa uma vaga com Pierre numa grande empresa: "É matar ou morrer", afirma.
Histórias reais e inventadas pela mente de Wilson acontecem simultaneamente a uma trama paralela. Nela, sua noiva, enfermeira de uma velha, convence uma amiga de trabalho a ajudá-la num plano abominável.
Os personagens transitam em cena num sugestivo labirinto constituído por um corredor vazado, cuja estrutura é formada por batentes de portas. Apesar de estarem diante de várias saídas possíveis, os personagens não conseguem escapar. "Jô Bilac foi taxativo: não há saída possível", explica Lenate, cuja busca é ressignificar a realidade.
Serve-se de diversas simbologias para redimensionar o real. É o caso de uma vitrola da época dos dinossauros que, usada sobre uma cadeira de rodas, representa uma velha enferma.
Com a peça, Bilac compõe um retrato do mito da queda da humanidade, arruinada pela ganância. O único caminho possível parece ser a aniquilação. Do homem e de seu entorno. (GM)


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