São Paulo, terça-feira, 28 de maio de 2002

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ARTES VISUAIS

Filho retira "O Pão" (45) de reforma em SP para sua casa, em GO

"Destino" devolve afresco de Fulvio Pennacchi à família

FRANCESCA ANGIOLILLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Um imprevisto acabou devolvendo à família Pennacchi parte da obra de seu patriarca, o artista plástico Fulvio (1905-1992).
Em uma casa no bairro paulistano dos Jardins, um dos afrescos do artista italiano tinha destino indefinido: em meio a reformas, a dona pensava em vender a obra. Foi quando recebeu um telefonema de uma das filhas do artista.
Giovanna Pennacchi, 52, queria fotografar o afresco "O Pão", pintado pelo pai para a então residência da família Lunardelli, em 1945. O objetivo era registrar a obra para o livro "Pennacchi - Pintura Mural", a ser lançado pela Metalivros em outubro, nos dez anos da morte do artista.
Diante da coincidência, a proprietária da casa -que não quer ser identificada- resolveu doar a obra à família. Depois de meio mês de trabalhos para implantar uma estrutura ao redor do afresco, que mede 3 m x 1,5 m, e, assim, "desencaixá-lo" de seu lugar, "O Pão" espera, agora, um guindaste apropriado para removê-lo. O destino é Cristalina (GO), onde vive Atílio, 48, outro dos oito filhos do artista.
O administrador Atílio se encarregou pessoalmente da delicada operação, orientado pelo engenheiro Paulo Sprovieri -responsável pela remoção das outras pinturas murais de Pennacchi que já tiveram de mudar de lugar.

Pintura mural
A cena de um forno na Toscana (região de onde veio Pennacchi, no norte da Itália) representada em "O Pão" é um dos muitos afrescos que o pintor deixou. Era comum que famílias da comunidade italiana, para quem trabalhava com frequência, encomendassem essas obras.
Apesar de tipicamente italiana, a técnica do afresco não fez parte da formação de Pennacchi.
Como conta Pietro Maria Bardi (1900-1999) no livro "Pennacchi" (Raízes, 1980), o pintor se aventurou no processo no início dos anos 40, quando concluía os trabalhos da igreja Nossa Senhora da Paz, no Glicério (região central de São Paulo) -cujo projeto arquitetônico também assina.
É ainda Bardi quem reproduz as razões de Pennacchi para gostar do afresco: para o artista, ele era espaço de inovação que "raramente" encontrava no cavalete.
A filha Giovanna vê certo desalento no destino dessas obras murais: "Muitas foram destruídas. As únicas que vão ficar "ad aeternum", se não cair uma bomba, são as religiosas". Algumas, diz, estão "escondidas". Como uma, criada para uma sede de banco, hoje loja de autopeças, que jaz coberta por um painel publicitário.



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