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ARTES VISUAIS
Filho retira "O Pão" (45) de reforma em SP para sua casa, em GO
"Destino" devolve afresco de Fulvio Pennacchi à família
FRANCESCA ANGIOLILLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Um imprevisto acabou devolvendo à família Pennacchi parte
da obra de seu patriarca, o artista
plástico Fulvio (1905-1992).
Em uma casa no bairro paulistano dos Jardins, um dos afrescos
do artista italiano tinha destino
indefinido: em meio a reformas, a
dona pensava em vender a obra.
Foi quando recebeu um telefonema de uma das filhas do artista.
Giovanna Pennacchi, 52, queria
fotografar o afresco "O Pão", pintado pelo pai para a então residência da família Lunardelli, em
1945. O objetivo era registrar a
obra para o livro "Pennacchi
- Pintura Mural", a ser lançado
pela Metalivros em outubro, nos
dez anos da morte do artista.
Diante da coincidência, a proprietária da casa -que não quer
ser identificada- resolveu doar a
obra à família. Depois de meio
mês de trabalhos para implantar
uma estrutura ao redor do afresco, que mede 3 m x 1,5 m, e, assim,
"desencaixá-lo" de seu lugar, "O
Pão" espera, agora, um guindaste
apropriado para removê-lo. O
destino é Cristalina (GO), onde
vive Atílio, 48, outro dos oito filhos do artista.
O administrador Atílio se encarregou pessoalmente da delicada operação, orientado pelo engenheiro Paulo Sprovieri -responsável pela remoção das outras
pinturas murais de Pennacchi que
já tiveram de mudar de lugar.
Pintura mural
A cena de um forno na Toscana
(região de onde veio Pennacchi,
no norte da Itália) representada
em "O Pão" é um dos muitos
afrescos que o pintor deixou. Era
comum que famílias da comunidade italiana, para quem trabalhava com frequência, encomendassem essas obras.
Apesar de tipicamente italiana,
a técnica do afresco não fez parte
da formação de Pennacchi.
Como conta Pietro Maria Bardi
(1900-1999) no livro "Pennacchi"
(Raízes, 1980), o pintor se aventurou no processo no início dos
anos 40, quando concluía os trabalhos da igreja Nossa Senhora da
Paz, no Glicério (região central de
São Paulo) -cujo projeto arquitetônico também assina.
É ainda Bardi quem reproduz as
razões de Pennacchi para gostar
do afresco: para o artista, ele era
espaço de inovação que "raramente" encontrava no cavalete.
A filha Giovanna vê certo desalento no destino dessas obras murais: "Muitas foram destruídas. As
únicas que vão ficar "ad aeternum", se não cair uma bomba, são
as religiosas". Algumas, diz, estão
"escondidas". Como uma, criada
para uma sede de banco, hoje loja
de autopeças, que jaz coberta por
um painel publicitário.
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