DE NOVA YORK

Precisou de um moleque franzino e desbocado para a música pop voltar a incomodar de novo. O rap, pelas mãos e voz de Eminem, volta a encher o saco, trabalho que um dia já foi do rock, hoje cada dia mais acomodado.
Enquanto os Strokes e os Yeah Yeah Yeahs cantam o amor perdido, a Esperança Branca do rap detona "o sistema", lembra? Atitude, algo que a maioria das novas bandas confunde com a quantidade de gel que deve ser usada.
A começar pela primeira e uma das melhores, "White America", que fala a verdade, nada mais que a verdade. Eminem sabe que vende, sim, mas porque é branco, como os filhinhos de papais dos subúrbios que o consomem, Eric e Erica, como diz o coro, que aliás gruda na orelha.
O pau continua na antimilitarista "Square Dance" -de novo, é o coro que pega, em que ele alterna a voz em falsete. Se "White America" traz a alma do álbum, esta carrega o motivo: "Estou de volta agora/ Vim para divulgar estas informações".
A trilogia antigoverno é concluída com "Without me", em que a vice-primeira-dama dos EUA e seu marido voltam a ser alvo ("Sei que a sra. tem um emprego, sra. Cheney,/ Mas o problema no coração de seu marido está se complicando"). Para variar, o coro é esperto e vai na tradição do rap, de autocitação.
O outro bloco, o mais pessoal, tem sua trilogia também. Abre com a poderosa e triste "Cleaning Out My Closet", a candidata a "Stan", em que o rapper se retrata com a mãe -à sua maneira, chamando de "bitch" a mulher que o processou por difamação e levou milhões. Então, há "Sing for the Moment", de novo o menino abandonado pelo pai (que "não valia a calça que usava"). Aqui, Eminem empresta o riff de "Dream On", do Aerosmith.
Por fim, "My Dad's Gone Crazy", que fecha o CD e tem a participação da filha de seis anos do rapper, Hailie, que canta o coro: "Acho que meu papai está ficando maluco". Ela sabe do que está falando... (SÉRGIO DÁVILA)

The Eminem Show     
Artista: Eminem
Lançamento: Aftermath/Universal
Quanto: a definir