São Paulo, sexta-feira, 28 de maio de 2004

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POPLOAD

Banda matadora, texto matador

LÚCIO RIBEIRO
COLUNISTA DA FOLHA

"O rock'n'roll independente e glamouroso é o que eu preciso. Está na minha alma. Indie rock'n'roll. A hora é agora." Essas palavras poderiam estar fora das aspas, não pertencessem elas à letra de "Indie RocknRoll", da banda americana The Killers, uma das muitas apostas para 2004.
Quando o álbum "Hot Fuss" chegar às lojas americanas e inglesas em menos de duas semanas, o grupo de Las Vegas já vai ter um sólido caminho percorrido rumo a um certo reconhecimento, sempre tendo em mente o que "sólido" e "reconhecimento" significam na música independente.
Nem bem o CD saiu e Killers já emplacou três músicas nas rádios inglesas e nas college americanas. A música que apresentou o Killers ao mundo pop foi a pegajosa "Somebody Told Me", bem new wave, de "pegada" gay, que saiu em single na Inglaterra em março.
Mesmo sendo de Las Vegas, o Killers é muito britpop. Já foi dito até que a banda finge o sotaque inglês em algumas canções.
"Mr. Brightside", um outro single, é o que está "bombando" em rádio indie agora. Belíssima.
Uma coisa engraçada aconteceu entre este colunista e o Killers, durante apresentação da banda no festival de Coachella, na Califórnia, no começo do mês.
Na passagem da tenda eletrônica para o palco principal, vi na programação que num palco secundário o Killers se apresentava e dava para pegar pelo menos 15 minutos do show. Não lembro as atrações dos outros palcos, mas era certo que eram atrações para mim mais chamativas que a banda nova de Las Vegas, de quem eu só conhecia "Mr. Brightside" e "Somebody Told Me". Durante as quatro músicas que eu pude ver, o show foi chato e não teve os "sucessos". Fui embora.
Dias depois, lendo algumas críticas da apresentação da jovem banda, era unânime que no começo do show (a parte que eu vi) o Killers foi um "Level 42" (para citar um nome bem chato) e no fim o grupo deixou o palco como um "Radiohead".
Essa eu perdi.

O velho Nick Hornby
Nick Hornby voltou com seus arrebatadores textos pop. Desta vez, em uma edição passada do "New York Times", o escritor britânico lembrou um texto que leu havia 30 anos, em que o autor (Jon Landau) cunhou a frase: "Eu vi o futuro do rock e seu nome era Bruce Springsteen" e começava dizendo que estava fazendo 27 anos, se sentia velho e estava ali escutando seus discos e lembrando como as coisas eram diferentes dez anos atrás. A pretexto da efeméride, Hornby escreveu: "É difícil não pensar na idade de alguém e como ela se relaciona com o rock. Acabei de fazer 47 anos, e a cada ano que passa fica mais difícil não me perguntar se eu deveria estar ouvindo algo que ainda é considerado mais apropriado à minha idade -jazz, folk, música clássica, ópera, marchinhas de funeral etc. Você já ouviu os motivos milhões de vezes: a maioria das músicas de rock é feita por jovens, para os jovens, sobre ser jovem. E, se você não é jovem e ainda ouve rock, então você deveria ter vergonha de si mesmo. E finalmente eu achei minha resposta para isso tudo: acima de tudo, eu concordo com quase tudo dessa história, embora ela seja grosseira e não faça esforço nenhum em se dirigir ao que é recente, principalmente a trabalhos excelentes de Neil Young, Bob Dylan, Bruce Springsteen. Ou seja: ela não faz mais sentido para mim".

lucio@uol.com.br


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