São Paulo, sexta-feira, 28 de maio de 2004

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Adriana Maciel mixa samba, bossa e tropicália

DA REPORTAGEM LOCAL

A brasiliense Adriana Maciel, 37, não é propriamente uma revelação da Deckdisc. "Poeira Leve" é o terceiro disco da cantora, que fez escola de música na Universidade de Brasília, cantou com Oswaldo Montenegro e fez teatro com Moacyr Góes e outros.
"Os outros discos foram feitos muito no susto. Eu me sentia estranha no estúdio, não tinha intimidade, não sabia aproveitar. O universo que eu tinha inventado para o palco não funcionava dentro do estúdio", reavalia a cantora, que estreou em 97, pelo selo de Gilberto Gil, Geléia Geral.
Com sabor de reinvenção, "Poeira Leve" foi concebido por Adriana com o produtor argentino/brasileiro Ramiro Musotto, sem nenhum apoio de gravadora. A Deckdisc recebeu o produto pronto e resolveu bancar.
Híbrido, o novo disco parte de um repertório mais ligado ao samba e ao pós-tropicalismo e de um tratamento próximo de bossa nova. Acabou sendo um disco de regravações, com Nelson Cavaquinho e Cartola de um lado, Tom Zé, Jorge Mautner e Novos Baianos do outro. No meio do caminho, ficam faixas como a militante "A Televisão" (de Chico Buarque) e "Mora na Filosofia" (samba de Monsueto Menezes revisto num arranjo todo decalcado do de Caetano Veloso, de 72).
Adriana convocou os cantores amigos Zeca Baleiro, Vitor Ramil e Moska para duetos em, respectivamente, "Só" (de Tom Zé), "Até Não Mais" (de Kledir Ramil) e "Tô" (Tom Zé/Elton Medeiros).
"Eu era resistente a regravar, porque acho que acaba sendo um caminho facilitador. Estamos todos com preguiça de ouvir o novo", critica e se autocritica.
Por outro lado, declara amor ao formato adotado: "Eu me reconheço nesse universo. Quando a gente viu, a maior parte dos sambas eram dos anos 70, de autores que ficaram à margem".
Chega ao assunto "samba", na fronteira entre o que procurava e a espreita de um novo momento de modismo.
"Achei coincidência que haja vários trabalhos desse tipo aparecendo, mas acho que existe um inconsciente coletivo. Não é à toa que o samba está voltando, precisamos de reafirmações do que a gente é, de identidade. Há o perigo, sim, de tudo virar samba, mas é meio incontornável", sintetiza.
(PAS)


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