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AUDIOVISUAL
Escola será aberta em julho na cidade e conta com professores formados por grandes instituições internacionais
Curitiba ganha sua academia de cinema
JANAINA ROCHA
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Após criar uma tradição cultural ao sediar eventos como o Festival de Teatro de Curitiba e o
show único dos Pixies no Brasil, a
capital paranaense ganha, a partir
de julho, uma escola de cinema: a
Academia Internacional de Cinema de Curitiba (AICC), no bairro
Rebouças, antiga área industrial.
A atitude de abrir uma escola
ali, e não no Brooklyn (Nova
York), também está de acordo
com um momento particular do
cinema brasileiro. Em duas palavras, segundo o co-fundador e diretor da AICC, o fotógrafo norte-americano Steven Richter: "Wide
open" (muito aberto), conforme
define a produção atual no país.
Richter quis criar a escola, cujas
matrículas já estão abertas, para
defender o setor como arte e a relação entre cinema e tecnologia.
"Sempre acreditei que as pessoas
que fazem o melhor cinema são as
que o tratam como arte. A partir
dessa noção, podem fazer o que
quiserem, mas precisam ser livres
para explorar as opções criativas."
As instalações da AICC serão
iguais às de uma produtora, já
que, segundo ele, "um problema
das escolas é se tornarem muito
institucionais, prejudicando o
trabalho". Para isso, é importante
haver prática e compreensão dos
equipamentos e materiais -"como um pintor entende suas tintas
e os valores que cada tinta tem".
Richter afirma que, mesmo com
"ótimos filmes sendo feitos no
Brasil e um mercado cada vez
mais forte", a maioria das escolas
de cinema ainda ensina teoria, o
que é importante, mas não forma
um cineasta. "As escolas que ensinam aplicação prática estão geralmente ligadas aos departamentos
de publicidade, mas que não ensinam cinema", diz ele.
"Sei que a ECA, na Universidade de São Paulo (USP), tem um
programa maravilhoso, mas é
uma universidade -e o programa é muito longo. Além disso,
aceita um número muito limitado
de estudantes por ano. A verdade
é que cinema e televisão são uma
indústria milionária nos EUA e na
França. O Brasil tem potencial para se tornar um grande mercado.
Mas, para desenvolver um mercado, é também preciso capacitar
mais profissionais."
Um novo cinema
Essa ambição, a possibilidade
de ampliação de mercado, pode
ser conseqüência de uma outra
questão: a fomentação de novas
formas de fazer cinema, com tecnologias e visões de profissionais
de outros países. Por isso, afirma
Flávia Rocha, uma das editoras da
revista de cultura e literatura
"Rattapallax" (de Nova York) e
co-fundadora da escola, a escolha
de cineastas que estão no topo da
onda da profissão.
"Procuramos profissionais que
tenham uma apreciação verdadeira pela história do cinema,
uma experiência que veio de lugares como a escola de Lodz, onde
estudaram os diretores Kieslowski e Polanski, da New York University, por onde passaram Martin Scorsese, Spike Lee e Jim Jarmusch, da escola de Los Baños,
em Cuba, onde lecionou o escritor Gabriel García Márquez, e da
Fabrica, de Oliviero Toscani, na
Itália, entre outras boas instituições internacionais", diz Rocha.
"Nosso impulso é reunir, sob
um mesmo teto, cinema de culturas diferentes. Acho que lugares
como Nova York e Los Angeles
floresceram no cinema por causa
de suas equipes internacionais."
Entretanto, estudar nos EUA,
com professores do mundo todo,
é algo caro e pouco acessível à realidade brasileira. "Nos EUA, as
pessoas gastam muito dinheiro
para entrar nas universidades privadas e em instituições de ensino
independentes. Por exemplo: estudar cinema na New York University custa aproximadamente
US$ 30 mil por ano", diz Richter.
"No Brasil, muitas das melhores
universidades são federais e, portanto, gratuitas -é um sistema
completamente diferente, uma
outra cultura da educação. Não se
pode basear o ensino na cultura
do negócio. Abaixamos os preços
na AICC maciçamente e continuamos com a mesma tecnologia,
qualidade de professores e prática
metodológica que se encontraria
numa escola dos EUA."
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