São Paulo, quinta-feira, 28 de maio de 2009

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Crítica

Cantoras fazem de Roberto a "musa" de seus próprios versos

Com competência e entrega, artistas fizeram homenagem à altura do Rei, em show que a Globo exibe neste domingo

CARLOS RENNÓ
ESPECIAL PARA A FOLHA

A noite do show "Elas Cantam Roberto", anteontem, no Teatro Municipal de São Paulo, podia ter sido longa. Nada menos que 20 cantoras desfilaram 24 canções do repertório de Roberto Carlos, em um espetáculo gravado para virar CD, DVD e especial da Globo -neste domingo (31), às 23h. O timing, no entanto, foi excelente, e tudo fluiu, satisfatório.
O evento para o Rei acabou, cabe aqui o trocadilho, coroado por um êxito garantido pelo nível profissional e artístico dos envolvidos, a começar pelas intérpretes e pela diretora, Monique Gardenberg. Algo à altura de uma homenagem ao meio século de carreira do mais popular e um dos mais importantes cantores-compositores de toda a música brasileira.
Wanderléa proporcionou um dos momentos mágicos da noite, ao fazer a versão "Esqueça", com Daniela Mercury, e "Você Vai Ser o Meu Escândalo" (uma das 19 de Roberto e Erasmo Carlos no playlist). Voz pequena, aparentemente frágil, ela instaurou uma atmosfera de emoção, por portar elementos essenciais como alma, verdade e afinidade arraigada com o que cantou: ali, era a que tinha começado com Roberto.
De arrepiar foi também a participação de Nana Caymmi.
Mas essa é comovente por excelência, e, se não constitui uma intérprete típica de canções de Roberto, só canta aquilo que incorpora a fundo. Assim, era inevitável que "Não se Esqueça de Mim", que ela gravou com Erasmo há mais de dez anos, obtivesse efeito lacrimejante na sua voz.
O pop dos anos 80 se fez bem representado em duas músicas revisitadas por Paula Toller e Marina Lima. A primeira deu uma lição de canto contido e suavíssimo em "As Curvas da Estrada de Santos". A outra impactou cantando para fora e protagonizando a passagem mais excitantemente rock da noite, ao mostrar, de guitarra em punho, como pode ser "Como Dois e Dois" (de Caetano).
Arrasadora.
Outro destaque: Mart'nália. Figura... Parece um exuzinho lindo, a gingar no palco. Foi das poucas a não alterar o gênero da letra, quando havia gênero, passando-o do masculino ao feminino (procedimento que, diga-se, ajudou a dar sentido ao nome do show, a sugerir que elas cantavam amorosamente Roberto, tornando-o "musa" de seus próprios versos). A filha de Martinho, de Oxóssi e de Oxum cativou com "Só Você Não Sabe", samba pouco conhecido de Roberto e Erasmo que ganhou malícia nova.

Nervosismo controlado
Em meio a um controlado nervosismo prevalente que serviu para deixar todas atentas e levá-las a praticamente não cometer erros, Sandy exibiu calma, domínio e naturalidade em "As Canções que Você Fez pra Mim". O mesmo se aplica a Alcione, brilhante na recriação jazzificada de "Sua Estupidez".
Com competência e entrega, um elenco vário, de Fafá de Belém a Celine Imbert, criou os climas mais díspares. Do canto over de Ana Carolina ao cool de Adriana Calcanhotto. Da interpretação dramática de Marília Pêra, no papel de uma louca, à postura de senhora da canção, de Zizi Possi. Da leitura axé de Claudia Leitte à funk de Fernanda Abreu.
Não ter se dado espaço a nenhuma das mulheres para falar entre as canções foi decisivo para a fluência do show. Só uma serena (grávida) Ivete Sangalo, preenchendo um espaço gerado por um problema técnico, lascou um "Robertão é massa".
O deslumbramento de todas por Roberto se demonstrou no penúltimo número, com elas cantando, com ele, "Como É Grande o Meu Amor por Você".
Ou, mais exatamente, por quem há meio século vem dando a sua voz à alma nacional.


CARLOS RENNÓ é letrista, jornalista e produtor.

Avaliação: ótimo



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