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Crítica
Cantoras fazem de Roberto a "musa" de seus próprios versos
Com competência e entrega, artistas fizeram homenagem à altura do Rei, em show que a Globo exibe neste domingo
CARLOS RENNÓ
ESPECIAL PARA A FOLHA
A noite do show "Elas
Cantam Roberto", anteontem, no Teatro
Municipal de São Paulo, podia
ter sido longa. Nada menos que
20 cantoras desfilaram 24 canções do repertório de Roberto
Carlos, em um espetáculo gravado para virar CD, DVD e especial da Globo -neste domingo (31), às 23h. O timing, no entanto, foi excelente, e tudo
fluiu, satisfatório.
O evento para o Rei acabou,
cabe aqui o trocadilho, coroado
por um êxito garantido pelo nível profissional e artístico dos
envolvidos, a começar pelas intérpretes e pela diretora, Monique Gardenberg. Algo à altura
de uma homenagem ao meio
século de carreira do mais popular e um dos mais importantes cantores-compositores de
toda a música brasileira.
Wanderléa proporcionou um
dos momentos mágicos da noite, ao fazer a versão "Esqueça",
com Daniela Mercury, e "Você
Vai Ser o Meu Escândalo" (uma
das 19 de Roberto e Erasmo
Carlos no playlist). Voz pequena, aparentemente frágil, ela
instaurou uma atmosfera de
emoção, por portar elementos
essenciais como alma, verdade
e afinidade arraigada com o que
cantou: ali, era a que tinha começado com Roberto.
De arrepiar foi também a
participação de Nana Caymmi.
Mas essa é comovente por excelência, e, se não constitui
uma intérprete típica de canções de Roberto, só canta aquilo que incorpora a fundo. Assim, era inevitável que "Não se
Esqueça de Mim", que ela gravou com Erasmo há mais de dez
anos, obtivesse efeito lacrimejante na sua voz.
O pop dos anos 80 se fez bem
representado em duas músicas
revisitadas por Paula Toller e
Marina Lima. A primeira deu
uma lição de canto contido e
suavíssimo em "As Curvas da
Estrada de Santos". A outra impactou cantando para fora e
protagonizando a passagem
mais excitantemente rock da
noite, ao mostrar, de guitarra
em punho, como pode ser "Como Dois e Dois" (de Caetano).
Arrasadora.
Outro destaque: Mart'nália.
Figura... Parece um exuzinho
lindo, a gingar no palco. Foi das
poucas a não alterar o gênero
da letra, quando havia gênero,
passando-o do masculino ao feminino (procedimento que, diga-se, ajudou a dar sentido ao
nome do show, a sugerir que
elas cantavam amorosamente
Roberto, tornando-o "musa" de
seus próprios versos). A filha de
Martinho, de Oxóssi e de Oxum
cativou com "Só Você Não Sabe", samba pouco conhecido de
Roberto e Erasmo que ganhou
malícia nova.
Nervosismo controlado
Em meio a um controlado
nervosismo prevalente que serviu para deixar todas atentas e
levá-las a praticamente não cometer erros, Sandy exibiu calma, domínio e naturalidade em
"As Canções que Você Fez pra
Mim". O mesmo se aplica a Alcione, brilhante na recriação
jazzificada de "Sua Estupidez".
Com competência e entrega,
um elenco vário, de Fafá de Belém a Celine Imbert, criou os
climas mais díspares. Do canto
over de Ana Carolina ao cool de
Adriana Calcanhotto. Da interpretação dramática de Marília
Pêra, no papel de uma louca, à
postura de senhora da canção,
de Zizi Possi. Da leitura axé de
Claudia Leitte à funk de Fernanda Abreu.
Não ter se dado espaço a nenhuma das mulheres para falar
entre as canções foi decisivo
para a fluência do show. Só uma
serena (grávida) Ivete Sangalo,
preenchendo um espaço gerado por um problema técnico,
lascou um "Robertão é massa".
O deslumbramento de todas
por Roberto se demonstrou no
penúltimo número, com elas
cantando, com ele, "Como É
Grande o Meu Amor por Você".
Ou, mais exatamente, por
quem há meio século vem dando a sua voz à alma nacional.
CARLOS RENNÓ é letrista, jornalista e produtor.
Avaliação: ótimo
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