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COMIDA
É cabrito ou cordeiro?
Para não ser enganado na hora de comer ou de comprar, saiba como diferenciar a carne dos dois animais; produção de cabrito do chef Sergio Arno será vendida em cortes variados em rotisseria ou pronta para consumo
JANAINA FIDALGO
DA REPORTAGEM LOCAL
Um é cria do bode e da cabra;
o outro, do carneiro e da ovelha.
Se nem a linhagem é clara para
todos, o que não dizer da dificuldade para diferenciar a carne do cabrito da do cordeiro?
Por isso (e por certa má-fé de
quem o comercializa), muita
gente já deve ter comido cordeiro pensando ser cabrito. Os
entendidos dizem que é possível distinguir um do outro pela
cor da carne, o tipo do osso, o
tamanho da carcaça (e dos cortes) e a quantidade de gordura
-leia mais nos quadros ao lado.
"Noventa por cento dos restaurantes que vendem carne de
cabrito em São Paulo não servem cabrito, mas cordeiro", diz
Sergio Arno, 48, chef e proprietário de restaurantes como o
Vecchia Cucina e o Franciacorta. "Isso acontece por inexperiência e pela evidente falta de
produto no mercado. A maldade talvez seja de quem vende."
Foi esse um dos motivos que
levaram o chef a extrapolar os
domínios da cozinha e partir
para a criação de cabrito. "Falta
carne, e a que tem não presta,
não tem padrão, não tem raça
definida, é tudo mistura", diz.
A criação começou no segundo semestre do ano passado,
numa fazenda em Itapetininga
(163 km de São Paulo). Arno e o
sócio, Dráusio Barreto, investiram R$ 1,5 milhão na Agropecus, e a primeira dificuldade foi
reunir o plantel, hoje com 1.600
cabeças de boer -raça de corte
sul-africana. Levaram seis meses comprando três cabeças
aqui, dez acolá. "Não existem
rebanhos grandes. Há microprodutores no Brasil inteiro."
O médico veterinário Selmo
Fernandes, 54, pesquisador da
Embrapa Caprinos e Ovinos,
em Sobral, no Ceará, diz que
92% do rebanho nacional de
caprinos se concentra no Nordeste, com predominância de
animais mestiços, nativos da
região. "Grande número está
em pequenas propriedades, de
agricultura familiar", diz Fernandes, que participa de um
programa de melhoramento
genético da Embrapa.
Cortes e pratos
Comprador de cabrito, usado
no atolado de bode (o nome é
uma "provocação" para tentar
acabar com o preconceito em
relação ao bode), o chef Rodrigo Oliveira, 28, do Mocotó, diz
que a confusão sem dúvida
existe e que, antes de cozidas, é
mais fácil diferenciá-las.
"As carnes são bem parecidas, e é muito mais fácil encontrar cordeiro do que cabrito, até
porque o cordeiro tem mais
aceitação, é uma carne mais
gorda e, por isso, mais macia",
diz Oliveira, cliente do Rei do
Cabrito, no Mercadão.
Os cabritos do açougue especializado vêm de Trincheiras de
Freitas, na Bahia. "O que tem
de criação em São Paulo não supre o consumo daqui. Lá no
Nordeste tem muito. A "carne
de vaca" deles é o cabrito", diz
Rivaldo Cavalieri, 55, dono do
açougue Rei dos Cabritos.
Na criação da Agropecus, as
90 cabeças abatidas ao mês,
atualmente, ainda não dão
"nem para o cheiro", segundo
Arno. A meta é chegar a 6.000
cabeças, com 1.200 abates
mensais. A produção atual é suficiente apenas para atender a
demanda dos restaurantes do
grupo. Mas, no próximo mês, os
cortes (pernil, paleta, mignon e
stinco, entre outros) estarão
disponíveis para a venda no espaço antes ocupado pela Universidade da Cachaça, no Itaim
Bibi (r. Iaiá, 83). Ainda sem nome, será um misto de loja, rotisseria e restaurante voltado ao
cabrito -e a outros pratos.
"Cabrito era muito usado.
Depois deixou de ser, sumiu.
Caiu em desgraça, sabe? Apesar
de ser a carne mais magra que
existe no mercado", diz Arno.
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