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LITERATURA
Escritor mostra nova faceta ao lançar antologia com poemas publicados em livros anteriores e agora modificados
Carpinejar arrisca a poesia em carne viva
ROGÉRIO EDUARDO ALVES
DA REDAÇÃO
Sob o rótulo antologia, Fabrício
Carpinejar, 30, acabou por compor o livro inédito "Caixa de Sapatos", que reúne poemas já publicados e agora modificados pelo
escritor. Dessa opção pela auto-releitura de seus quatro títulos anteriores, surge, mais do que um
novo volume, uma outra face do
poeta.
O que se perde nesse lançamento são as linhas ficcionais que garantem a marca pessoal da literatura de Carpinejar e dirigem os
textos originais como que compondo os capítulos de um longo
romance. Nessa "Caixa de Sapatos", não aparecem os personagens que particularizam a voz do
"eu lírico" em cada um dos livros
individuais, assim como não se
faz referência aos criativos contextos poéticos construídos.
"Eu queria me transgredir, verificar se minha poesia seria capaz
de viver sem enredo. Eu realizei
um novo livro a partir de minhas
obras anteriores, com a mesma
serenidade violenta que utilizo
com os inéditos. Era um desafio
costurá-los sem o contexto que os
unifica, sem o protagonista que
fazia o papel de bússola na condução da história versificada", afirma Carpinejar de sua casa, em
São Leopoldo (RS).
"Se meus poemas formavam algo como a consciência do texto,
"Caixa de Sapatos" traduz a inconsciência."
O resultado está próximo da
apresentação em carne viva das
imagens e pensamentos que serviram de matéria-prima para a
confecção das histórias narradas
em "As Solas do Sol" (1998), "Um
Terno de Pássaros ao Sul" (2000),
"Terceira Sede" (2001) e "Biografia de uma Árvore" (2002). "Eu
realizo o caminho de volta. Poderia deixar tudo para trás, mas tive
a coragem de retomar os lugares
de minha sensibilidade e sofrer e
rir novamente com eles e me reler
com o distanciamento íntimo."
Sem exigências
Os textos mais modificados são
os do primeiro volume. "Mudei
poemas de "As Solas do Sol" deixando-os mais abertos, tirando as
metáforas que sufocavam o andamento musical", diz o poeta. Sem
alterações radicais, os versos dos
outros livros passaram por processos semelhantes entre si. Na
maior parte de "Caixa de Sapatos", lêem-se poemas fundidos a
outros, que no original eram subsequentes ou anteriores. Quanto
aos cortes, normalmente foram
realizados nas partes dos textos
que fazem referência ao contexto
ficcional original, agora excluído.
Assim composto, "Caixa de Sapatos" quer desvendar um poeta
lírico sob sua verve épica.
Mas no processo de feitura desse livro não se poderia desconfiar
de alguma exigência da nova parceira Companhia das Letras (seus
três últimos livros estão publicados pela editora Escrituras e o primeiro, pela Bertrand Brasil)?
"De nenhuma forma me submeteria a tal exigência editorial.
Não trabalho sob encomenda,
nem sob pressão externa. Recebi
o convite da Companhia das Letras, que coincidiu com meu desejo de enfatizar um diferente aspecto da minha poesia, um escopo mais lírico, cotidiano."
E mudar não parece ser problema para o poeta. Em seu novo
projeto, "Cinco Marias", que deve
ser lançado em 2004 e continua o
enredo de seu romance versificado original, nasce uma nova voz
para seus textos, agora feminina.
"Senti que a figura feminina estava latejando em minhas obras anteriores, pedindo espaço", diz.
Mais diverso que isso, só a versão em alemão e italiano que seus
livros terão em breve. "A mudança de idioma produz um choque
salutar. Passei a reparar o poema
como alguém desconhecido, que
me provoca uma queda-de-braço", conclui.
CAIXA DE SAPATOS. Autor: Fabrício
Carpinejar. Editora:
Companhia das Letras
(www.companhiadasletras.com.br).
Quanto: R$ 24 (76 págs.).
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