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DANÇA/CRÍTICA
Coreografias revelam caminhos formais e afetivos
Divulgação
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Cena de coreografia do Ballet du Grand Théâtre Genève |
INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA
Nos corpos que dançam, a
busca de uma existência distinta: pela paixão, pela incerteza,
pela beleza e segundo o desejo.
Foi no teatro da UERJ, no Rio,
sexta-feira passada, que os virtuosísticos bailarinos do Ballet du
Grand Théâtre Genève fizeram
sua estréia. A companhia, que há
12 anos não vinha ao Brasil, apresenta-se hoje e amanhã no teatro
Alfa, dançando peças de três coreógrafos distintos.
Nos corpos desses 20 bailarinos,
cada gesto tem acento próprio e
não se constrange nunca por dificuldades técnicas. Entre eles, há
três brasileiros -como Bruno
Cezario, que faz sua última turnê
no grupo antes de ir para o Cullberg Ballet.
Criado originalmente para o
American Ballet Theatre, em
1997, "Remansos", de Nacho
Duato, inspira-se na poesia de
Garcia Lorca (1899-1936), com
música do pré-modernista Enrique Granados (1867-1916). Geometria das linhas e uso dinâmico
do espaço e das formas são marcas do coreógrafo, que parte dos
passos clássicos para criar novos
equilíbrios e desequilíbrios, que
revêem de dentro a linguagem. O
movimento é contínuo com pontuações agudas, exploradas em
solos, duos, trios e quartetos.
Se as valsas de Granados têm
cores evidentes da Espanha, assim como a poesia de Lorca, sem
cair jamais em turismos, também
na dança nada se dá de imediato.
O simbolismo da flor vermelha
abre e fecha a cena, mas as possibilidades de volume e gesto nos
corpos ultrapassam a simples
imagem, deixando no ar elementos de uma outra força.
Em "Para-Dice" ("Para-Dados", trocadilho com "Paradise"/
"Paraíso"), criada pelo japonês
Saburo Teshigawara em 2002, a
beleza e fragilidade da existência,
diante das ondas invisíveis de
energia, serão gradualmente quebradas. Os movimentos se tornam mais soltos e ao mesmo tempo mais articulados. A peça começa com uma fila de corpos no
fundo, alternando homens e mulheres respectivamente de preto e
amarelo, riscando o espaço. Partindo daí, a dança começa a se repuxar, em ondas no chão e no ar.
Da quase imobilidade ao extremo
movimento, Teshigawara leva os
corpos a seus limites.
A música, do alemão Willi
Bopp, combina harmonias frias
da música eletrônica com sons diversos, de outras fontes. A luz vai
do mais escuro ao mais brilhante,
criando um mundo de névoas,
sem pontos de apoio firmes. Teshigawara lida com a qualidade do
gesto no espaço, buscando uma
ultraconsciência dos sentidos.
A terceira peça, "Selon Désir"
(Segundo o desejo), foi criada pelo coreógrafo Andonis Foniadakis a partir do coro de abertura da
"Paixão segundo São Mateus" de
Bach (1685-1750). Homens e mulheres, de saia, se debatem com as
angústias e os desejos. Seus gestos
são fluidos, com reverberações no
tronco e nos braços. Infinitas espirais tomam o palco, reunindo e
contrapondo o grupo de bailarinos. Cada coro se renova na simetria e na nostalgia dos corpos.
Vistas lado a lado, as coreografias revelam caminhos formais e
afetivos, funcionais e simbólicos,
que só tornam as ambigüidades
dos gestos ainda mais evidentes.
Nos corpos que dançam, a busca
de uma outra existência: pelo desejo, pela beleza, pela paixão.
A crítica Inês Bogéa viajou a convite da
produção do evento
Ballet du Grand Théâtre Genève
Onde: teatro Alfa (r. Bento Branco de
Andrade Filho, 722, São Paulo, tel. 0/xx/
11/5693-4000)
Quando: hoje e amanhã, às 21h
Quanto: de R$ 40 a R$ 80
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