São Paulo, quinta-feira, 28 de julho de 2005

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DANÇA

Diretor da Bienal da Dança de Lyon e da Maison de la Danse, francês procura novos formatos no festival de Joinville

Guy Darmet critica a falta de investimento no Brasil

ADRIANA FERREIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

"Me disseram que Joinville é uma loucura e, como gosto de coisas um pouquinho loucas, estou indo para lá", conta empolgado o francês Guy Darmet, 57. Esse pode não ser o verdadeiro motivo que levou o diretor artístico da Bienal da Dança de Lyon a ir ao Festival de Dança de Joinville, que ocorre até 30 de julho, mas sua passagem pelo evento catarinense promete render boas parcerias.
Há mais de 20 anos, o jornalista e crítico de dança é responsável pela direção e concepção artística da bienal, considerada um dos maiores eventos culturais da França. Ele também é o diretor da Maison de la Danse, em Lyon, instituição responsável por divulgar a dança contemporânea no país, promovendo cerca de 80 espetáculos por ano.
"Participamos da difusão e da formação do público que não conhece dança, investindo em jovens coreógrafos e co-produzindo novos trabalhos", explica Darmet. "Fomos os primeiros a levar o [grupo mineiro] Corpo à Europa, nos anos 90 e, neste ano, todos os ingressos para a apresentação deles na Maison, em novembro, estão esgotados", afirma.
O namoro do diretor com o país vem de longe, com destaque para uma edição do evento em Lyon dedicada ao Brasil, em 1996, quando teve início o Carnaval de rua que hoje é uma marca da bienal, com a participação de 300 mil pessoas, segundo Darmet.

Novos formatos
Um dos motivos que atraiu Darmet ao Festival de Dança de Joinville é o formato do evento catarinense. "Na Europa, há festivais de dança contemporânea, clássica, de hip hop, mas nunca há todos esses estilos reunidos", comenta. "O festival [de Joinville] me parece muito popular. Estou indo pela possibilidade de ver muitas formas de dança totalmente diferentes umas das outras."
Darmet ainda não definiu qual o tipo de união poderá surgir com Joinville, mas está otimista. "Estou curioso para conhecer o evento. O grande problema dos programadores da Europa é que eles não têm curiosidade, gosto de encontrar e descobrir coisas novas."
A agenda do diretor francês no Brasil inclui ainda sessões dos espetáculos da Companhia Sociedade Masculina e de Deborah Colker, além de pesquisas para a programação da próxima Bienal da Dança de Lyon, que faz sua 12ª edição em 2006. O tema, desta vez, serão as cidades, mudando um pouco o foco de anos anteriores, quando o evento se dedicava a explorar a dança de uma região, como a Europa (2004), América Latina (2002) ou o Oriente (2000).
Por enquanto, Darmet adianta que, dos brasileiros, está garantida a participação do coreógrafo João Saldanha, que desenvolve um trabalho cujo tema é a arquitetura de Oscar Niemeyer.
"Teremos representantes da Coréia, de Tóquio, de Paris, de Nova York, de São Paulo e do Rio", diz Darmet. "Haverá espetáculos ocupando ruas, praças, jardins e metrôs. Me interessa essa possibilidade de encontrar o público no teatro e na rua também."

Investimento
Com a autoridade de quem acompanha a dança contemporânea brasileira, Darmet diz que, comparado há cinco anos, o cenário está pior. "Os grupos vão bem, mas não têm dinheiro, não têm espaço, precisam de mais consideração", afirma o diretor.
"Os coreógrafos são muito interessantes e originais e precisam de ajuda", acredita, e completa: "Há um mercado enorme para a dança na América do Sul, mas muito pouco investimento".


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