São Paulo, sexta-feira, 28 de julho de 2006

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Angeli prepara memorial da geração rock

Pai de Wood & Stock, Rê Bordosa e Mara Tara diz não levar em conta didatismo na hora de criar cartuns

Divulgação
Cena de "Wood & Stock", animação com os hippies de Angeli


COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A seguir, leia a entrevista em que Angeli falou da relação entre Ozzy e Wood & Stock e de seus próximos projetos. (ALEXANDRE MATIAS)

 

FOLHA - Qual foi o seu envolvimento com o filme "Wood & Stock"?
ANGELI -
Bom, eu cedi todo o meu material desde 84 para o Otto fazer o que quisesse, como referência gráfica e de roteiro. E fiquei meio como consultor. Detalhes, coisas dos personagens que eu conheço porque os criei. Depositei toda minha confiança no Otto porque ele é um cara como eu, da minha geração, a gente ouviu as mesmas coisas, tomamos as mesmas coisas. Se eu fizesse o filme, ele seria completamente diferente, porque eu sou virginiano meticuloso e fico completamente obcecado com detalhes.

FOLHA - O filme tem o andamento que você imaginava para os personagens?
ANGELI -
Sim, acho que ele conseguiu pegar o ritmo dos hippies velhos, lentos, cansados...

FOLHA - E as vozes do longa?
ANGELI -
Gostei . A primeira versão da voz do Stock era ainda mais paulistana -"orra, meo"- e eu gostava mais, mas preferiram deixar mais brando, para o filme ficar sem um sotaque específico. E a Rita Lee é perfeita, ela mesma fala que as tiras da Rê Bordosa são a biografia não-autorizada dela.

FOLHA - Você não acha que a relação em comum entre seus personagens, sejam os velhos Wood e Stock ou o garoto Ozzy, é o fato de eles representarem uma determinada tribo urbana, quase sempre ligada ao rock'n'roll?
ANGELI -
Com certeza. Mesmo no trabalho com charge, tenho essa pegada rock, punk.

FOLHA - Você também tem consciência de que, de certa forma, apresentou a história do rock para pelo menos duas gerações...
ANGELI -
Tenho. Sempre tive. Desde a época da Chiclete com Banana [revista que editava nos anos 80], eu sabia desse aspecto didático. Mas eu nunca me preocupei com isso. Eu nem acompanho quadrinho, quase nem sou desse ramo (risos). Minha literatura é toda de crítica de comportamento e uma visão política sobre o ser humano, que é pouco quadrinho...

FOLHA - Você não tem essa preocupação com o leitor nem quando escreve para crianças?
ANGELI -
Não. Foi um desafio que eu me propus, porque sempre me achei pesado, imagina pra criança. Eu fiz o Ozzy depois de um convite da Folha, na época em que meu filho tinha a idade do Ozzy. Foi quando comecei a absorver informação através dele, sobre internet, geração Seattle, skate, grunge, essas coisas.

FOLHA - Você disse que considera seu humor pesado para crianças, mas a geração Ozzy tem muita informação sobre coisas bem mais pesadas...
ANGELI -
É, eu sei. É uma geração que não se assusta com assuntos, pode ser serial killer ou sexo anal, para eles é tudo normal e tudo meio sem graça. É uma geração sem tabus. Mas só falar disso não dá em nada.

FOLHA - E quais são os próximos projetos?
ANGELI -
Eu estou numa história longa meio autobiográfica, que vai falar um pouco da minha geração, não só de mim. Falar de coisas que as pessoas que têm a minha idade possam lembrar, ver o comportamento da minha geração. É meio que o início de um livro de memórias. Mas tem lá as primeiras vezes todas, meu primeiro disco...

FOLHA - Qual foi?
ANGELI -
O compacto de "Satisfaction", dos Rolling Stones.

FOLHA - E que mais você tem em andamento?
ANGELI -
Tem coisas que não são minhas, são baseadas em obras minhas, como o filme da Cristiane Ticerri sobre a Mara Tara, que é uma personagem quase bissexta, mas que tem um público feminino muito grande. E a Grace Gianoukas, da "Terça Insana", pegou minhas coisas para adaptar para o teatro, que deve sair ainda este ano...

FOLHA - Alguma chance de ver "Angeli em Crise" no palco?
ANGELI -
Comigo? De jeito nenhum! Isso eu não faço! Evito fazer certas coisas, nos anos 80 eu apareci demais, até em tampa de privada! Só sou um desenhista, eu não sei fazer outra coisa, me deixem (risos).


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