São Paulo, terça-feira, 28 de julho de 2009

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Merce Cunningham morre aos 90

Conhecido por romper a relação entre música e dança, bailarino morreu no domingo, em NY

27.jul.64/Associated Press
Merce Cunningham ergue Carolyn Brown em ensaio
no Sadler Wells Theatre, em Londres, em 1964


JANAINA LAGE
DE NOVA YORK

O coreógrafo americano Merce Cunningham morreu anteontem à noite aos 90 anos, em Nova York, de causas naturais, segundo comunicado divulgado pela Merce Cunninghgam Dance Company.
Um dos grandes nomes da dança do século 20, ele influenciou cineastas, diretores e coreógrafos no mundo todo. Suas realizações não estão ligadas apenas ao estilo ou ao grande volume de trabalhos desenvolvidos (cerca de 200), mas também à criação de métodos de trabalho que produziram novas formas de movimento.
"Merce foi um artista de estilo próprio e o mais gentil dos gênios. Nós perdemos um grande homem e um grande artista, mas celebramos sua vida extraordinária", afirmou Judith Fishman, que administra a fundação que leva o nome do coreógrafo.
Merce Cunningham nasceu em Centralia, Washington, onde começou a estudar dança. Ele iniciou sua carreira como bailarino e, de 1939 a 1945, atuou como solista na companhia de Martha Graham. Em 1953 fundou sua própria companhia. O coreógrafo manteve uma parceria na vida pessoal e profissional com o compositor John Cage.

Ruptura
Um dos principais destaques de sua carreira foi a ruptura na união entre dança e música. Nas obras de Cunningham, não é o som que determina os passos. Música e dança convivem de forma independente.
Mesmo nos últimos anos, Cunningham continuou a abraçar novas ideias. Em 2006, no espetáculo "eyeSpace", o público recebia na entrada iPods com diversas opções de trilha sonora e podia escolher a que quisesse ouvir para assistir à apresentação. Em 2003, na estreia de "Split Sides", as bandas Radiohead e Sigur Rós fizeram performances ao vivo.
O coreógrafo também lançou mão da tecnologia em suas criações. Na década de 60, passou a usar uma câmera para captar movimentos.
Nos anos 80, desenvolveu um software, chamado Life Forms (hoje Dance Forms), que criava movimentos e combinações de passos que foi incorporado ao seu processo criativo a partir de 1991.
Até 1989, Cunningham aparecia em todas as performances de sua companhia. Aos 80, dançou um dueto com Mikhail Baryshnikov no New York State Theater. Aos 90, coreografou "Nearly 90" (quase 90) no Brooklyn Academy of Music este ano. Disse que continuava a criar a dança em sua mente. Nos últimos anos, ele vivia em uma cadeira de rodas.
"Você precisa amar a dança para aderir a ela. Ela não lhe dá nada de volta, nem manuscritos para guardar, nem telas para exibir nas paredes e talvez pendurar em museus, nem poemas para serem impressos e vendidos, nada além daquele único movimento fugaz quando você se sente vivo", disse.

Legado
No mês passado Cunningham divulgou um plano para a administração de suas coreografias e o futuro de sua companhia após sua morte.
De acordo com ele, a companhia deverá fazer uma turnê de dois anos e, então, se separar. O Merce Cunningham Trust, que faz o papel de administrador, terá o controle de todas as coreografias dele com o propósito de licenciá-las.
"Há realmente uma preocupação sobre como você pode preservar os elementos de uma arte que é realmente efêmera, que é como a água. Ela pode desaparecer. Esse é um caminho para mantê-la viva", afirmou o coreógrafo na época.


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