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Arte-tecnologia tem auge financeiro
Petrobras e empresas como Oi e Itaú investem pesado no setor, mas produção no país é pequena e ainda deixa a desejar
Críticos veem "deslumbre" pela tecnologia e obras "vazias de propostas'; File, o maior festival do gênero no Brasil, começa hoje em SP
SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL
Sensores na vitrine do prédio da Fiesp disparam raios de
luz seguindo o movimento dos
carros na avenida Paulista. Se
respondessem ao volume de
investimentos no setor de arte
em novas mídias, seria um
grande clarão, ininterrupto.
A obra, que está no Festival
Internacional de Linguagem
Eletrônica, o File, aberto hoje,
é metáfora visual da mobilização do setor da arte-tecnologia.
"Está havendo um despertar", diz Ricardo Barreto, um
dos criadores do File. "Nunca
houve tanto dinheiro para essa
área no Brasil", completa Eliane Costa, gerente de patrocínios de cultura da Petrobras.
Só a estatal destinou R$ 2
milhões à arte digital no ano
passado. Instituições como o
Itaú já formam um acervo de
obras tecnológicas e o Oi Futuro acaba de abrir um centro do
tipo em Belo Horizonte, extensão do projeto que tem no Rio.
Numa comparação simples,
centros tecnológicos, como
Itaú Cultural e Oi Futuro, têm
orçamentos anuais na casa dos
R$ 40 milhões, enquanto a Pinacoteca do Estado opera com
cerca de R$ 10 milhões ao ano.
Mas é um boom mais de
mercado do que de produção
artística. "As corporações gostam do novo, querem falar com
o jovem, por isso têm muito
apoio para isso", admite o curador Marcello Dantas. "É uma
questão de mercado mesmo,
não tem tanto a ver com arte."
Tanto que a produção brasileira se resume a um punhado
de artistas que se revezam nas
mostras -dos 70 nomes neste
File, só sete são brasileiros.
"É um segmento muito pequeno", diz Ricardo Resende,
diretor do centro de artes visuais da Funarte. "Tem um universo de artistas que usam essas mídias todas, mas fazem
obras vazias de questionamentos, de propostas artísticas."
Uma visita a exposições do tipo, quase sempre lotadas, não
deixa dúvida que há interesse
por parte do público, mas fica a
impressão de um apego ingênuo à tecnologia e pouca substância. São obras que piscam,
giram, transmitem dados, imagens, sons em tempo real -em
geral, tudo muito colorido.
"O fascínio é algo que rende
muito se você pensa em termos
de público, de marketing", diz
Marcos Cuzziol, curador do
Itaú Cultural. "Não tenho dúvida que um evento mostrando
essas novas tecnologias faz
muito sucesso, acho positivo."
Boina e pincel
Curadores da área reconhecem que um certo deslumbre
pela tecnologia ainda ofusca a
ideia por trás das obras, mas
põem a culpa na formação dos
artistas. "No Brasil, estão criando um sistema equivocado, que
é inserir disciplinas de tecnologia em cursos de arte tradicionais, para gente que entra de
boina e pincel na mão", diz Paula Perissinotto, do File. "Deveria haver um curso só disso."
É a segregação que se vê hoje
entre "tecnófilos" e "tecnófobos", nas palavras de Daniela
Bousso, diretora do MIS. O fato
de artistas em novas mídias trabalharem mais com algoritmos
do que com pincéis acabou
criando um gueto na área -a
arte digital não se considera
parte das artes visuais e reivindica espaço próprio em editais
e até dentro do Ministério da
Cultura, que estuda criar um
colegiado só para o setor.
"Isso é humano, procurar
seus iguais", diz Patrícia Canetti, eleita representante das novas mídias nas discussões do
MinC. "O gueto tem que existir,
é como você se fortalece."
Mas essa pode ser uma força
ilusória. Mesmo dizendo que as
"artes plásticas não têm saída",
Ricardo Barreto exibe no File
reinterpretações digitais de Velázquez, Bosch, Escher -sinal
de que a turma de "boina e pincel" ainda pauta os "tecnófilos".
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