São Paulo, segunda-feira, 28 de agosto de 2000


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TEATRO
Cláudia Raia estrela musical
Primeira-vedete volta em "Mulher Aranha"

Vania Delpoio/Folha Imagem
A atriz paulista Cláudia Raia, que vai interpretar Aurora em "O Beijo da Mulher Aranha", peça que estréia em São Paulo em outubro



VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

A primeira-vedete dos palcos brasileiros está de volta. Depois de atrair os holofotes para o teatro de revista durante a década -foram três espetáculos de 90 a 97, "Não Fuja da Raia", "Nas Raias da Loucura" e "Caia na Raia"-, a bailarina e atriz Cláudia Raia vai estrelar a produção musical "O Beijo da Mulher Aranha", baseada no romance homônimo do argentino Manuel Puig, que estréia em São Paulo na primeira quinzena de outubro (leia abaixo).
Há cerca de quatro anos, a bailarina acenou com a possibilidade de experimentar outros gêneros. Falou em Samuel Beckett, por exemplo. Não chegou a tanto. A entressafra, além do filho Enzo, 3, lhe reservou um solo escrito por Miguel Falabella -com quem contracena no novo musical- em "5 x Comédia", dirigida por Hamilton Vaz Pereira.
"Eu não queria radicalizar, fazer um Brecht às segundas e terças-feiras, por exemplo", afirma Raia, 33. A atuação em "5 x Comédia" trazia uma sintonia distinta daquela que costuma desempenhar em cena. O texto, porém, correspondia ao besteirol disseminado por Silvio de Abreu e Jorge Fernando, influências declaradas.
Em "O Beijo da Mulher Aranha", o desafio é interpretar o papel de Aurora, a atriz que baila nos sonhos de Molina (Falabella), homossexual encarcerado em uma prisão sul-americana. Ele divide a cela com o revolucionário marxista Valentim (Tuca Andrada), trigo para o moinho da ação.
As fantasias de Molina são recheadas por lembranças de atuações da sua musa dos anos 40 em vários filmes B. Ele só rejeita a fita em que Aurora interpreta a sinistra mulher aranha.
A personagem de Puig (1932-90) consta do imaginário do cinema nacional graças à interpretação de Sônia Braga na versão de Hector Babenco, lançada em 85.
"O papel é um pouco mórbido, lúdico, mas absolutamente glamouroso", diz Raia. Ela assistiu à montagem original de "Kiss of the Spider Woman", na Broadway, pelo menos quatro vezes (numa delas, encontrou casualmente Falabella na platéia).
Viu a lendária Chita Rivera no papel (Tony de melhor atriz em 93) e diz que a adaptação "é de uma alegria incrível, embora mantenha a densidade da história de Puig".
Para ficar em forma na volta ao musical -paralelamente, Raia também participou da novela "Terra Nostra"-, a bailarina faz aulas de canto com Vera do Canto e Mello (que também vai atuar como mãe de Molina) e agenda sessões de treinamento nas companhias Stagium (de Márika Gidali e Décio Otero) e Cisne Negro (Hulda Bittencourt), onde estudou na juventude.
Orgulha-se ainda de ter trabalhado com Ismael Guiser, Renée Gumiel e Toshieko Kobayashi, coreógrafos que lhe ensinaram muito sobre o ofício.
A dança, para quem não sabe, está na base da carreira de Cláudia Raia. Durante 25 anos, sua mãe, Odete Motta Raia, dirigiu uma academia em Campinas (SP), cidade natal da bailarina. Aos 7, o coreógrafo norte-americano Lennie Dalle, radicado no Brasil, queria levá-la para estudar no EUA. Mas só convenceu a família quando a garota tinha 13 anos.
Aos 16, já na eminência dos 1,8 metro atuais, ela foi estudar balé clássico no teatro Colón, em Buenos Aires. No mesmo período, não perdeu a chance de contracenar com Suzana Jimenes, a grande vedete do teatro de revista argentino, no musical "A Chorus Line", outro sucesso da Broadway.
"Desde aquele momento eu tinha a sensação de que não seria apenas bailarina", afirma. "Na verdade, nunca fiz curso de interpretação na vida, porque também não queria ser atriz."

"Showoman"
Nos musicais, e na revista em particular (gênero brasileiro nascido no Rio, anos 40 e 50, que passava os fatos do país em revista, sempre com bom humor), Raia acredita potencializar sua condição de vedete: um pouco de atriz, bailarina, cantora, uma "showoman", define. "Enquanto minhas pernas aguentarem, nunca vou parar de fazer musicais."
Ela se diz empolgada com as novas produções, ou mesmo companhias que surgiram no país nos últimos anos. "Há pessoas fazendo coisas boas, sacando novos horizontes com uma perspectiva mais profissional, como os americanos sabem fazer", afirma, preferindo não citar nomes.
E descortina sua tese para os bons ventos: "O Brasil é um país musical, que gosta de dança, de ritmos. Cada Estado tem seu folclore, sua cultura, suas batidas musicais. O público estava sem ver musicais ou revistas desde os anos 50, tem saudades", afirma.


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