São Paulo, quarta-feira, 28 de agosto de 2002

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Jazz "country" de Norah Jones deve vir ao Brasil em 2003

CARLOS CALADO
ENVIADO ESPECIAL A NOVA ORLEANS

Nas maiores lojas de discos do mercado internacional, ela aparece em destaque tanto na seção de jazz como na de música pop. Nem o Blue Note, sexagenário selo de jazz que lançou o álbum de estréia da cantora e pianista Norah Jones, poderia imaginar tal sucesso. Na semana passada, o CD "Come Away with me" já tinha atingido a marca de 2,8 milhões de cópias vendidas.
A própria cantora ajuda a esclarecer o aparente fenômeno: apesar da chancela Blue Note, não se trata exatamente de um disco de jazz. "Eu tenho uma formação jazzística, mas ao idealizar este álbum decidi seguir uma direção diferente. Acho que ele está mais próximo da música country", disse à Folha, no último sábado, antes de seu disputado show na House of Blues, em Nova Orleans.
Norah cantava "standards" de jazz em pequenos clubes de Nova York, no final de 2000, ao ser ouvida por Bruce Lundvall, o presidente do selo. "Foi uma coincidência. Naquela época, eu e meus amigos Jesse Harris e Lee Alexander tínhamos começado a escrever canções e então gravamos algumas "demos" para o Blue Note. Os caras ficaram um pouco preocupados porque não era jazz, mas gostaram", conta.
Além das delicadas canções de Norah e seus parceiros, entraram no disco versões de antigos sucessos de dois medalhões da música country: Hank Williams ("Cold Cold Heart") e J.D. Loudermilk ("Turn me On"). Vale lembrar que, apesar de ter nascido em Nova York, 23 anos atrás, a cantora mudou-se quatro anos depois com a mãe para Dallas, no Texas, onde viveu até 1999. Ainda no colégio, venceu prêmios estudantis de melhor compositora e vocalista de jazz.
"Continuar tocando e cantando "standards" já não soaria mais algo natural para mim", diz Norah, justificando sua guinada musical. No show da House of Blues, que foi registrado para um especial de TV, ela tocou e cantou quase todo o repertório de "Come Away with me", demonstrando que a naturalidade é mesmo um de seus traços mais marcantes.
Norah abriu o show com a balada-blues "Turn me On". É possível ouvir ecos de Joni Mitchell, Rickie Lee Jones e Carole King, em sua voz aguda e levemente rouca. Econômico e funcional, seu toque ao piano não exibe nenhuma pretensão de virtuosismo. Não há dúvida de que a soul music e o rhythm'n'blues de Ray Charles moldaram seu estilo.
Mas o que melhor pode explicar o carisma que Norah exerce sobre a platéia é mesmo a sensação de sinceridade que ela transmite. Canções delicadas, com letras românticas e singelas, como sua "Nightingale" ou "Painter Song" (de Lee Alexander e J.C. Hopkins), soam verdadeiras ao serem interpretadas por ela.
Quanto ao adiamento de seu show em São Paulo, que chegou a ser anunciado para novembro, pela série Diners Club do Bourbon Street, Norah diz que tem muita vontade de conhecer o país. "Espero que possamos ir ainda no início do próximo ano. Minha mãe chegou a morar algum tempo no Brasil antes de eu nascer e tem vários discos de Elis Regina, Gal Costa e Tom Jobim. Acho Elis maravilhosa."

O jornalista Carlos Calado viajou a convite da gravadora EMI.



COME AWAY WITH ME. Lançamento: EMI. Preço: R$ 30, em média.



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