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MÚSICA ERUDITA
Achado de pesquisador contesta dado de que obra mais antiga de Francisco Manuel da Silva é de 1820
Internet revira história do autor do Hino
IRINEU FRANCO PERPETUO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Descoberta na internet a obra
mais antiga do autor do Hino Nacional Brasileiro: em um site de
leilões, o compositor, pianista e
musicólogo paulista Amaral Vieira, 50, adquiriu o manuscrito autógrafo do "Hino à Aclamação de
D. João 6º", composto em 1817 pelo carioca Francisco Manuel da
Silva (1795-1865).
Trata-se de um volume de 198
páginas, com encadernação de
época e caligrafia que parece ser
do próprio compositor.
A capa conta com a inscrição
"Hymno per Musica da Cantarsi
nel Giorno Felice dell'Aclamazione di S. Maestá Fedelissima, il Signore D. Giovanni VI - La Musica É
di Francisco Manoele della Silva,
Cantore della Capella R. nel Servizio de S. Maestá - Nel Anno del
1817" (Hino para Música a Cantar
no Dia Feliz da Aclamação de Sua
Majestade Fidelíssima, o Sr. D.
João 6º - A Música É de Francisco
Manuel da Silva, Cantor da Capela R. a Serviço de Sua Majestade
-No Ano de 1817).
"Não há nenhuma possibilidade de ser uma falsificação, porque
o trabalho que daria fazer uma
falsificação dessas não compensaria o valor cobrado pelo manuscrito", afirma Vieira, que prefere,
contudo, não revelar quanto desembolsou pela obra.
Responsável pela descoberta de
outras peças perdidas da música
erudita brasileira, como o "Tratado de Contraponto", de André da
Silva Gomes (1752-1844), o quarto
ato da ópera "A Louca", de Elias
Lobo (1834-1901), e a "Valsa Brilhante", de Villa-Lobos (1887-1959), o musicólogo deparou com
a obra de Francisco Manuel por
acaso, quando navegava pelo site
de leilões Arremate.com
(www.arremate.com.br).
Seu lance foi o único. "Tive que
esperar quase dois meses até que a
partitura fosse entregue pelo correio, mas, quando abri o pacote,
percebi que estava diante de uma
preciosidade", diz.
De acordo com Vieira, o manuscrito estava em posse de "uma
pessoa do Rio de Janeiro", com a
qual o musicólogo perdeu o contato, e que já havia vendido, no site, uma série de antiguidades.
Na tonalidade de ré maior, a
obra foi escrita para coro misto,
quarteto vocal solista e orquestração de cordas, flauta e trompete,
com partes adicionais de trompas, fagotes, tímpano e mais
trompetes.
Com a escrita vocal virtuosística, influenciada pela ópera italiana, que caracteriza a música que
se fazia no Brasil na época, o hino
tem entre 15 e 20 minutos de duração, tendo sido feito sob encomenda do último vice-rei do Brasil, d. Marcos de Noronha e Brito,
o conde dos Arcos.
De autoria do senador Antonio
Gonçalves Gomide, o texto, em
português, louva cada um dos reis
de Portugal com o nome João.
Diz o estribilho: "Suba João ao
throno/ Viva o Sexto Augusto/ O
Re dos lusitanos/ Grande sábio e
justo". "Curiosamente, sobre o
texto em português há uma marcação a lápis, muito discreta, "convertendo" tudo para o latim litúrgico, ou seja, numa tentativa de
transformar a peça em obra sacra", diz Vieira.
Aluno do maior compositor
brasileiro do período colonial, o
padre José Maurício Nunes Garcia, Francisco Manuel da Silva entrou para a história da música
brasileira menos pelo talento como compositor do que pelos méritos de organizador da educação
musical de sua época, com a fundação do Conservatório do Rio de
Janeiro, na década de 1840.
Sua criação musical mais conhecida é o "Hino ao Sete de
Abril", escrito em 1831 para comemorar a abdicação de D. Pedro
1.e que, posteriormente, se transformaria no Hino Nacional Brasileiro. A principal referência bibliográfica a seu respeito é "Francisco Manuel da Silva e Seu Tempo" (Edições Tempo Brasileiro,
1967), de Ayres de Andrade.
Sua peça tida como mais antiga
pela "Enciclopédia da Música
Brasileira" é um "Te Deum" de
1820. "O "Te Deum" a que se refere
a enciclopédia é do conhecimento
exclusivo da sra. Cleofe Person de
Mattos e a fonte da informação,
infelizmente, desapareceu com
ela", diz o musicólogo carioca
Marcelo Hazan, especialista no
compositor.
"Confirmo: o "Hino à Aclamação de D. João 6º" é, em disparado,
sua obra mais antiga. A importância deste achado não tem tamanho. A "Gazeta do Rio de Janeiro",
que cobriu em detalhe o evento,
não registra a peça", diz Hazan.
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