São Paulo, domingo, 28 de agosto de 2005

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CINEMA

Grandes estúdios promovem pesquisas de mercado e buscam explicação para o fracasso econômico da safra de verão

Hollywood discute diminuição de renda e bilheteria

SHARON WAXMAN
DO "NEW YORK TIMES", EM LOS ANGELES

Com os grandes filmes de verão encerrando a temporada, os problemas de bilheteria de Hollywood se concretizaram e a nova realidade causa preocupação na indústria cinematográfica. A queda nas vendas de ingressos com relação ao verão do ano passado deve atingir os 9% até a primeira segunda-feira de setembro. Na renda, o declínio é ainda mais preocupante, 11,5%, de acordo com a Exhibitor Relations, que acompanha os resultados de bilheteria nos Estados Unidos.
Há múltiplas teorias para explicar o declínio: falhas no marketing dos estúdios, a alta no preço da gasolina e o poder de atração de formas alternativas de entretenimento. Mas muitos executivos de cinema e especialistas do setor começam a concluir que há um fator mais básico e mais forte em jogo: muitos filmes atuais de Hollywood, dizem eles, simplesmente não são bons o bastante.
"Parte do problema se deve ao fato de que os filmes não vêm cumprindo as expectativas das audiências", disse Michael Lynton, presidente do conselho da Sony Pictures Entertainment, que fracassou com diversos de seus títulos. "Os espectadores já conhecem todos os truques de marketing e conseguem farejar os bons filmes e distingui-los dos ruins sem nenhuma dificuldade."
Até mesmo Robert Shaye, presidente do conselho da New Line Cinema, se preocupa quanto à capacidade da indústria. No passado recente, ele disse, "era possível contar que um número suficiente de pessoas assistisse ao filme, seja por hábito, tédio ou simples vontade de sair de casa. Havia essa mínima garantia". Com a concorrência dos videogames, centenas de canais de televisão e dos DVDs, esse deixou de ser o caso, afirmou.
Marc Shmuger, vice-presidente do conselho da Universal, disse que Hollywood vem se preocupando demais em retornos de curto prazo nas bilheterias e não dedica atenção suficiente ao que ele define como "o mais elementar dos fatores": a satisfação dos espectadores com a sua experiência cinematográfica.
"As pessoas estão começando a perceber que aquilo que viam como grande diversão de verão em temporadas passadas na verdade não era tão divertido."
Os maiores sucessos do verão do ano passado, entre os quais "Homem-Aranha 2", "Shrek 2" e "Harry Potter", tiveram desempenho mais ou menos semelhantes aos dos grandes sucessos deste ano, como "Guerra nas Estrelas -A Vingança dos Sith", "Batman Begins" e "Guerra dos Mundos". Mas muitos outros filmes de grande orçamento, entre os quais "A Ilha", fracassaram.
Tony Rothman, co-presidente do conselho da 20th Century Fox, é um dos poucos a não ver tendência negativa nos números. "Todo mundo gosta de dizer que vivemos a pior das eras, mas para mim as coisas parecem boas", disse o executivo, cujo estúdio produziu filmes que faturaram bem neste verão, como "Sr. e Sra. Smith" e "Quarteto Fantástico". Ele ressaltou, por exemplo, que com o advento dos DVDs a receita geral da indústria cinematográfica cresceu. "Para nós, os negócios estão saudáveis", afirmou.
No entanto, em quase todas as demais empresas do setor, a preocupação é compreensível pois é perceptível um declínio ao longo do tempo: o número bruto de espectadores nas salas de cinema, que não é afetado pela inflação, caiu para um ponto inferior ao registrado na metade de agosto de 2001, e as vendas de DVDs, embora continuem robustas, deixaram de subir exponencialmente.
Com bilhões de dólares em jogo, os nervos estão abalados. Na semana passada, John Fithian, presidente da Associação Nacional de Proprietários de Cinemas, acusou Robert A. Iger, que deve assumir a presidência executiva da Disney, de fazer uma "ameaça de morte" aos exibidores por ter sugerido que a lição a ser extraída da queda é que os leitores desejam que os títulos estejam disponíveis nas salas de exibição e em DVDs ao mesmo tempo. Iger observou que caso os estúdios ignorassem os desejos dos consumidores, o risco era deles. "Não podemos permitir que a tradição impeça os consumidores de agirem como preferem, ou desejam", disse ele.
Na Universal, Shmuger disse que pretende voltar a dedicar o "tempo, o cuidado e a paixão necessários" à produção de filmes. Parte dos títulos de seu estúdio para o verão, reconheceu, jamais deveriam ter sido rodados. Mas ele preferiu não identificá-los.


Tradução Paulo Migliacci


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