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CINEMA
Grandes estúdios promovem pesquisas de mercado e buscam explicação para o fracasso econômico da safra de verão
Hollywood discute diminuição de renda e bilheteria
SHARON WAXMAN
DO "NEW YORK TIMES", EM LOS ANGELES
Com os grandes filmes de verão
encerrando a temporada, os problemas de bilheteria de Hollywood se concretizaram e a nova
realidade causa preocupação na
indústria cinematográfica. A queda nas vendas de ingressos com
relação ao verão do ano passado
deve atingir os 9% até a primeira
segunda-feira de setembro. Na
renda, o declínio é ainda mais
preocupante, 11,5%, de acordo
com a Exhibitor Relations, que
acompanha os resultados de bilheteria nos Estados Unidos.
Há múltiplas teorias para explicar o declínio: falhas no marketing dos estúdios, a alta no preço
da gasolina e o poder de atração
de formas alternativas de entretenimento. Mas muitos executivos
de cinema e especialistas do setor
começam a concluir que há um
fator mais básico e mais forte em
jogo: muitos filmes atuais de
Hollywood, dizem eles, simplesmente não são bons o bastante.
"Parte do problema se deve ao
fato de que os filmes não vêm
cumprindo as expectativas das
audiências", disse Michael
Lynton, presidente do conselho
da Sony Pictures Entertainment,
que fracassou com diversos de
seus títulos. "Os espectadores já
conhecem todos os truques de
marketing e conseguem farejar os
bons filmes e distingui-los dos
ruins sem nenhuma dificuldade."
Até mesmo Robert Shaye, presidente do conselho da New Line
Cinema, se preocupa quanto à capacidade da indústria. No passado recente, ele disse, "era possível
contar que um número suficiente
de pessoas assistisse ao filme, seja
por hábito, tédio ou simples vontade de sair de casa. Havia essa
mínima garantia". Com a concorrência dos videogames, centenas
de canais de televisão e dos DVDs,
esse deixou de ser o caso, afirmou.
Marc Shmuger, vice-presidente
do conselho da Universal, disse
que Hollywood vem se preocupando demais em retornos de
curto prazo nas bilheterias e não
dedica atenção suficiente ao que
ele define como "o mais elementar dos fatores": a satisfação dos
espectadores com a sua experiência cinematográfica.
"As pessoas estão começando a
perceber que aquilo que viam como grande diversão de verão em
temporadas passadas na verdade
não era tão divertido."
Os maiores sucessos do verão
do ano passado, entre os quais
"Homem-Aranha 2", "Shrek 2" e
"Harry Potter", tiveram desempenho mais ou menos semelhantes aos dos grandes sucessos deste
ano, como "Guerra nas Estrelas
-A Vingança dos Sith", "Batman
Begins" e "Guerra dos Mundos".
Mas muitos outros filmes de
grande orçamento, entre os quais
"A Ilha", fracassaram.
Tony Rothman, co-presidente
do conselho da 20th Century Fox,
é um dos poucos a não ver tendência negativa nos números.
"Todo mundo gosta de dizer que
vivemos a pior das eras, mas para
mim as coisas parecem boas", disse o executivo, cujo estúdio produziu filmes que faturaram bem
neste verão, como "Sr. e Sra.
Smith" e "Quarteto Fantástico".
Ele ressaltou, por exemplo, que
com o advento dos DVDs a receita geral da indústria cinematográfica cresceu. "Para nós, os negócios estão saudáveis", afirmou.
No entanto, em quase todas as
demais empresas do setor, a preocupação é compreensível pois é
perceptível um declínio ao longo
do tempo: o número bruto de espectadores nas salas de cinema,
que não é afetado pela inflação,
caiu para um ponto inferior ao registrado na metade de agosto de
2001, e as vendas de DVDs, embora continuem robustas, deixaram
de subir exponencialmente.
Com bilhões de dólares em jogo, os nervos estão abalados. Na
semana passada, John Fithian,
presidente da Associação Nacional de Proprietários de Cinemas,
acusou Robert A. Iger, que deve
assumir a presidência executiva
da Disney, de fazer uma "ameaça
de morte" aos exibidores por ter
sugerido que a lição a ser extraída
da queda é que os leitores desejam
que os títulos estejam disponíveis
nas salas de exibição e em DVDs
ao mesmo tempo. Iger observou
que caso os estúdios ignorassem
os desejos dos consumidores, o
risco era deles. "Não podemos
permitir que a tradição impeça os
consumidores de agirem como
preferem, ou desejam", disse ele.
Na Universal, Shmuger disse
que pretende voltar a dedicar o
"tempo, o cuidado e a paixão necessários" à produção de filmes.
Parte dos títulos de seu estúdio
para o verão, reconheceu, jamais
deveriam ter sido rodados. Mas
ele preferiu não identificá-los.
Tradução Paulo Migliacci
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