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"Senti que interpretava o próprio Trier", diz atriz
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM PARIS
Leia a seguir entrevista com a
atriz Charlotte Gainsbourg.
(GL)
FOLHA - Lars von Trier tem fama de
maltratar suas atrizes... Bjork e Nicole Kidman dizem ter sofrido nas
mãos do diretor. Como foi a sua experiência nesse sentido?
CHARLOTTE GAINSBOURG - Eu ouvi
muito a respeito, mas resolvi
fazer o teste ainda assim. Li o
roteiro e tive medo, mas muito
interesse. No teste, ele foi obscuro, pensei que não tinha se
interessado. Mas uma semana
depois, me ligou. Até agora não
sei por que me escolheu. Lars
von Trier é um homem extremamente tímido. Continua um
desconhecido, mas desenvolvemos uma cumplicidade durante a realização do filme.
FOLHA - Quais foram as principais
dificuldades da filmagem?
GAINSBOURG - Ele tinha ataques
de pânico e sabíamos que podia
deixar o set a qualquer momento. Estava ansiosa, porque precisava dele como suporte. Mas
foi uma experiência impressionante. A cena de estrangulamento foi sem dúvida a mais difícil de ser feita. Repetimos
muitas vezes, eu achava que
não conseguiria. Lars me mostrou vídeos contendo outras
cenas impressionantes de mulheres sufocadas. Ele queria
que a coisa fosse real, que eu
aguentasse o máximo que pudesse sem respirar. A verdade é
que mais extremo vai ficando,
mais interessante é o trabalho.
FOLHA - E as cenas eróticas?
GAINSBOURG - Nós tínhamos
dublês para cenas de sexo explícito, mas há muitas outras
cenas de nudez e intimidade.
Eu tive uma carreira em grande
medida pudica. Em meus outros filmes nunca havia feito
nada semelhante, procurei
aguentar o máximo possível,
esperando para chamar dublês
só em casos extremos. Tive
uma confiança cega na direção.
Trier garantiu que não teria sobre essas cenas um olhar sujo,
do qual eu teria vergonha depois. Ele cumpriu sua palavra.
FOLHA - Como você define sua personagem?
GAINSBOURG - A personagem
tem um lado extremamente
obscuro. Até hoje não sei quem
ela é. Se vocês repararem bem,
nem ele nem ela não têm nome!
Ela é tirada do nada, não se baseia em nada. Tive de fazer esforço para não conectar minha
vida pessoal naquilo tudo, deixar a imagem dos meus filhos
de fora. Na hora de construir
seu caráter, senti que de alguma maneira estava interpretando o próprio Trier. Que ele
estava muito próximo das emoções da personagem e que os
ataques de pânico dela eram
um espelho de seus ataques. Algumas vezes pedi a ele que me
descrevesse seus sintomas.
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