São Paulo, sexta-feira, 28 de agosto de 2009

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"Senti que interpretava o próprio Trier", diz atriz

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM PARIS

Leia a seguir entrevista com a atriz Charlotte Gainsbourg. (GL)

 

FOLHA - Lars von Trier tem fama de maltratar suas atrizes... Bjork e Nicole Kidman dizem ter sofrido nas mãos do diretor. Como foi a sua experiência nesse sentido?
CHARLOTTE GAINSBOURG
- Eu ouvi muito a respeito, mas resolvi fazer o teste ainda assim. Li o roteiro e tive medo, mas muito interesse. No teste, ele foi obscuro, pensei que não tinha se interessado. Mas uma semana depois, me ligou. Até agora não sei por que me escolheu. Lars von Trier é um homem extremamente tímido. Continua um desconhecido, mas desenvolvemos uma cumplicidade durante a realização do filme.

FOLHA - Quais foram as principais dificuldades da filmagem?
GAINSBOURG
- Ele tinha ataques de pânico e sabíamos que podia deixar o set a qualquer momento. Estava ansiosa, porque precisava dele como suporte. Mas foi uma experiência impressionante. A cena de estrangulamento foi sem dúvida a mais difícil de ser feita. Repetimos muitas vezes, eu achava que não conseguiria. Lars me mostrou vídeos contendo outras cenas impressionantes de mulheres sufocadas. Ele queria que a coisa fosse real, que eu aguentasse o máximo que pudesse sem respirar. A verdade é que mais extremo vai ficando, mais interessante é o trabalho.

FOLHA - E as cenas eróticas?
GAINSBOURG
- Nós tínhamos dublês para cenas de sexo explícito, mas há muitas outras cenas de nudez e intimidade. Eu tive uma carreira em grande medida pudica. Em meus outros filmes nunca havia feito nada semelhante, procurei aguentar o máximo possível, esperando para chamar dublês só em casos extremos. Tive uma confiança cega na direção. Trier garantiu que não teria sobre essas cenas um olhar sujo, do qual eu teria vergonha depois. Ele cumpriu sua palavra.

FOLHA - Como você define sua personagem?
GAINSBOURG
- A personagem tem um lado extremamente obscuro. Até hoje não sei quem ela é. Se vocês repararem bem, nem ele nem ela não têm nome! Ela é tirada do nada, não se baseia em nada. Tive de fazer esforço para não conectar minha vida pessoal naquilo tudo, deixar a imagem dos meus filhos de fora. Na hora de construir seu caráter, senti que de alguma maneira estava interpretando o próprio Trier. Que ele estava muito próximo das emoções da personagem e que os ataques de pânico dela eram um espelho de seus ataques. Algumas vezes pedi a ele que me descrevesse seus sintomas.

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