São Paulo, sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Não me importo com o público; não espero nada dele", afirma Von Trier

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM PARIS

Leia a seguir entrevista com o diretor Lars von Trier.

(GL)

 

FOLHA - Por que decidiu fazer "Anticristo"?
LARS VON TRIER
- Eu faço meus filmes porque devo fazê-los. O filme me tirou da cama onde estava depois de meses. Quando escrevi o roteiro de "Anticristo" estava tentando me libertar. Não nego que ele é uma espécie de terapia. O filme é em estilo documental, mas com uma enorme carga emocional.

FOLHA - E a terapia funcionou?
VON TRIER
- Me fez sair da cama para trabalhar, ainda que tenha sido um trabalho cheio de limitações. Normalmente teria carregando a câmera, mas minhas mãos estavam tremendo... Meu corpo não podia sequer fazer um filme, perceber isso foi humilhante. Como não filmei, alguns trechos não saíram exatamente como tinha planejado. Por outro lado, como não podia estar atrás da câmera, estive muito perto dos atores, criei uma comunicação estreita e direta. Depois de muitas crises, passei a gostar do resultado.

FOLHA - A reação do público alternou-se entre aplausos, vaias, gritos. De maneira geral, a plateia ficou chocada...
VON TRIER
- Eu faço meus filmes sem me importar com o público, não espero nada dele. Mas também não me sinto no dever de explicar o que faço. Meu filme tem cenas de horror em que o público ri, mas acho que ri de nervoso. O que ninguém percebe é que meus filmes são feitos com muitos elementos e opiniões que não necessariamente coincidem com minhas opiniões pessoais. É preciso separar as coisas. Muitas vezes ponho em discussão ideias nas quais eu mesmo não acredito. Para mim, é obvio que a religião é feita pelos homens. E este é o o meu filme sobre religião.

FOLHA - E por que dedicou o filme a Tarkovski?
VON TRIER
- Tarkovski pertence à geração de cineastas que precedeu à minha, me sinto extremamente ligado a ele, como também a Bergman. Para mim, Tarkovski é uma espécie de deus a quem eu teria dedicado todos os meus filmes. Gosto especialmente da sua forma de encarar e filmar a natureza.

Texto Anterior: "Senti que interpretava o próprio Trier", diz atriz
Próximo Texto: Crítica/"Anticristo"/Gostei: Lars von Trier investe no mal-estar em filme único
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.