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Crítica/"O Milagre..."
Sanfoneiros conduzem bom documentário
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
A jornada musical do documentário "O Milagre
de Santa Luzia" conduz
o espectador por uma espécie
de "Oiapoque a Chuí" da sanfona. Os marcos extremos, neste
caso, são a pequena Exu (PE),
por onde começa a viagem, e
Bagé (RS), uma de suas paradas
intermediárias.
Além de se deter sobre a presença do instrumento nas regiões Nordeste e Sul do país, o
diretor, roteirista, fotógrafo e
montador Sérgio Roizenblit
também percorre, em seu primeiro longa-metragem, o Centro-Oeste e o Sudeste. Na maior
parte do trajeto, é acompanhado por um guia muito especial,
o sanfoneiro Dominguinhos.
"Sua sanfona saudosa, com
que vivia abraçado, era santa
milagrosa ressuscitando o passado", diz o poema que Patativa
do Assaré (1909-2002) dedicou
à memória de Luiz Gonzaga
(1912-1989), nascido em Exu no
dia de Santa Luzia, 13 de dezembro, e batizado em homenagem a ela.
Gonzaga, Patativa -que gravou sua participação no documentário pouco antes de morrer- e a tradição poética e musical nordestina são o ponto de
partida para que Roizenblit e
Dominguinhos apresentem os
artistas da sanfona como representantes de uma estirpe de
grande apelo popular.
O caráter informativo de "O
Milagre de Santa Luzia" possibilita compreender como a
sanfona -também chamada de
acordeão, fole, gaita, pé-de-bode e oito baixos, de acordo com
a região- se enraizou em manifestações musicais muito distintas que se mantêm vivas e
com fôlego intenso, inclusive
em metrópoles.
Contribui para isso a pesquisa que Roizenblit já havia desenvolvido para a realização do
vídeo "O Brasil da Sanfona", do
projeto Memória Brasileira, de
Myriam Taubkin.
A riqueza de seu documentário, no entanto, envolve a felicidade de registrar situações que
traduzem o apelo sentimental
da sanfona melhor do que qualquer explicação didática.
É o caso, por exemplo, do
inesperado encontro, em plena
estrada, entre Dominguinhos e
um grupo de vaqueiros que voltavam para casa depois de uma
vaquejada, devidamente paramentados, e reconhecem o sanfoneiro, com quem passam a
cantar. Ou do depoimento de
Pinto do Acordeon, que recorda o episódio em que interpretou versão impagável de "New
York, New York".
"O Milagre de Santa Luzia"
foi também bafejado pela sorte
ao conseguir registros de duas
lendas da sanfona que morreram logo em seguida: Mario
Zan (1920-2006), que fala com
orgulho de suas raízes caipiras,
e Sivuca (1930-2006), alegre
como uma criança por tocar
com Dominguinhos.
O MILAGRE DE SANTA LUZIA
Direção: Sérgio Roizenblit
Produção: Brasil, 2008
Onde: Espaço Unibanco Augusta, Frei
Caneca Unibanco Arteplex e Shopping D
Classificação: livre
Avaliação: bom
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