São Paulo, sexta-feira, 28 de agosto de 2009

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Crítica/"O Milagre..."

Sanfoneiros conduzem bom documentário

SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

A jornada musical do documentário "O Milagre de Santa Luzia" conduz o espectador por uma espécie de "Oiapoque a Chuí" da sanfona. Os marcos extremos, neste caso, são a pequena Exu (PE), por onde começa a viagem, e Bagé (RS), uma de suas paradas intermediárias.
Além de se deter sobre a presença do instrumento nas regiões Nordeste e Sul do país, o diretor, roteirista, fotógrafo e montador Sérgio Roizenblit também percorre, em seu primeiro longa-metragem, o Centro-Oeste e o Sudeste. Na maior parte do trajeto, é acompanhado por um guia muito especial, o sanfoneiro Dominguinhos.
"Sua sanfona saudosa, com que vivia abraçado, era santa milagrosa ressuscitando o passado", diz o poema que Patativa do Assaré (1909-2002) dedicou à memória de Luiz Gonzaga (1912-1989), nascido em Exu no dia de Santa Luzia, 13 de dezembro, e batizado em homenagem a ela.
Gonzaga, Patativa -que gravou sua participação no documentário pouco antes de morrer- e a tradição poética e musical nordestina são o ponto de partida para que Roizenblit e Dominguinhos apresentem os artistas da sanfona como representantes de uma estirpe de grande apelo popular.
O caráter informativo de "O Milagre de Santa Luzia" possibilita compreender como a sanfona -também chamada de acordeão, fole, gaita, pé-de-bode e oito baixos, de acordo com a região- se enraizou em manifestações musicais muito distintas que se mantêm vivas e com fôlego intenso, inclusive em metrópoles.
Contribui para isso a pesquisa que Roizenblit já havia desenvolvido para a realização do vídeo "O Brasil da Sanfona", do projeto Memória Brasileira, de Myriam Taubkin.
A riqueza de seu documentário, no entanto, envolve a felicidade de registrar situações que traduzem o apelo sentimental da sanfona melhor do que qualquer explicação didática.
É o caso, por exemplo, do inesperado encontro, em plena estrada, entre Dominguinhos e um grupo de vaqueiros que voltavam para casa depois de uma vaquejada, devidamente paramentados, e reconhecem o sanfoneiro, com quem passam a cantar. Ou do depoimento de Pinto do Acordeon, que recorda o episódio em que interpretou versão impagável de "New York, New York".
"O Milagre de Santa Luzia" foi também bafejado pela sorte ao conseguir registros de duas lendas da sanfona que morreram logo em seguida: Mario Zan (1920-2006), que fala com orgulho de suas raízes caipiras, e Sivuca (1930-2006), alegre como uma criança por tocar com Dominguinhos.


O MILAGRE DE SANTA LUZIA

Direção: Sérgio Roizenblit
Produção: Brasil, 2008
Onde: Espaço Unibanco Augusta, Frei Caneca Unibanco Arteplex e Shopping D
Classificação: livre
Avaliação: bom




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