São Paulo, sexta-feira, 28 de agosto de 2009

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Crítica/"O Nome Dela É Sabine"

Atriz estreia na direção com filme implacável

Documentário de Sandrine Bonnaire mostra cotidiano da sua irmã autista

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Que ninguém se engane com a aparência delicada ou a imagem 000000glamourosa de Sandrine Bonnaire, atriz bem conhecida e diretora deste filme. "O Nome Dela É Sabine" é um documentário implacável em torno de Sabine, sua irmã autista e seu destino.
Autista, define-se em determinado momento, é alguém com dificuldade intransponível de convivência. Algo que se manifesta nos tempos de colégio, agrava-se na adolescência e adquire proporções catastróficas depois que Sabine, por circunstâncias familiares, acaba internada durante cinco anos numa instituição psiquiátrica.
A circunstância está longe de ser inédita: o mal psíquico, recalque persistente, leva ao desaparecimento do paciente (isto é, ele deixa de ser visto) e, com isso, desdobra-se, foge ao controle mesmo dos parentes.

Dois momentos
O filme de Sandrine é composto de dois momentos. O primeiro diz respeito à juventude de Sabine, documentada em vários filmes familiares. Vê-se ali uma garota em cujo olhar estampa-se o sofrimento, sem dúvida, mas também uma enorme vivacidade.
A segunda Sabine é interna de uma instituição especializada -não o hospital psiquiátrico mas uma clínica aberta, entre outros, graças à "notoriedade" (o termo é dela) da autora do filme. Sabine é outra. Gorda, apática, fatigada, insegura.
Ela está há um bom tempo nessa clínica e, ao que se diz, melhorou muito em relação à sua chegada quando saiu da instituição psiquiátrica. Entre esses dois momentos, existe a narrativa em off de Sandrine, aproximando os dois tempos.
"O Nome Dela É Sabine" configura-se assim como uma mistura entre as dores experimentadas por Sabine (e, depreende-se, por outros internos da instituição) e as vivenciadas por Sandrine, que atribui à psiquiatria não os males mas a substancial deterioração de suas faculdades.
Certo ou errado o julgamento, o fato é que o filme de Sandrine nos introduz em um universo de terror que, embora não deixe de evocar as grandes monstruosidades científicas do cinema clássico (em particular o dos anos 1930), traz para perto do espectador a terrível dimensão do presente, do vivido, do concreto ("Então ela assimilou bem a lição de Pialat; ela mostra tudo", comenta o crítico Luis Carlos Oliveira Júnior).
"O Nome Dela É Sabine" não é propriamente um "filme de diversão". Quem está atrás disso é melhor fazer meia-volta.
É um documentário de enorme gravidade, tão mais duro quanto Sandrine recusa-se a pôr seu filme a serviço do sentimentalismo. Ao contrário, é sua crua frieza que nos leva a compreender o sofrimento atroz de Sabine e a partilhar a dor de sua irmã.


O NOME DELA É SABINE

Direção: Sandrine Bonnaire
Produção: França, 2007
Com: Sabine Bonnaire, Sandrine Bonnaire
Onde: Cine Bombril e Frei Caneca Unibanco Arteplex
Classificação: não indicado para menores de 14 anos
Avaliação: bom




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