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Crítica/"O Nome Dela É Sabine"
Atriz estreia na direção com filme implacável
Documentário de Sandrine Bonnaire mostra cotidiano da sua irmã autista
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Que ninguém se engane
com a aparência delicada ou a imagem
000000glamourosa de Sandrine Bonnaire, atriz bem conhecida e diretora deste filme. "O
Nome Dela É Sabine" é um documentário implacável em torno de Sabine, sua irmã autista e
seu destino.
Autista, define-se em determinado momento, é alguém
com dificuldade intransponível
de convivência. Algo que se manifesta nos tempos de colégio,
agrava-se na adolescência e adquire proporções catastróficas
depois que Sabine, por circunstâncias familiares, acaba internada durante cinco anos numa
instituição psiquiátrica.
A circunstância está longe de
ser inédita: o mal psíquico, recalque persistente, leva ao desaparecimento do paciente (isto é, ele deixa de ser visto) e,
com isso, desdobra-se, foge ao
controle mesmo dos parentes.
Dois momentos
O filme de Sandrine é composto de dois momentos. O primeiro diz respeito à juventude
de Sabine, documentada em
vários filmes familiares. Vê-se
ali uma garota em cujo olhar estampa-se o sofrimento, sem
dúvida, mas também uma
enorme vivacidade.
A segunda Sabine é interna
de uma instituição especializada -não o hospital psiquiátrico
mas uma clínica aberta, entre
outros, graças à "notoriedade"
(o termo é dela) da autora do
filme. Sabine é outra. Gorda,
apática, fatigada, insegura.
Ela está há um bom tempo
nessa clínica e, ao que se diz,
melhorou muito em relação à
sua chegada quando saiu da
instituição psiquiátrica. Entre
esses dois momentos, existe a
narrativa em off de Sandrine,
aproximando os dois tempos.
"O Nome Dela É Sabine"
configura-se assim como uma
mistura entre as dores experimentadas por Sabine (e, depreende-se, por outros internos da instituição) e as vivenciadas por Sandrine, que atribui à psiquiatria não os males
mas a substancial deterioração
de suas faculdades.
Certo ou errado o julgamento, o fato é que o filme de Sandrine nos introduz em um universo de terror que, embora
não deixe de evocar as grandes
monstruosidades científicas do
cinema clássico (em particular
o dos anos 1930), traz para perto do espectador a terrível dimensão do presente, do vivido,
do concreto ("Então ela assimilou bem a lição de Pialat; ela
mostra tudo", comenta o crítico Luis Carlos Oliveira Júnior).
"O Nome Dela É Sabine" não
é propriamente um "filme de
diversão". Quem está atrás disso é melhor fazer meia-volta.
É um documentário de enorme gravidade, tão mais duro
quanto Sandrine recusa-se a
pôr seu filme a serviço do sentimentalismo. Ao contrário, é
sua crua frieza que nos leva a
compreender o sofrimento
atroz de Sabine e a partilhar a
dor de sua irmã.
O NOME DELA É SABINE
Direção: Sandrine Bonnaire
Produção: França, 2007
Com: Sabine Bonnaire, Sandrine
Bonnaire
Onde: Cine Bombril e Frei Caneca Unibanco Arteplex
Classificação: não indicado para
menores de 14 anos
Avaliação: bom
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