São Paulo, sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Crítica/"Normais 2"

Fórmula enferrujada faz mal a filme

RICARDO CALIL
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"Os Normais" (2001-2003) foi um marco na TV brasileira. Um filho bastardo de "Malu Mulher" com "TV Pirata". Uma série que, ao mesmo tempo, tinha algo a dizer sobre os relacionamentos da sua época e se fazia valer da renovação do humor televisivo por uma geração privilegiada de atores cômicos.
O primeiro filme, de 2003, já demonstrava cansaço, mas não a comprometia. Podia ser visto como um final de temporada, maior no tamanho e menor na qualidade, o que não prejudicou seu sucesso de bilheteria.
O caso de "Os Normais 2 - A Noite Mais Maluca de Todas" é um tanto diferente, e bem mais grave. A continuação chega aos cinemas seis anos depois do final da série e do primeiro longa -o que, de cara, determina dois desafios: estar à altura do original e atrair um interesse de velhos e novos fãs que podem ter se dispersado com o tempo.
Quanto à última questão, só o público poderá responder. Sobre a primeira, a resposta é clara: "Os Normais 2" faz mal à marca. Os admiradores da série irão reencontrar seus personagens queridos, Rui (Luiz Fernando Guimarães) e Vani (Fernanda Torres), querendo apimentar a relação com um "ménage à trois". Mas talvez não reconheçam mais o humor.
A comédia escrachada e muitas vezes sofisticada -que devia tanto à trupe carioca Asdrúbal Trouxe o Trombone quanto a "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa" (1977) de Woody Allen- foi substituída por um humor de provocação gratuita e de duplos sentidos fáceis, algo menor na fórmula original.
Os desavisados podem pensar que, apesar da casca moderna, o filme descende do velho humor de programas como "Zorra Total", e não da geração que veio para derrubá-lo. Nesse sentido, é uma involução.
Outra influência pode ser pressentida no subtítulo ("a noite mais maluca de todas") e talvez indique um apelo ao público da comédia juvenil americana. O filme segue a trajetória do subgênero: situações sexuais supostamente ousadas, piadas politicamente incorretas e um final apaziguador e convencional.
A última sequência deixa claro um problema doloroso para os fãs: a química entre os atores, trunfo do programa, mostra-se enferrujada. Mas o filme cumpre sua função de mercado: sedimentar no Brasil a ideia de estender o sucesso de uma marca, como "Se Eu Fosse Você". "Os Normais 2" pode não se justificar como filme, mas faz sentido como produto.


OS NORMAIS 2 - A NOITE A MAIS MALUCA DE TODAS

Direção: José Alvarenga Jr.
Produção: Brasil, 2009
Com: Luiz Fernando Guimarães, Fernanda Torres
Onde: ABC Plaza Shopping, Boulevard Tatuapé, Bristol e circuito
Classificação: 14 anos
Avaliação: ruim




Texto Anterior: "Fazer filmes para a massa é mais difícil"
Próximo Texto: Lobo Antunes namora brasileira
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.