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LIVRO
"Rock and Hard Places" investiga mundo pop e mistura literatura de viagem com crítica musical
Obra sintetiza cultura pop globalizada
SYLVIA COLOMBO
de Londres
Acompanhando a banda britânica Radiohead pelos Estados
Unidos, os irlandeses do U2 em
Sarajevo, ou ainda investigando o
"underground" cultural dos países bálticos, do Líbano, Afeganistão ou Marrocos, o australiano radicado em Londres Andrew Mueller colheu material para o que ele
chama de "uma síntese da cultura
pop em tempos de globalização".
"Rock and Hard Places", uma
mistura de literatura de viagem
com crítica musical, acaba de ser
lançado no Reino Unido defendendo a estranha teoria que aproxima o jornalista, no bastidor de
um show de rock, do soldado, na
trincheira em plena guerra.
Mueller, jornalista e escritor,
concedeu entrevista à Folha em
sua casa, em Londres. Leia os
principais trechos.
Folha - Você cita a cena que
viu de um curdo limpando sua
arma ao som de "Loosing my
Religion", do R.E.M., como
exemplo da globalização da
música pop. Isso está relacionado com a massificação pelo
mercado ou se trata de uma
identidade cultural mundial?
Andrew Mueller - Acho que as
duas coisas andam de mãos dadas. Há o componente do mercado, é claro, mas acho que isso interage com o produto deste comércio. Há a indústria cultural,
que, por meio da TV, Internet
etc., põe seus produtos à venda
para o mundo. Mas isso gera interesse pela cultura ocidental e até
uma certa identificação com alguns temas. Michael Stipe (cantor
do R.E.M.), falando de sua descrença existencial, passa a ser universal, sim. Por isso é tambémquestão de identidade cultural.
Folha - Como você explica o
sucesso crescente de títulos de
literatura de viagem enquanto a
globalização encurta as distâncias geográficas entre os países?
Mueller - Acho que não há contradição, há uma mudança no tipo de interesse das pessoas. Há
dez, quinze anos, tanto um conflito nos Bálcãs quanto o megashow
de uma banda famosa na ex-União Soviética fariam com que
as pessoas quisessem ouvir notícias sobre o fato, ter acesso a informações em primeira mão.
Hoje, isto é relativo, as pessoas
querem interagir mais com a realidade, seja com a guerra, seja
com um show que esteja acontecendo num lugar distante do planeta. Por isso, acho que relatos
pessoais são valorizados, daí o sucesso da literatura de viagem, ou
de viagem musical, como é o caso
do livro.
Folha - Quer dizer, uma coisa é
abrir a página da Internet com
informações sobre o Marrocos,
outra é ler o capítulo do seu livro sobre o show que o Def Leppard fez lá?
Mueller - Exato, ninguém vai ler
meu livro pra saber a ordem das
músicas que os caras tocaram,
mas sim pra sentir os cheiros que
eu senti, pra fazer as perguntas
comuns como as que eu fiz para o
taxista que me levou do hotel até o
show. A cultura ocidental gosta de
narrativas, isso é forte para sucumbir frente a qualquer mídia.
Folha - Apesar de no livro você
adotar um conceito globalizado
da cultura pop, em cada país visitado seu interesse é ressaltar
uma reação particular...
Mueller - É por isso que, na verdade, não gosto tanto assim do
conceito de globalização, porque
às vezes as pessoas o interpretam
como uma massificação na recepção dos produtos da indústria
cultural. Isso não é verdade. Em
cada cultura, uma música, um filme, tem um impacto diferente.
Folha - Dê exemplos.
Mueller - Estive em Sarajevo
antes e depois da guerra. O que
tocava nas rádios antes? Pop americano, baladas, bandinhas bem
comerciais. Depois, a cena grunge
e heavy metal da região cresceu,
eram os sons que predominavam
no rádio. Por quê? Era uma catarse de sentimentos, sensação de liberdade e alegria que se apropriavam de um elemento cultural que
estava no ar, como o grunge, que é
um estilo pesado, para expressar
uma situação cultural específica.
Folha - Qual vai ser o som das
rádios de Kosovo?
Mueller - Talvez aconteça o
mesmo. Em Belgrado, por exemplo, sei que o rock pesado sempre
teve muito espaço, é um reflexo
do domínio regional que a Sérvia
exerce, a juventude iugoslava absorve isso de alguma maneira.
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