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FESTIVAL DE CURTAS
Gary Graver falou, após a exibição de curtas com Orson Welles, sobre seu método nos anos 70
Cameraman lembra gênio de Welles
PAULO SANTOS LIMA
especial para a Folha
"Rosebud", a
clássica e até batida
palavra que faz
lembrar o gênio Orson Welles, não foi
recitada na noite da
última quinta, quando, após a sessão "Orson Welles em Curta", no
Espaço Unibanco, foi aberto um
debate com Gary Graver, que foi
cameraman e diretor de fotografia de Welles e hoje cuida dos arquivos do cineasta.
Promovido pela Folha e pela
Associação Cultural Kinoforum,
o debate mediado pelo crítico
Amir Labaki versou, sobretudo,
sobre "The Other Side of the
Wind", que Graver fotografou entre 70 a 75 e o método do diretor.
O público, que lotou a apertada
sala 4, se divertiu com os comerciais em que Welles atuou, nos
anos 70 e já com a característica
barba grisalha que o acompanharia até sua morte (em 1985), divulgando um uísque japonês, o
G&G, sempre sarcástico.
Seu primeiro telefilme, "Fonte
da Juventude" (58), também foi
ovacionado pelos espectadores.
Não por menos, já que ele próprio
aparece narrando uma ousada
história de vingança.
Gary Graver falou sem a companhia de Jillian Kesner, que cuida
com ele do acervo de obras do diretor, iniciado com a aquisição de
"O Processo".
O diretor Joel Pizzini lançou da
platéia uma pergunta que contrariou a tese de que Welles era apenas um proscrito em Hollywood,
após suas transgressões em "Soberba" (42) e "It's All True" (42).
Segundo Graver, Welles continuou recebendo convites para dirigir filmes em Hollywood.
Mas, como ele pretendia realizar apenas seus projetos pessoais,
em que tivesse controle pleno de
criação, ele recusava os demais,
sempre comerciais.
Graver salientou que Welles
pensava num cinema tecnicamente avançado, tendo como
projeto, nos anos 80, um filme rodado em película (planos abertos)
e em vídeo (planos fechados).
O cameraman de Welles falou
sobre quando se conheceram
-"Welles me atendeu de pijama"- e de como começaram a
trabalhar, sobretudo em "The
Other Side of the Wind", em 70.
"É um filme bem fragmentado,
uma linguagem que o diretor vinha abraçando, e as cenas que faltam já foram meio que determinadas por ele, possibilitando sua
conclusão, algo que estamos tentando para logo".
O palestrante lembrou do gosto
do cineasta por números de teatro
e de mágica -como pôde ser visto em alguns curtas exibidos na
noite, com um Welles com a varinha na mão e a cartola na cabeça.
O rigor, o perfeccionismo e o
gênio explosivo de Orson Welles
foram lembrados por Graver. "No
início das filmagens de "The Other
Side...", Welles disse para almoçarmos sempre com calma, podendo ficar horas à mesa, já que
trabalhávamos muito e só faltávamos se doentes. Pois levamos
uma hora e meia na refeição e,
quando voltamos, ele estava na
porta do set, irado. Perguntou por
que demoramos tanto para comer e, dali em diante, passamos a
lanchar sanduíches", contou.
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