São Paulo, Sábado, 28 de Agosto de 1999
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FESTIVAL DE CURTAS
Gary Graver falou, após a exibição de curtas com Orson Welles, sobre seu método nos anos 70
Cameraman lembra gênio de Welles

PAULO SANTOS LIMA
especial para a Folha


"Rosebud", a clássica e até batida palavra que faz lembrar o gênio Orson Welles, não foi recitada na noite da última quinta, quando, após a sessão "Orson Welles em Curta", no Espaço Unibanco, foi aberto um debate com Gary Graver, que foi cameraman e diretor de fotografia de Welles e hoje cuida dos arquivos do cineasta.
Promovido pela Folha e pela Associação Cultural Kinoforum, o debate mediado pelo crítico Amir Labaki versou, sobretudo, sobre "The Other Side of the Wind", que Graver fotografou entre 70 a 75 e o método do diretor.
O público, que lotou a apertada sala 4, se divertiu com os comerciais em que Welles atuou, nos anos 70 e já com a característica barba grisalha que o acompanharia até sua morte (em 1985), divulgando um uísque japonês, o G&G, sempre sarcástico.
Seu primeiro telefilme, "Fonte da Juventude" (58), também foi ovacionado pelos espectadores. Não por menos, já que ele próprio aparece narrando uma ousada história de vingança.
Gary Graver falou sem a companhia de Jillian Kesner, que cuida com ele do acervo de obras do diretor, iniciado com a aquisição de "O Processo".
O diretor Joel Pizzini lançou da platéia uma pergunta que contrariou a tese de que Welles era apenas um proscrito em Hollywood, após suas transgressões em "Soberba" (42) e "It's All True" (42). Segundo Graver, Welles continuou recebendo convites para dirigir filmes em Hollywood.
Mas, como ele pretendia realizar apenas seus projetos pessoais, em que tivesse controle pleno de criação, ele recusava os demais, sempre comerciais.
Graver salientou que Welles pensava num cinema tecnicamente avançado, tendo como projeto, nos anos 80, um filme rodado em película (planos abertos) e em vídeo (planos fechados).
O cameraman de Welles falou sobre quando se conheceram -"Welles me atendeu de pijama"- e de como começaram a trabalhar, sobretudo em "The Other Side of the Wind", em 70. "É um filme bem fragmentado, uma linguagem que o diretor vinha abraçando, e as cenas que faltam já foram meio que determinadas por ele, possibilitando sua conclusão, algo que estamos tentando para logo".
O palestrante lembrou do gosto do cineasta por números de teatro e de mágica -como pôde ser visto em alguns curtas exibidos na noite, com um Welles com a varinha na mão e a cartola na cabeça.
O rigor, o perfeccionismo e o gênio explosivo de Orson Welles foram lembrados por Graver. "No início das filmagens de "The Other Side...", Welles disse para almoçarmos sempre com calma, podendo ficar horas à mesa, já que trabalhávamos muito e só faltávamos se doentes. Pois levamos uma hora e meia na refeição e, quando voltamos, ele estava na porta do set, irado. Perguntou por que demoramos tanto para comer e, dali em diante, passamos a lanchar sanduíches", contou.


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