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Diretor criou curso de cinema
especial para a Folha
O veterano diretor Rodolfo Nanni tem poucos e sólidos filmes realizados. É o autor de um dos primeiros infanto-juvenis brasileiros, "O
Saci" (1954), baseado em
Monteiro Lobato. Após vários documentários, seu segunda longa de ficção foi
"Cordélia Cordélia" (1971),
adaptação da peça de Antônio Bivar, com a inesquecível Lilian Lemmertz, ganhadora do prêmio Coruja de
Ouro pelo papel-título. Ambos os filmes são exibidos
pelo Canal Brasil (Globosat).
Nanni dedica-se ao ensino
desde 1969, quando criou o
curso de cinema da Faap
(Faculdade Armando Álvares Penteado), em São Paulo,
onde ministra aulas de direção. Estudante de pintura
em Paris nos anos 40, abandonou ateliês para cursar cinema no IDHEC.
Em São Paulo, conversou
com sua musa Tarsila e conheceu os modernistas Mário de Andrade, Menotti del
Picchia e Victor Brecheret.
Leia a seguir trechos da sua
entrevista à Folha.
(AM)
Folha - Você já tem um
trabalho sobre Tarsila...
Rodolfo Nanni - Um documentário curto de 94, com
material de arquivo, que utiliza 13 quadros da pintora
que estão no palácio estadual de Campos do Jordão.
Essas telas ficavam reunidas
numa sala, porém, a primeira-dama pediu a vários decoradores que "assinassem"
espaços do palácio.
Eles fizeram coisas medonhas e desmembraram a coleção de Tarsila, tratando as
telas como peças decorativas
ou cópias sem valor. O governador Mário Covas deveria ver isso com carinho.
Folha - Como está o levantamento da produção
de "Tarsila"?
Nanni - Ainda não temos
nada concreto. Ao contrário
do que o público pensa, essa
é uma das piores fases do cinema brasileiro, quase tão
ruim quanto na "era Collor".
Tudo ficou ainda pior depois que a revista "Veja" publicou reportagem sobre diretores que dilapidam patrocínios ou não são capazes de
administrá-los. Apesar do
respeito que tenho por "Veja", essa reportagem representou um desserviço para o
cinema brasileiro, na medida em que afugentou totalmente os investidores. Há
produtores sérios e administrativamente capazes.
Folha - Quais seriam as
soluções?
Nanni - No caso do Estado,
sinto falta de um apoio efetivo, porém não paternalista,
para que cineastas possam
ao menos iniciar produções.
No caso das empresas, inclusive as multinacionais,
que ajudam a desenvolver o
país, acho que é dever delas
ajudar a resgatar a memória
cultural da nação onde fazem negócios. O modo criativo como realizamos nossa
mistura racial é um exemplo
para o mundo inteiro.
Isso aparece na obra de
Tarsila e deveria ser amplamente divulgado. No exterior, se conhecem daqui apenas as coisas menos importantes e desagradáveis.
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