São Paulo, Sábado, 28 de Agosto de 1999
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Diretor criou curso de cinema

especial para a Folha


O veterano diretor Rodolfo Nanni tem poucos e sólidos filmes realizados. É o autor de um dos primeiros infanto-juvenis brasileiros, "O Saci" (1954), baseado em Monteiro Lobato. Após vários documentários, seu segunda longa de ficção foi "Cordélia Cordélia" (1971), adaptação da peça de Antônio Bivar, com a inesquecível Lilian Lemmertz, ganhadora do prêmio Coruja de Ouro pelo papel-título. Ambos os filmes são exibidos pelo Canal Brasil (Globosat).
Nanni dedica-se ao ensino desde 1969, quando criou o curso de cinema da Faap (Faculdade Armando Álvares Penteado), em São Paulo, onde ministra aulas de direção. Estudante de pintura em Paris nos anos 40, abandonou ateliês para cursar cinema no IDHEC.
Em São Paulo, conversou com sua musa Tarsila e conheceu os modernistas Mário de Andrade, Menotti del Picchia e Victor Brecheret. Leia a seguir trechos da sua entrevista à Folha. (AM)

Folha - Você já tem um trabalho sobre Tarsila...
Rodolfo Nanni -
Um documentário curto de 94, com material de arquivo, que utiliza 13 quadros da pintora que estão no palácio estadual de Campos do Jordão. Essas telas ficavam reunidas numa sala, porém, a primeira-dama pediu a vários decoradores que "assinassem" espaços do palácio.
Eles fizeram coisas medonhas e desmembraram a coleção de Tarsila, tratando as telas como peças decorativas ou cópias sem valor. O governador Mário Covas deveria ver isso com carinho.

Folha - Como está o levantamento da produção de "Tarsila"?
Nanni -
Ainda não temos nada concreto. Ao contrário do que o público pensa, essa é uma das piores fases do cinema brasileiro, quase tão ruim quanto na "era Collor".
Tudo ficou ainda pior depois que a revista "Veja" publicou reportagem sobre diretores que dilapidam patrocínios ou não são capazes de administrá-los. Apesar do respeito que tenho por "Veja", essa reportagem representou um desserviço para o cinema brasileiro, na medida em que afugentou totalmente os investidores. Há produtores sérios e administrativamente capazes.

Folha - Quais seriam as soluções?
Nanni -
No caso do Estado, sinto falta de um apoio efetivo, porém não paternalista, para que cineastas possam ao menos iniciar produções.
No caso das empresas, inclusive as multinacionais, que ajudam a desenvolver o país, acho que é dever delas ajudar a resgatar a memória cultural da nação onde fazem negócios. O modo criativo como realizamos nossa mistura racial é um exemplo para o mundo inteiro.
Isso aparece na obra de Tarsila e deveria ser amplamente divulgado. No exterior, se conhecem daqui apenas as coisas menos importantes e desagradáveis.


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