São Paulo, Sábado, 28 de Agosto de 1999
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CINEMA
Atriz deve interpretar a pintora paulista em cinebiografia ainda sem financiamento definido
Bete Coelho começa a encarar Tarsila

Éder Chiodetto/Folha Imagem
A atriz Bete Coelho maquiada e penteada por Duda Molinos para se assemelhar a auto-retrato da modernista Tarsila do Amaral


ALVARO MACHADO
especial para a Folha


As mais importantes "pintoras nacionais" da América Latina estão para ganhar sobrevida.
Se Hollywood vê a sereia mexicana Salma Hayek interpretar, ainda este ano, a primeira cinebiografia de Frida Kahlo, a mais conhecida artista do México, o diretor paulista Rodolfo Nanni tem o "sim" da atriz Bete Coelho para viver no cinema a vida e obra de Tarsila do Amaral (1886-1973), a pintora do "Abaporu", emblema do movimento antropofágico brasileiro.
Há algum tempo, Bete chegou a ser convidada por norte-americanos para fazer teste de interpretação para Kahlo, papel que a megastar Madonna planeja há cinco anos para si.
"Até esqueci de responder, tenho outros interesses", diz Bete. Porém a atriz, que em 98 arrebatou público e crítica no papel de outro ícone da cultura brasileira, Cacilda Becker, aceitou ler o roteiro intitulado "Tarsila, O Olho Antropofágico", escrito por Nanni em parceria com a cineasta francesa Karine Douplitzky.
As sugestões de cenas agradaram à intérprete: "Com exceção de um curta, minhas experiências com o cinema foram muito chatas, quase tão mecânicas quanto fazer novela, porém acho esse projeto muito sério e o Rodolfo tem me cercado de atenções e de informações sobre Tarsila. Se eu fizer, será diferente do habitual, em que o ator chega na última hora para seguir marcações e rodar", diz Bete.
"Talvez seja como em "Cacilda!", quando me cerquei de dados e toques sutis de Zé Celso (Martinez Corrêa). Preciso fazer dessa figura real uma personagem de ficção, para que não fique muito superior a mim. É pena que o cinema não funcione com núcleos que possibilitem a pesquisa do ator, como acontece, por exemplo, com o CPT (Centro de Pesquisa Teatral, do Sesc) de Antunes Filho", lamenta.
De fato, Rodolfo Nanni espera da atriz, que nos últimos tempos enveredou pela direção teatral, colaborações em falas e situações. No entanto, para que tudo isso aconteça, "Tarsila" necessita ainda de financiamento. Inscrita na Lei do Audiovisual e em vias de receber selo de qualidade francês do Centre National de Cinématographie, a produção, orçada em R$ 5 milhões, ainda não tem patrocínios.
A idéia é procurar também capital francês, em vista das ligações da artista e de seu segundo marido, Oswald de Andrade, com personalidades da cultura francesa dos anos 20 e 30, entre elas o pintor Fernand Léger e o escritor Blaise Cendrars. Nanni imagina que, nas locações parisienses do filme, parte dos diálogos poderá ser interpretada em francês.
Em Paris, o diretor já assinou contrato com uma co-produtora (Mondial Filmes) e financiamentos são procurados até mesmo pela roteirista Douplitzky, que em julho último refez o script ao lado de Nanni.
"Eu sempre me considerei um feminista e acho a Tarsila revolucionária, tanto em pintura como em sua conduta social, mas Douplitzky conferiu um olhar feminino à trama", afirma o diretor e co-roteirista.
Na versão da dupla, a biografia da pintora respira certo ar de realização pessoal: "Ela era rica, bonita e talentosa, três coisas que raramente andam juntas, e viveu um período de muita felicidade pessoal, seja nos romances e amizades, seja na carreira", diz Nanni. Os fatos trágicos não são omitidos, mas mostram-se bem superados pela força de vontade da artista: o primeiro casamento, à força, o crack de 1929 e a prisão como comunista, em 1932.
O filme terá direito até mesmo a final feliz, com o flerte da pintora com o escritor e crítico de arte Luís Martins, que se tornou seu terceiro marido.
"Na verdade, o filme falará sobretudo da evolução de sua pintura, de uma obra original e eminentemente brasileira, pouco conhecida mesmo entre nós", afirma Nanni.


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