São Paulo, sexta-feira, 28 de setembro de 2001

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CRÍTICA

Buddy Bradley é odioso e irresistível

DA REDAÇÃO

Ele bebe o tempo todo, fuma como um desgraçado e não tem um pingo de sensibilidade com as mulheres. Sua família deu graças a Deus desde que resolveu sair para sempre de casa, os vizinhos que o digam.
Buddy Bradley, o protagonista de "Ódio", é como aquele convidado indesejado que chega em sua casa, acende um cigarro, mete os pés no sofá e, se você reclama, começa a fazer discursos interminávies sobre as suas manias pequeno-burguesas.
Comunista? Que nada. Quando recebe os amigos em casa, sempre oferece a pior cerveja e, sem a menor cerimônia, abre uma daquelas long-neck importadas na sua frente justificando que tem um "gosto apurado".
Aos 20 anos de idade, é daqueles que nunca compraram uma cueca por conta própria. Lavá-las, então... ah, não importa. Afinal, nos quadrinhos, elas são feitas de papel, não é isso? Mesmo quando vai a festas, nunca abandona seu jeans surrado e sua camiseta de flanela por fora da calça.
Raramente tem dinheiro no bolso e, se tiver, gasta tudo em gibis velhos e uísque importado (mais uma de suas necessidades "apuradas"). A grana é juntada em meio a bicos que faz trabalhando em sebos e livrarias da cidade -lá, ele aproveita para sorrateiramente "tomar emprestados" alguns títulos sem que o dono dos estabelecimentos perceba.
Seu gosto musical inclui Johnny Otis, Floyd Kramer e outras coisas da qual nunca ninguém ouviu falar. Rock, com exceção de Alice Cooper, resume-se em duas categorias distintas: um bando de jovens arrogantes ou meia dúzia de velhos, todos uns patéticos.
Ainda que viva trocando farpas (ou tapas, tanto faz) com seu amigo Futum, sua ex, Lisa, e sua atual namorada, Valerie, Buddy costuma ter a "educação" de, no final, reconhecer: "Você não é de todo ruim". Val, por sua vez, também cede: "Ele pode ser grosseirão, mas, pelo menos, não esconde o que está pensando".
Buddy, segundo seu próprio criador, é Bagge, há 10, 20 anos atrás. Chauvinista, prepotente, grosseiro, teimoso, egoísta, hipócrita, racista, arrogante e desprezível. Depois de todas essas "qualidades", acho difícil que você não esteja tentado a correr para uma livraria e descobrir por que tanta gente ainda "adora" o odioso Buddy. (DIEGO ASSIS)


Ódio
    
Autor: Peter Bagge
Editora: Via Lettera
Quanto: R$ 20, em média (118 págs.)





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