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CRÍTICA
Buddy Bradley é odioso e irresistível
DA REDAÇÃO
Ele bebe o tempo todo, fuma
como um desgraçado e não
tem um pingo de sensibilidade
com as mulheres. Sua família deu
graças a Deus desde que resolveu
sair para sempre de casa, os vizinhos que o digam.
Buddy Bradley, o protagonista
de "Ódio", é como aquele convidado indesejado que chega em
sua casa, acende um cigarro, mete
os pés no sofá e, se você reclama,
começa a fazer discursos interminávies sobre as suas manias pequeno-burguesas.
Comunista? Que nada. Quando
recebe os amigos em casa, sempre
oferece a pior cerveja e, sem a menor cerimônia, abre uma daquelas long-neck importadas na sua
frente justificando que tem um
"gosto apurado".
Aos 20 anos de idade, é daqueles
que nunca compraram uma cueca por conta própria. Lavá-las, então... ah, não importa. Afinal, nos
quadrinhos, elas são feitas de papel, não é isso? Mesmo quando
vai a festas, nunca abandona seu
jeans surrado e sua camiseta de
flanela por fora da calça.
Raramente tem dinheiro no
bolso e, se tiver, gasta tudo em gibis velhos e uísque importado
(mais uma de suas necessidades
"apuradas"). A grana é juntada
em meio a bicos que faz trabalhando em sebos e livrarias da cidade -lá, ele aproveita para sorrateiramente "tomar emprestados" alguns títulos sem que o dono dos estabelecimentos perceba.
Seu gosto musical inclui Johnny
Otis, Floyd Kramer e outras coisas
da qual nunca ninguém ouviu falar. Rock, com exceção de Alice
Cooper, resume-se em duas categorias distintas: um bando de jovens arrogantes ou meia dúzia de
velhos, todos uns patéticos.
Ainda que viva trocando farpas
(ou tapas, tanto faz) com seu amigo Futum, sua ex, Lisa, e sua atual
namorada, Valerie, Buddy costuma ter a "educação" de, no final,
reconhecer: "Você não é de todo
ruim". Val, por sua vez, também
cede: "Ele pode ser grosseirão,
mas, pelo menos, não esconde o
que está pensando".
Buddy, segundo seu próprio
criador, é Bagge, há 10, 20 anos
atrás. Chauvinista, prepotente,
grosseiro, teimoso, egoísta, hipócrita, racista, arrogante e desprezível. Depois de todas essas "qualidades", acho difícil que você não
esteja tentado a correr para uma
livraria e descobrir por que tanta
gente ainda "adora" o odioso
Buddy.
(DIEGO ASSIS)
Ódio
Autor: Peter Bagge
Editora: Via Lettera
Quanto: R$ 20, em média (118 págs.)
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