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O norte-americano Peter Bagge explica à Folha por que se tornou -sem querer- a "voz da geração grunge"
"Ódio" a nanquim
DIEGO ASSIS
DA REDAÇÃO
Um ano antes que os acordes de
"Smells Like Teen Spirit" invadissem as FMs, em setembro de 1991,
a revista "Ódio" (do inglês, "Hate") já exportava a rotina pacata,
esfumaçada e ao mesmo tempo
musicalmente agitada que serviria de palco para a explosão das
bandas grunge de Seattle.
Aproveitando-se de suas próprias experiências, o quadrinista
Peter Bagge criou o título pensando em Buddy Bradley. O personagem já havia aparecido nas páginas da revista "Neat Stuff", editada pela Fantagraphics, como o filho do meio de uma família suburbana de Nova Jersey. Mas foi
sua mudança para Seattle (nos
anos 80, Bagge fez o mesmo), habitat natural da galeria de freaks,
bêbados e garotas histéricas que
povoam as histórias de "Ódio",
que transformou a revista em sucesso de vendas.
"Eu tive experiências assim no
passado. Felizmente, para mim,
um passado bem distante", afirma Bagge, que hoje, aos 43 anos, é
casado, tem uma filha na pré-adolescência e voltou a viver num
bairro calmo de Nova Jersey.
Folha - Quem é o Buddy?
Peter Bagge - Ele é basicamente
um cara esperto, decente, mas
também muito cínico e com uma
pose de mau. Eu diria que ele próprio é o seu pior inimigo.
Folha - Você morava em Seattle,
quando começou a escrever
"Ódio". Como foi a recepção dos
adolescentes ao título?
Bagge - No início, estava apenas
escrevendo sobre meu próprio
passado (eu já tinha 30 anos) e esperava que os jovens de 20 e poucos anos se identificassem com
ele. Foi baseado em Seattle só porque eu morava lá. E aconteceu de,
alguns anos depois, a cidade ganhar fama de a capital "grunge",
"largadona" do universo.
Folha - Nirvana, Screaming Trees,
Love Battery, Tad, Mudhoney...
Bagge - Eu não era um grande fã
da música deles. Tinha presenciado um fenômeno similar 10, 15
anos atrás quando morava em
Nova York e a cena punk/new wave começou a decolar. Então, foi
como um déjà vu ver tudo acontecer de novo em Seattle.
Folha - Você fez capas de disco
para artistas da Sub Pop (Tad) e de
outros selos independentes (Girl
Trouble, Auction Suits etc.).
Bagge - Pois é, mas, em geral, as
bandas não estavam nem aí para
quem desenhava suas capas. O
único contato que tinha com elas
era através do Bruce Pavitt, da
Sub Pop, que me chamou para
desenhar capas e pôsteres.
Folha - Que influência artistas como Robert Crumb e os irmãos Gilbert e Jaime Hernandez (de "Love
& Rockets") têm sobre as suas HQs?
Bagge - Nos anos 80, fui o editor
de uma revista de antologias iniciada pelo Crumb chamada
"Weirdo". Ele é o meu artista favorito e foi ótimo trabalhar com
(ou para) ele. Dos Hernandez, só
trabalhei com o Gilbert num título chamado "Yeah!" [Bagge se
inspirou nas Spice Girls para escrever o argumento, alegando que
seria algo que "sua filha ia gostar".
Ele insiste em dizer o mesmo sobre a cantora Britney Spears" publicado pela DC Comics. Um fracasso que só durou nove edições.
Mesmo assim, sempre admirei o
trabalho deles desde que li o primeiro "Love & Rockets".
Folha - Você ainda sente prazer
em fazer quadrinhos?
Bagge - Bem, é a única coisa que
eu posso fazer para pagar as minhas contas. Isso às vezes é frustrante, sinto-me empacado ou
preso aos quadrinhos. Mas ainda
gosto de fazê-los. É melhor do que
ficar preso em um emprego chato
de escritório.
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