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CRÍTICA
Trio dança e chora ao som de "Hoje" e ontem
DA SUCURSAL DO RIO
É natural que o trabalho
novo de um grupo seja comparado com os anteriores.
Mas isso faz sentido quando
se trata de Paralamas do Sucesso? Ouvindo-se "Hoje", a
resposta é sim e não.
É negativa porque seria
um misto de crueldade e
burrice pensar a história da
banda como uma linha reta,
subestimando o acidente sofrido por Herbert Vianna em
2001. Há boas letras e melodias em "Hoje", mas é obviamente outro, física e emocionalmente, o Herbert de
agora, e também Bi Ribeiro e
João Barone. É melhor atender ao título e ouvir "Hoje"
como um CD só de hoje.
Mas, por outro lado, a vitalidade das músicas e dos arranjos somada ao tom confessional das letras remete ao
Paralamas de sempre. Lembra, especialmente, "Bora
Bora", em que um dilacerado Herbert se decompunha
amparado por uma poderosa parede de metais. A tristeza dança em "Hoje".
Nas três primeiras faixas,
dança-se mais do que chora-se, mas há lampejos de dor
na letra de Nando Reis para
"Pétalas" e nas mui balançantes "2 A" e "Na Pista", só
de Herbert. Sem que as melodias percam o peso, as
sombras vão tomando conta
do CD a partir de "Soledad
Cidadão", em que o desconforto afetivo e social é reforçado por Manu Chao e sua
incidental "Me Llaman Calle". A faixa seguinte, "Passo
Lento", também mescla insegurança privada e pública.
O desconforto com o mundo é explícito em "Fora do
Lugar". O segmento se fecha
com a boa releitura de "Deus
lhe Pague", em que o Brasil
imutável se espelha nos versos de Chico Buarque.
Das "confessionais", destaque para as baladas-rock
"De Perto" e "Hoje" e para o
rock pesado "Ponto de Vista". Herbert se despe nos
versos. É a receita do Paralamas de sempre temperada
com as palavras e as emoções dos Paralamas de hoje.
(LFV)
Hoje
Artista: Paralamas do Sucesso
Gravadora: EMI
Quanto: R$ 27, em média
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