São Paulo, quinta-feira, 28 de setembro de 2006

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Itamar Assumpção é cantado por discípulos

Dois shows no Sesc Pompéia homenageiam o músico da vanguarda paulistana

Morto em 2003, compositor vem sendo redescoberto e assume lugar no panteão da música brasileira; Arrigo Barnabé relembra o amigo


RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Se você traçar uma linha reta numa folha de papel e começar a anotar ali, cronologicamente, os principais nomes da história da música brasileira, o que vai escrever quando chegarmos no começo da década de 80? Provavelmente a maioria das pessoas vai continuar escrevendo os mesmos nomes de dez, 15, 20 anos antes, mas talvez alguns mais ligados se lembrem da chamada Vanguarda Paulistana e de nomes como Rumo, Arrigo Barnabé e Itamar Assumpção.
Cultuado, pop e ainda visto por alguns sob o rótulo preconceituoso de maldito, Itamar Assumpção era uma daquelas forças naturais da música brasileira. Morto em 2003, Itamar vem desde então sendo sistematicamente redescoberto e assumindo seu lugar no panteão da MPB, ainda que, como em vida, sempre correndo às margens.
Recente homenagem organizada pela filha, Anelis, também cantora, atualmente na banda DonaZica, resultou em exposição e songbooks com partituras de sua obra. Agora, o mesmo impulso resulta em dois dias de shows no Sesc Pompéia, com participação de discípulos, ex-colaboradores e amigos.
Entre amanhã e sábado, subirão ao palco do teatro do Sesc Pompéia músicos como Zélia Duncan, Ná Ozzetti, Naná Vasconcellos e Bocato, entre muitos outros, para prestar homenagem a Itamar no mês em que o compositor completaria 56 anos. Arrigo Barnabé, nos dois dias, será o mestre-de-cerimônias da festa, explicando os detalhes biográficos e lembrando histórias do amigo falecido. Por trás do evento, e por trás de todas as formas de homenagear Itamar, há sempre a mesma intenção: mostrar como sua obra era rica e tentar apagar de vez a incômoda fama de músico "difícil".
"A música dele não é difícil, de jeito nenhum", explica Arrigo. "É uma música essencialmente pop. E digo mais, é um pop popular. Só que sem concessões. Uma coisa é você fazer música popular com pretensões de ser arte. Outra é você fazer música popular que é arte, e é isso que Itamar fazia."
Anelis Assumpção faz coro. "A música dele é ótima de ser ouvida, não tem nada de difícil", comenta. "Pra você ter uma idéia, me lembro que todas as vezes que ele estava numa passagem de som, ao afinar o violão, ele tocava "Sampa". Dizia que aquela era a harmonia mais perfeita que ele já tinha visto e que iria perceber o violão afinado. E completou: "Dizem que minha música é difícil, difícil é "Sampa'!'"
Anelis continua: "Fico ofendida quando dizem que Itamar foi um músico desperdiçado, que deveria ter feito mais sucesso. Isso não é verdade, ele sempre se colocou como quis. Se a música dele não tocou na novela, se ele não lançou um disco por grande gravadora, se não compôs com os Titãs, foi porque ele não aceitou nada disso. Acho que esse é o grande legado dele, a coragem de ser independente".


ITAMAR ASSUMPÇÃO - POR QUE NÃO PENSEI NISSO ANTES
Quando:
amanhã e sábado, às 21h
Onde: teatro do Sesc Pompéia (r. Clélia, 93, Lapa, tel. 0/xx/11/3871-7700)
Quanto: de R$ 10 a R$ 25


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