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Itamar Assumpção é cantado por discípulos
Dois shows no Sesc Pompéia homenageiam o músico da vanguarda paulistana
Morto em 2003, compositor vem sendo redescoberto e assume lugar no panteão da música brasileira; Arrigo Barnabé relembra o amigo
RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Se você traçar uma linha reta
numa folha de papel e começar
a anotar ali, cronologicamente,
os principais nomes da história
da música brasileira, o que vai
escrever quando chegarmos no
começo da década de 80? Provavelmente a maioria das pessoas vai continuar escrevendo
os mesmos nomes de dez, 15,
20 anos antes, mas talvez alguns mais ligados se lembrem
da chamada Vanguarda Paulistana e de nomes como Rumo,
Arrigo Barnabé e Itamar Assumpção.
Cultuado, pop e ainda visto
por alguns sob o rótulo preconceituoso de maldito, Itamar Assumpção era uma daquelas forças naturais da música brasileira. Morto em 2003, Itamar vem
desde então sendo sistematicamente redescoberto e assumindo seu lugar no panteão da
MPB, ainda que, como em vida,
sempre correndo às margens.
Recente homenagem organizada pela filha, Anelis, também
cantora, atualmente na banda
DonaZica, resultou em exposição e songbooks com partituras
de sua obra. Agora, o mesmo
impulso resulta em dois dias de
shows no Sesc Pompéia, com
participação de discípulos, ex-colaboradores e amigos.
Entre amanhã e sábado, subirão ao palco do teatro do Sesc
Pompéia músicos como Zélia
Duncan, Ná Ozzetti, Naná Vasconcellos e Bocato, entre muitos outros, para prestar homenagem a Itamar no mês em que
o compositor completaria 56
anos. Arrigo Barnabé, nos dois
dias, será o mestre-de-cerimônias da festa, explicando os detalhes biográficos e lembrando
histórias do amigo falecido. Por
trás do evento, e por trás de todas as formas de homenagear
Itamar, há sempre a mesma intenção: mostrar como sua obra
era rica e tentar apagar de vez a
incômoda fama de músico "difícil".
"A música dele não é difícil,
de jeito nenhum", explica Arrigo. "É uma música essencialmente pop. E digo mais, é um
pop popular. Só que sem concessões. Uma coisa é você fazer
música popular com pretensões de ser arte. Outra é você fazer música popular que é arte, e
é isso que Itamar fazia."
Anelis Assumpção faz coro.
"A música dele é ótima de ser
ouvida, não tem nada de difícil", comenta. "Pra você ter
uma idéia, me lembro que todas as vezes que ele estava numa passagem de som, ao afinar
o violão, ele tocava "Sampa". Dizia que aquela era a harmonia
mais perfeita que ele já tinha
visto e que iria perceber o violão afinado. E completou: "Dizem que minha música é difícil,
difícil é "Sampa'!'"
Anelis continua: "Fico ofendida quando dizem que Itamar
foi um músico desperdiçado,
que deveria ter feito mais sucesso. Isso não é verdade, ele
sempre se colocou como quis.
Se a música dele não tocou na
novela, se ele não lançou um
disco por grande gravadora, se
não compôs com os Titãs, foi
porque ele não aceitou nada
disso. Acho que esse é o grande
legado dele, a coragem de ser
independente".
ITAMAR ASSUMPÇÃO - POR QUE NÃO PENSEI NISSO ANTES
Quando: amanhã e sábado, às 21h
Onde: teatro do Sesc Pompéia (r. Clélia, 93, Lapa, tel. 0/xx/11/3871-7700)
Quanto: de R$ 10 a R$ 25
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