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Comida
Com garfo ou hashi?
Chefs intercalam pratos franceses e japoneses no mesmo menu; a convite
da Folha, uma japonesa e um francês testaram a combinação servida no Eau
JANAINA FIDALGO
DA REPORTAGEM LOCAL
Você senta e o garçom traz o
primeiro prato: vieiras frescas
cobertas por caviar defumado.
Hummm... comida japonesa, é
claro. Mas cadê o hashi? Você
olha ao lado, e nada. Nem sinal
dos pauzinhos. Apenas uma colher bojuda reluz sobre a mesa.
Colher para quê? O garçom volta com uma jarrinha, e o talher
começa a fazer sentido quando
ele verte um caldo quente na
vasilha onde estão as vieiras.
Minutos mais tarde, e alguns
pratos depois, lá vem o garçom
de novo. Traz um filé de cordeiro, levemente selado. O primeiro impulso é tomar o garfo e a
faca para cortar aquela carne
praticamente crua. Mas agora,
além dos talheres, o hashi também está ali. Não à toa: trata-se
de um sushi de carne.
Usar garfo ou hashi é apenas
a ponta de uma dúvida ainda
maior alimentada ao longo da
refeição: os pratos trazidos à
mesa são japoneses ou franceses? Os dois, mas intercalados.
Tudo não passa de uma adaptação, em maior escala, de uma
brincadeira que os chefs Pascal
Valero e Adriano Kanashiro
vêm fazendo há algum tempo
com os clientes de seus restaurantes, o Eau e o Kinu, respectivamente, ambos instalados no
hotel Grand Hyatt São Paulo.
"Para sair um pouco da rotina, comecei a colocar um prato
meu no menu-degustação do
Adriano, e ele no meu", conta
Valero. "Era muito bom porque
os clientes não estavam esperando aquela surpresa. Começamos com essas brincadeiras e
no mês passado decidimos fazer o festival", diz Kanashiro.
Nos dias 4 e 5 de outubro os
chefs servirão um menu, convenientemente chamado de
Paris-Tóquio, no qual intercalam criações francesas e japonesas em jantares no Eau.
"Acho que será bem divertido, apesar de não misturarmos
o meu prato com o dele. Cada
um segue sua linha de trabalho.
A minha é contemporânea, e o
Pascal está fazendo uma cozinha contemporânea também",
diz o chef do Kinu.
O menu tem seis pratos e
duas sobremesas que, pela aparência, podem criar dúvida
quanto à autoria. "Eu não uso
nenhum ingrediente japonês,
mas, quando o prato chegar, você vai ficar em dúvida se é meu
ou do Adriano", diz Valero.
"Test-eat"
Mas a mistura de pratos franceses e japoneses no mesmo
jantar dá certo? Para testar a
proposta, a Folha convidou um
representante de cada país: a
japonesa Kyoko Tsukamoto,
51, administradora da Fazenda
Tozan, e o francês Hugue
Labyt, 41, adido-adjunto de imprensa do Consulado Geral da
França em São Paulo.
Antes de provarem os pratos,
os dois tinham opiniões opostas sobre a combinação. "Acho
meio ousado. Pelo que conheço
das duas cozinhas, a priori são
bem diferentes. É difícil comer
pratos das duas na mesma refeição, mas vamos ver", disse
Labyt. Tsukamoto se mostrou
mais otimista: "Qualquer comida pode ser combinada. E as
culinárias francesa e japonesa
parecem bem diferentes, mas
têm semelhanças sutis".
Eis que os chefs chegam para
explicar a proposta antes de levá-la à prática, e Kanashiro dá
seu parecer: "São duas cozinhas que têm uma aproximação grande pelo refinamento e
pela apresentação dos pratos.
Combinam-se pela maneira de
tratar os elementos e pela técnica, ambas muito apuradas e
bem diferentes".
Seis pratos e duas sobremesas mais tarde, a opinião de
Labyt muda e a de Tsukamoto
se confirma. "Como o Adriano
disse no início, não é uma comida tradicional japonesa. É
contemporânea, adaptada, por
isso fica fácil o casamento", diz
ela. "Foi por isso que eu disse
no começo que tinha dúvidas
se isso ia funcionar. Agora vi
que funciona", conclui Labyt.
PARIS-TÓQUIO
Onde: Eau (av. das Nações Unidas,
13.301, tel. 0/xx/11/6838-3207)
Quando: qua. e qui. (dias 4 e 5/10), no
jantar
Quanto: R$ 145 (não inclui bebidas)
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